Rio Grande do Sul

Coluna

Palestina resistindo, Colômbia luchando, Chile votando

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"O campo democrático-popular e de esquerda da América Latina está de novo em ebulição" - Juan Barreto/AFP
O povo sempre resiste, exige direitos e soberania, e (re)conquista a democracia

Os tempos estão muito difíceis, no Brasil e no mundo. Talvez mais no Brasil que no mundo. Os últimos acontecimentos, junto com o crescimento, de novo, da presença da pandemia do coronavírus, possivelmente uma terceira onda à porta, mostram em situação cada vez mais grave a vida de brasileiras e brasileiros, junto com as ameaças à democracia e à soberania nacional. À vida, porque o presidente da República continua sendo um contraexemplo diário, seja por atos, seja por palavras, de como a população não deve proceder para se proteger do coronavírus.

Ameaças à democracia, por levar militares da ativa a atos públicos, contra todas as regras e regimentos que regem as Forças Armadas, e por acabar com a participação popular e com as políticas públicas construídas ao longo do tempo. E sinalizando, direta ou indiretamente, até mesmo um possível ou eventual golpe em curso, se as condições políticas assim o permitirem. E ameaças permanentes à soberania nacional, com a destruição ou entrega criminosa das riquezas nacionais como o petróleo, a água, o subsolo e a Amazônia.

É preciso, pois, estar atento e forte, como diz a famosa canção. Foram assim, e estão sendo, de atenção, fortaleza e coragem, as mobilizações desta semana em todo Brasil, com todos os cuidados sanitários. Dia 26 de maio, quarta-feira, com o mote principal VACINA NO BRAÇO, COMIDA NO PRATO. E sábado, 29, as mobilizações de massa e de rua pelo Fora Bolsonaro. 

Felizmente, o campo democrático-popular e de esquerda da América Latina está de novo em ebulição. A eleição de constituintes no Chile, 50% mulheres e forte representação indígena, para redigir uma nova Constituição, revogando definitivamente a Constituição da ditadura do General Augusto Pinochet e sua era, são marca e exemplo de um retorno, espera-se definitivo, à democracia, depois de grandes mobilizações populares e de um Plebiscito nacional.

As mobilizações de palestinas e palestinos, resistindo aos ataques israelenses e pela conquista do Estado palestino, são outro exemplo de vida e resistência, apesar do sofrimento, das mortes, inclusive de crianças.

A resistência nas ruas de colombianas e colombianos é referência de luta pelos direitos, por democracia de um povo que nunca deixou de acreditar no futuro e na esperança

E ainda há as eleições no Peru no início de junho, com sinais de que o campo popular-democrático poderá ser vitorioso.

Ou seja, a América Latina, mais uma vez, está sendo referência para o mundo, como tem sido muitas vezes ao longo da História, e especialmente nas últimas décadas, apesar dos retrocessos e golpes promovidos por suas elites historicamente antidemocráticas e antipovo. A solidariedade e a resistência internacional estão vivas, estão nas ruas, constroem o poder popular.

O povo sempre resiste, exige direitos e soberania, e, mais cedo ou mais tarde, (re)conquista a democracia.

Palestinas/os, chilenas/os, colombianas/os são exemplo e inspiração para brasileiras e brasileiros em 2021: resistência, luta, voto. Não há ditadura, aberta ou disfarçada, que dure sempre.

A direita e a elite brasileira, mais uma vez associadas às forças militares, como em 1964, apropriaram-se do poder através de um golpe e de eleições fraudadas. Ou pela não existência real de eleições, como disse Vladimir Safatle, em “Não houve eleição em 2018’ (Carta Maior, 25.05.2021): “A gente tem um processo de natureza revolucionária sendo capitaneado pela extrema-direita”. E acrescenta: “É necessário uma radicalização dos dois pólos. O pólo da extrema-direita já se radicalizou.”  E está hoje na rua, como se viu no último fim de semana no Rio de Janeiro, e como esteve quando deu o golpe de 1964, instalando uma ditadura de 21 anos, afinal derrotada pelo povo nos anos 1980.

Hoje, 2021, depois do golpe de 2016, derrubando uma presidenta legitimamente eleita, direita e elite querem de novo perpetuar-se antidemocraticamente, acabando com as conquistas populares e o poder soberano do povo, com mentiras, com usurpação do poder e da soberania popular.

As Marchas, como dizia Paulo Freire em 1997, um pouco antes de sua morte, são absolutamente necessárias, fundamentais. Só assim as elites são derrotadas. Em 2021, apesar de tudo, ESPERANÇAR. E construir o poder popular. Depois da Pedagogia do Oprimido, nos anos 1960, da Pedagogia da Indignação e da Pedagogia da Esperança nos anos 1990, é necessária, nos anos 2020, uma Pedagogia da Revolução. Com muita formação na ação, resistência ativa, e unidade e solidariedade.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko