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Crônica | Bom de bola, bom de escola!

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"No meu time tinha um tal de Lula que era o bicho, de tão bom de bola" - Foto: Ricardo Stuckert
Faltando pouco para acabar o jogo, Lula pega a bola lá atrás, dribla dois, três... golaço, mermão!

Na minha adolescência, joguei muita pelada de rua. Minha diversão predileta. A pelada de rua sempre é a mais gostosa de todas as peladas. Tem sabor especial, com uma pitada que incendeia a molecada e muito improviso.  O carro que passa na hora exata do gol. A moça que xinga, porque a bola bateu em sua cabeça e bagunçou o seu cabelo.  A vizinha chata que quer furar a bola, porque bateu em seu portão e fez o maior barulho. O carro do sargento mala da rua, que para seu fusca velho perto do gol. O ônibus da quebrada que passa bem devagar para irritar.

A pelada também é o jogo mais democrático que existe. Joga gordo, magro, alto, baixo, preto, branco, bom de bola, ruim de bola, pobre, rico. Joga todo mundo. Joga calçado. Joga descalço. Joga com o melhor tênis. Joga com Kichute. Quem estiver na rua naquele momento joga. Se estiver faltando algum amigo importante, vamos na casa de um por um chamar para começar a pelada.

É a diversão e o sorriso na cara que valem. O resto é resto.  Geralmente, são dez minutos ou dois gols. O time que fizer os dois gols em dez minutos vai ficando em campo. Para maior equilíbrio dos times, os melhores jogadores são separados, ficando em times diferentes. Além da diversão, o jogo fica mais equilibrado para todos os times, pois há sempre os mais habilidosos: os bons de bola. As traves do gol são feitas de chinelos ou pedras.

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Em nossa pelada, e, geralmente, no meu time, tinha um tal de Lula que era o bicho, de tão bom de bola. Ele gostava de jogar no time dos sem-camisas. Ele falava que os sem-camisas eram mais livres, mais alegres. E esse time do Lula foi virando o campeão das peladas nas quebradas. Todo mundo queria jogar e ganhar da gente.

Um belo dia, fomos convidados para disputar com o time da quebrada de baixo. Eles eram da escola do time do Palmito.  Ele tinha pernas brancas e bem fininhas.  Era ruim de bola, mas abria a caixa de ferramentas. Dava muita porrada. Estava valendo um troféu bem grande, um engradado de Coca-Cola, uma caixa de chup-chup e uma bola da Adidas. A rua dos caras estava lotada. Tinha gente saindo pelo ladrão. Seria uma guerra aquela pelada. Ganhar deles seria quase que impossível. Combinamos que eles jogariam de camisa. A gente, como sempre, jogaria sem camisa.

Começa o jogo. Eles fizeram um gol logo no começo. Palmito fez um gol de mão. Um gol roubado, que o juizão, com medo da torcida deles, validou.  A pressão era muito grande. Empatamos no finzinho do primeiro tempo. Os dois times estavam dando o sangue. Começa o segundo tempo. Jogo disputado. Lá e cá. Faltando pouco para acabar, Lula pega a bola lá atrás, dribla um, dois, três, joga de baixo das pernas de outro, dá um drible da vaca e um totozinho, na saída do goleiro. Um golaço, mermão!!! Uma jogada de Pelé. Uma jogada de mestre. De craque!

Houve invasão de campo e muitas ameaças. O juizão encerrou o jogo. Pegamos o troféu, o engradado de Coca-Cola, a caixa de chup-chup e a bola da Adidas, e saímos no pinote. Só paramos na rua da nossa quebrada.

No outro dia na escola, a resenha foi só sobre a pelada e a derrota do time do Palmito. A zoação foi geral!  Todo mundo ganhou chup-chup e Coca-Cola. Lula era o cara.  Além de bom de bola, o cara é bom de escola, tirou dez na prova de matemática. Quebramos muitos ovos na cabeça dele para comemorar.

Edição: Larissa Costa