Ceará

Coluna

O drama do Afeganistão e a guerra ao terror

Imagem de perfil do Colunistaesd
As grandes lições desse acontecimento passam longe dos principais debates e análises na TV e na internet, como a falência da chamada guerra ao terror e a sanha imperialista norte-americana. - Unama/ Fardin Waezi
É ridícula a cobertura da grande imprensa brasileira sobre a situação que passa o Afeganistão.

É ridícula a cobertura da grande imprensa brasileira sobre a situação dramática que passa o Afeganistão. A retomada do poder pelo Talibã, que se deu poucos dias depois da retirada das tropas dos Estados Unidos e seus aliados do país, após vinte anos de ocupação, tem sido noticiada de forma bastante simplória e parcial nos jornais e postagens de repórteres e comentaristas de política internacional. As grandes lições desse acontecimento passam longe dos principais debates e análises na TV e na internet, como a falência da chamada guerra ao terror e a sanha imperialista norte-americana. 

Após a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), no início dos anos 1990, os EUA necessitaram construir uma nova narrativa para justificar sua expansão bélica e sua política de intervenção militar mundo afora. A bandeira de guerra ao terror, tendo como alvos grupos islâmicos considerados extremistas, serviu na verdade como principal estratégia geopolítica dos diversos governos estadunidenses na disputa contra avanço do protagonismo da China, da Rússia e da Índia no cenário internacional. 

Além disso, tal bandeira tem sido manipulada como instrumento ideológico garantidor de uma coesão social interna entre a população dos EUA, a partir da ideia de ameaça externa aos valores que sustentam o american way of life e que devem ser defendidos, custe o que custar, pelos Estados que compõem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAM).

Pouco tem sido mencionado também o fato de o Afeganistão possuir a maior reserva de lítio da Terra, principal matéria-prima para fabricação de baterias para produtos eletrônicos como celulares e computadores. Mera coincidência? A cara de pau de setores da grande imprensa é tão grande que chegam a apontar a corrupção do governo deposto e das lideranças políticas afegãs como principal fator de desestabilização do país e pelo fracasso da “missão civilizadora” dos EUA. Haja paciência!

É óbvio que grupos como o Talibã representam leituras deturpadas do Islã, a partir dos interesses de lideranças e organizações fundamentalistas que oprimem seu próprio povo e alimentam uma visão de mundo antiocidental para conquistarem seus objetivos políticos e econômicos. Porém, a legitimidade dessas ações e discursos junto a parcelas significativas da população afegã (e de outras nações do Oriente Médio) é conquistada, justamente, a partir da postura arrogante e intervencionista dos EUA que, sob o pretexto de garantia da segurança e da democracia, constrói um planeta cada vez mais instável e aterrorizado.

Edição: Francisco Barbosa