DIPLOMACIA

Venezuela pede "coordenação mínima" entre autoridades para abrir fronteira com Brasil

Chanceler venezuelano Jorge Arreaza responde à decisão unilateral do Brasil

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Ministro Jorge Arreaza defende que sejam estabelecidos protocolos de biossegurança para reabertura total da fronteira entre Brasil e Venezuela - MPPRE

A Venezuela respondeu à decisão unilateral do Brasil de reabrir parcialmente a fronteira terrestre entre ambos países. O Ministro de Relações Exteriores Jorge Arreaza reiterou que não houve qualquer contato do Estado brasileiro com as autoridades do seu país e, que portanto, exigem negociações para agir com reciprocidade e abrir a passagem fronteiriça do lado venezuelano. 

"A única coisa que pedimos à Colômbia e ao Brasil é uma coordenação mínima. Não se trata de abrir a fronteira por abrir, depois de mais de um ano fechada. Queremos estabelecer uma abertura paulatina, por setores, com um protocolo de biossegurança", afirmou Arreaza.

Há uma semana, o Ministério da Casa Civil publicou a portaria 655, que autoriza o ingresso diário de 50 venezuelanos por terra. 

As fronteiras entre os dois países estão fechadas desde 18 de março de 2020. O Brasil foi o primeiro a anunciar o fechamento como medida de "prevenção aos contágios de covid-19". Em resposta, a Venezuela fez o mesmo logo em seguida.

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Ainda que a nova medida seja apenas uma flexibilização e, para efeitos legais, a fronteira permaneça oficialmente fechada, na prática já é permitido o trânsito limitado de mercadorias para ambos países. E agora a entrada diária de venezuelanos ao território brasileiro.

A Casa Civil não consultou a missão diplomática oficial da Venezuela em Brasília, tampouco o Ministério de Relações Exteriores, a cargo de Arreaza.

"Sabemos que não contamos com o Itamaraty. Parece mentira, o governo federal brasileiro assume quase uma posição primitiva. Pelo menos com o governador de Roraima, com as forças armadas e a polícia devemos coordenar para que essa abertura, quando acontecer, seja da melhor maneira", defendeu o chanceler venezuelano.

Diplomacia entre povos 

Em janeiro deste ano, quando o estado do Amazonas viveu uma crise de desabastecimento de oxigênio, a Venezuela foi o único país a oferecer ajuda, enviando mais de 130 mil litros de oxigênio com caminhões próprios a cidade de Manaus.

A doação dos venezuelanos foi acordada com o governo amazonense, já que o governo federal se nega a dialogar com a Venezuela e sequer agradeceu o gesto. 

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Diante da situação de permanente hostilidade, o Executivo bolivariano insiste que busca fortalecer uma diplomacia entre os povos para desenvolver as economias dos dois países. 

"Vamos buscar essa cooperação entre classes do Brasil e da Venezuela e que os trabalhadores de ambos países se conheçam, trabalhem juntos e que possamos desenvolver um grande polo como o comandante Chávez e o presidente Lula já haviam diagnosticado. Uma união do Norte e do Nordeste brasileiro com o sul do estado Bolívar", destacou o ministro Arreaza.

Nesse sentido, a Central Única de Trabalhdores (CUT) lançou uma campanha de solidariedade para arrecadar fundos a fim de restaurar a estrutura da Sierúrgica do Orinoco (Sidor), fábrica que produziu o oxigênio hospitalar enviado para Manaus. 

Por conta do bloqueio econômico, que gera dificuldades para adquirir peças importadas, a usina funciona com de metade da sua capacidade.

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"Temos um polo de desenvolvimento industrial imenso no estado Bolívar e o Brasil também tem um polo de manufaturas em cidades como Manaus e poderíamos complementar nossa economia", defende Arreaza.

Relação Brasil - Venezuela

Segundo dados do Ministério de Indústria e Comércio, em 2018, o Brasil exportou US$ 576,9 milhões em produtos para a Venezuela. O superávit no mesmo ano foi de US$ 406 milhões na balança comercial a favor do Brasil.

Outro aspecto da relação entre os dois países é a questão energética. Cerca de 80% do estado de Roraima é abastecido pelo sistema de eletricidade venezuelano e foi afetado pelos apagões que assolaram o país, durante o mês de março de 2019.

Cinco usinas termelétricas foram acionadas para garantir o abastecimento de energia elétrica em Roraima, depois de a Venezuela ter interrompido o fornecimento de energia ao estado. Aproximadamente 1 milhão de litros de óleo diesel são gastos por dia para manter o fornecimento no estado.

Em 2019, a fronteira esteve fechada por 75 dias, o que representou um prejuízo estimado em  US$ 54,8 milhões para o Brasil.

Edição: Rebeca Cavalcante