Cultura

Programa Bem Viver discute impactos da falta de editais para cinema independente

Cineasta afirma que no governo de Bolsonaro fomento para audiovisual foi congelado e pautado por viés ideológico

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Cineasta pede que políticas de fomento ao audivisual sejam mais transparentes
Cineasta pede que políticas de fomento ao audivisual sejam mais transparentes - Divulgação/Festival Goiamum
O cinema tem sido cada vez mais uma linguagem apropriada por movimentos populares

A cineasta Camila Freitas, que documentou o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff na produção “Excelentíssimos”, afirma que durante o governo do presidente Jair Bolsonaro linhas de fomento para o audiovisual foram congeladas e que projetos passaram a ser avaliados por vieses ideológicos. Para ela é urgente reverter o desmonte dos programas de incentivo às produções independentes.

“Isso é um grande entrave para o audiovisual. A gente continua resistindo porque o cinema brasileiro ganhou fôlego nos anos 2000 e 2010, mas é urgente que políticas de fomento voltem a ser mais transparentes e mais inclusivas. Nesse momento a gente praticamente não tem fomento, não tem editais, sobretudo para produções menores e menos comerciais”, disse a cineasta em entrevista à TVT transmitida na edição de hoje (26) do Programa Bem Viver.

Camila reforça que até metade da década de 2010 o país vivia um processo interessante de quebra de hegemonias e de distribuição de recursos para o audiovisual, que passaram a contemplar produtoras pequenas, em estados fora do eixo Rio-São Paulo.

Ela acaba de lançar seu novo seu novo filme, “Chão”, que estreou recentemente nas principais plataformas de streaming e foi exibido no Festival Internacional de Cinema de Berlim. O documentário retrata o dia a dia dos de uma ocupação do Movimentos dos Trabalhadores Tem Terra (MST) na Usina Santa Helena, em Goiás, registrando os valores, as vivências e a luta da comunidade por uma vida mais digna.  

“Nós queríamos trazer uma visão diferente do que se vê na mídia hegemônica, que em geral traz uma perspectiva marcada por preconceitos contra pessoas que estão na luta pela terra”, diz. “O cinema como como linguagem tem sido apropriado pelos movimentos populares. Não é mais uma coisa vertical, de dependência de um cineasta. O cinema é ferramenta de luta.”

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Contra a fome

Membros do MST de seis cidades do Paraná realizam uma grande campanha para doar alimentos para quem precisa. A expectativa é arrecadar 50 toneladas de grãos, frutas, tubérculos, legumes e verduras.

Os alimentos serão entregues, no próximo sábado para famílias de Guarapuava e Pinhão, na região centro-sul do estado do Paraná. Todas as doações foram cultivadas por assentados, acampados da reforma agrária. Pelo menos 30 comunidades participam dessa ação solidária.

Além das entregas de alimentos por movimentos sociais, que ocorrem desde o começo da pandemia, centrais sindicais organizaram hoje (26) um protesto em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, e em mais 11 capitais do país e defesa do auxílio emergencial no valor de R$ 600. O ato, batizado de 26M, tem como mote “vacina no braço e comida no prato”.

Os atos são motivados pela grave situação sanitária e nutricional do país: além de ter atingido a marca dos 450 mil mortos pela Covid-19, ao menos 19 milhões de pessoas estão em situação de fome no Brasil, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado em 2020.

O problema se agrava com o empobrecimento da população, que já lida com o desemprego e com a alta dos alimentos, somado com a falta de um auxílio emergencial que supra as necessidades básicas dos mais pobres.

Não ter a quantidade e a qualidade ideal de alimentos afeta a saúde nutricional e deixa as pessoas mais vulneráveis, pois piora quadros de hipertensão, diabetes, problemas de saúde mental e gera graves impactos no sistema imunológico. 

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Despejo forçado

Mesmo em meio ao agravamento da pandemia e a chegada de novas cepas ao Brasil, 200 famílias foram despejadas de seus lares no acampamento Bondade, em Pernambuco, na manhã de ontem (25).

A desocupação forçada foi marcada por muita violência por parte da Polícia Militar, que realizou o despejo. Segundo os ocupados, as forças policiais chegaram a lançar balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio em crianças de um helicóptero.

A polícia deteve sete pessoas, entre elas uma criança 12 anos. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) denunciou em suas redes sociais que ela foi coagida em um interrogatório e impedida de ver sua mãe antes da chegada do delegado.

Um dos acampados, que não quis se identificar, afirmou que outra criança foi alvejada por borracha e que ao menos 10 pessoas ficaram feridas. Além do helicóptero, ele relata que haviam ao menos 300 policiais na operação, que chamou de “guerra”.

As famílias tentaram resistir à invasão com uma vala de pneus mas tiveram que fugir por conta da resposta violenta. Alguns acabaram indo em direção a mata e ainda estão perdidos. Acampados afirmam que nenhum órgão oficial apresentou uma solução que garantisse uma saída digna a essas famílias.

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Edição: Sarah Fernandes