Rio Grande do Sul

Contra a fome

Cozinha Solidária da Azenha recebe mais apoios para manutenção do seu trabalho social

Prestes a deixar o local por uma ordem judicial, Cozinha já distribuiu mais de 2.000 marmitas em menos de duas semanas

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A cada dia, cerca de 150 marmitas são entregues pela Cozinha Solidária da Azenha - Foto: Jonathan Heckler

Funcionando desde o dia 26 de setembro, a Cozinha Solidária da Azenha já distribuiu mais de 2.000 marmitas em Porto Alegre. Coordenada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a cozinha está prestes a perder seu local de atuação, por conta de uma ordem de reintegração de posse concedida nesta terça-feira (5). O movimento realizará, nesta quinta-feira (7), o Sarau de Todas as lutas, em defesa da iniciativa solidária. 

Desde que foi instalado em um prédio da União abandonado e sem uso social, o projeto vem recebendo apoio de diversos movimentos sociais, instituições, parlamentares e pessoas sem ligação com organizações. Os apoios mais recentes vieram da Frente Parlamentar em Defesa da Segurança Alimentar e Nutricional da Câmara de Vereadores de Porto Alegre e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Assim como do Pedal das Gurias de Porto Alegre, que realizará uma bicicletada nesta quinta-feira, a partir das 19 horas. 

Em sua rede social, o coletivo Pedal das Gurias destaca a importância da Cozinha, especialmente no momento pelo qual atravessa o país. “Segundo dados que correspondem ao ano de 2020, o Brasil viveu, em apenas dois anos, um aumento de 85% de brasileiros em situação de insegurança alimentar. São mais 19,1 milhões de brasileiros convivendo diariamente com a fome", aponta o coletivo. "Com a ocupação o espaço foi revitalizado, ganhou uma horta e serve em média 150 marmitas por dia. Não podemos deixar esse projeto que entrega comida e esperança parar”, defende. 

A nota de solidariedade da Frente Parlamentar em Defesa da Segurança Alimentar e Nutricional foi assinada pelas vereadoras Laura Sito (PT) e Reginete Bispo, 1º Suplente de Vereadora da Bancada. No texto, além de destacar a carestia pela qual passa o país, pontua o alto contingente de pessoas que sofrem de insegurança alimentar. Conforme apontam, 116,8 milhões de brasileiros convivem com algum grau de insegurança alimentar, número que corresponde a 55,2% dos domicílios, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Penssan.

“Dentro desse contexto iniciativas como a Cozinha Solidária da Azenha desempenham papel de suma importância no combate à fome e a miséria, a falta de políticas públicas capazes de garantir o direito básico à alimentação tem forçado a população a buscar alternativas baseadas em redes de solidariedade e apoio mútuo. Dito isto, repudiamos a decisão tomada pelos Órgãos Judiciais que autoriza a reintegração da posse do terreno, na Avenida da Azenha, 1018 – Porto Alegre/RS”, destaca a nota da Frente Parlamentar.

Assim como nas demais manifestações, o MAB também frisa a relevância do projeto. “A Cozinha Solidária da Azenha atende diariamente a centenas de pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social na capital gaúcha, oferecendo comida de qualidade a quem precisa, enquanto o Governo Federal segue com seu projeto de fome e miséria. O imóvel ocupado pertence à União e estava abandonado, sem cumprir função social e ficará novamente vazio ou será entregue à especulação imobiliária. O MAB denuncia a decisão criminosa de reintegração de posse deste espaço que cumpre uma importante função social e parabeniza a força, organização e luta do MTST, somando na mobilização em defesa da Cozinha Solidária da Azenha”, ressalta a entidade. 

Entidades enviam à juíza pedido de abstenção 

O Conselho Estadual de Direitos Humanos do Rio Grande do Sul (CEDH-RS) e o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Estado do Rio Grande do Sul (CONSEA-RS), enviaram, na tarde desta quinta-feira (7), um ofício à juíza federal Ana Maria Wickert Theisen. No documento as entidades pedem a abstenção de quaisquer medidas reintegratórias imediatas à Cozinha Solidária da Azenha enquanto o Poder Público não oferecer outro espaço para que o serviço social de grande relevância no combate à fome não seja encerrado. 

No texto destacam que a cozinha oferece cerca de 200 refeições. Destaca também que o referido imóvel ocupado pela cozinha, até sua ocupação, não estava cumprindo função social. “Pelo exposto, o CEDH-RS e o CONSEA-RS, respeitosamente, entendem como imprescindível e RECOMENDAM que seja determinada abstenção de qualquer medida reintegratória imediata até que alguma esfera do Poder Público indique outro imóvel na região capaz de garantir esse projeto e a segurança alimentar que ele proporciona, salvaguarda dos direitos humanos dessas famílias, em nome das garantias dos direitos humanos fundamentais das mulheres, crianças e idosos que se encontram no local e ou usufruem dos serviços de caráter público prestados por este no quadro municipal narrado, bem como ainda seja garantida alternativa à moradia para as famílias atingidas, tendo em vista o abandono completo do imóvel por diversos anos”, expõe o documento. 

Abaixo a nota completa da Frente Parlamentar

Nota de solidariedade da Frente Parlamentar em Defesa da Segurança Alimentar e Nutricional à Cozinha Solidária da Azenha

A Frente Parlamentar em Defesa da Segurança Alimentar e Nutricional vem a público manifestar seu apoio e solidariedade ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e à Cozinha Solidária da Azenha, organizada pelo movimento nesse momento triste que se passa em nosso país onde a fome atingiu 19,1 milhões de pessoas em 2020, parte de um contingente de 116,8 milhões de brasileiros que convivem com algum grau de insegurança alimentar — número que corresponde a 55,2% dos domicílios, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Penssan.

Com preços proibitivos a população está substituindo itens básicos da dieta alimentar como o arroz, feijão e a carne bovina por miojo, pés e pescoço de galinha ou miúdos que antes eram desprezados ou usados para comida de animais. De cada três crianças brasileiras, uma apresenta um quadro chamado anemia ferropriva, revelou um estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) publicado em julho deste ano. A anemia ferropriva é marcada pela falta de ferro no organismo. Esse nutriente é encontrado no leite materno, na carne vermelha e em alguns vegetais, como as folhas verde-escuras, o feijão e a soja. Sequelas que afetam diretamente o futuro do país, as crianças com deficiência de ferro sofrem alterações no desenvolvimento do cérebro que, mais para frente, se manifestam na forma de dificuldade de aprendizado, sonolência e desânimo. Muitos desses problemas repercutem pela vida toda e são irreversíveis.

Dentro desse contexto iniciativas como a Cozinha Solidária da Azenha, desempenham papel de suma importância no combate à fome e a miséria, a falta de políticas públicas capazes de garantir o direito básico à alimentação tem forçado a população a buscar alternativas baseadas em redes de solidariedade e apoio mútuo. Dito isto, repudiamos a decisão tomada pelos Órgãos Judiciais que autoriza a reintegração da posse do terreno, na Avenida da Azenha, 1018 – Porto Alegre/RS.

Vereadora Laura Sito
Reginete Bispo – 1º Suplente de Vereadora da Bancada


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Edição: Marcelo Ferreira