Paraná

PARLAMENTAR DE LUTA

Entrevista: “Uma gestão que não dialoga com quem está na ponta”

Professora Josete (PT) analisa gestão Greca durante a pandemia, na educação e noutras áreas, apontando autoritarismo

Curitiba (PR) |
Não se investiu na formação de professores para o acesso e emprego de novas tecnologias, priorizando apenas a exigência de relatórios neste período", afirma vereadora Josete - Giorgia Prates

A vereadora Professora Josete (PT) está no quinto mandato na Câmara de vereadores de Curitiba. Professora municipal, aproxima-se sempre da pauta dos sindicatos e dos trabalhadores nos bairros. Na legislatura anterior, chegou a ser voz solitária na oposição a Greca. Hoje, conta com o apoio dos vereadores de mesmo partido, Carol Dartora e Renato Freitas, com que têm feito fortes embates, propostas e denúncias. Durante a pandemia, a constatação de Josete é de uma prefeitura sem diálogo com os trabalhadores. “Na Assistência Social, por exemplo, não se faz concurso público e há poucas assistentes sociais e educadores sociais, o que dificulta o atendimento a demandas à população”, critica, em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato Paraná.

Brasil de Fato Paraná. Nesta crise econômica, política, social e sanitária, como se dão os embates na Câmara? Quais têm sido os maiores ataques contra os trabalhadores?

Professora Josete: Os embates na atual legislatura seguem a linha do mandato anterior do prefeito Greca (DEM), uma vez que ele segue tendo ampla maioria em sua base. Os ataques se dão pela precarização de serviços públicos, a fragilização de políticas públicas e a falta de prioridades no orçamento. Em relação ao serviço público, temos as contrações de servidores de PSS e terceirizações, algo que torna as políticas vulneráveis. Na Assistência Social, por exemplo, não se faz concurso público e há poucas assistentes sociais e educadores sociais, o que dificulta o atendimento a demandas à população. Uma situação que se agravou na pandemia. Aliado a isso está a questão orçamentária, onde se priorizam interesses que não são os dos trabalhadores. O maior exemplo disso é a ausência de uma política de habitação popular, não se investe nisso. A gestão prefere priorizar em seu orçamento para subsidiar os empresários que exploram o transporte público.

A educação é um dos temas polêmicos da pandemia, pois envolve exposição de servidores, alunos, qualidade do ensino online para as periferias etc. Qual o balanço das posições da prefeitura neste período?

O balanço é de uma postura autoritária do prefeito e da secretária de Educação, uma postura de não dialogar com professoras, direções de escolas e com o sindicato. Foi apresentada uma cartilha de transição de cima para baixo, que não dialoga com a realidade das escolas. Não se investiu na formação de professores para o acesso e emprego de novas tecnologias, priorizando apenas a exigência de relatórios neste período. E por se tratar de uma cidade com grande desigualdade, o que vimos foi muitos alunos com dificuldade de aprendizagem, pois não tinham acesso a um celular, a um notebook, o que prejudicou muitas crianças. E tudo isso é resultado de uma gestão que não dialoga, que tem uma postura autoritária com quem está na ponta.

A bancada de oposição recebeu dois reforços em 2021, que são a vereadora Carol Dartora e Renato Freitas, uma vereadora negra e um vereador negro, em uma capital racista como Curitiba. O que mudou na correlação de forças na Câmara com a entrada deles?

Foi um grande avanço para uma cidade como Curitiba eleger pela primeira vez uma vereadora negra na Câmara e um vereador negro da periferia. Em relação a correlação de forças na Câmara ainda não tivemos um impacto em virtude do prefeito manter sua ampla maioria em sua base. Porém o que existe são embates quase que diários pautando questões como o racismo estrutural, a desigualdade latente da cidade e por outro lado alguns tentando recusar a existência deste racismo. Nossa bancada tem pautando um debate que antes era quase que pontual na Câmara, um debate que hoje é cotidiano no legislativo pela presença da Carol e do Renato. E isso tem incomodado muito os setores conservadores tanto dentro da Câmara – com seus representantes – como fora dela.

O grande debate da esquerda neste momento é sobre montar uma frente ampla contra Bolsonaro, compondo com setores considerados reacionários, ou uma frente de esquerda com programa antineoliberal. Qual sua posição neste debate?

Defendo uma frente de esquerda, com movimentos sociais, com sindicatos, trabalhadores e setores progressistas e que tenham em comum um programa antineoliberal, Não acredito em uma composição que tenha setores de direita, setores que participaram do golpe, como o MBL, que é nosso inimigo de classe. O golpe de 2016 demonstrou isso e as consequências deste golpe também. Não podemos esquecer que a eleição de Bolsonaro e desse projeto ultraliberal com traços fascistas teve participação destes setores.

Edição: Frédi Vasconcelos