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Crônica | O grande relojoeiro

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O dinheiro, a fama, o sucesso, as mulheres e o empresário começaram a interferir numa amizade acima do bem e do mal - Freepik
Os dois amigos passaram a vida juntos. Quando penso neles e lembro do que ocorreu, me espanto

Quando ele estava morto, seu melhor amigo estava preso. Um com o corpo gelado, com centenas de fãs chorando pela sua morte no cemitério. O outro com centenas de pessoas gritando assassino e pedindo justiça na porta da delegacia. Assim foi o fim trágico de uma grande amizade desde a infância dos dois amigos. 

Na semana anterior ao crime, os dois eram só alegria, festas e shows. Mas eram só aparências. As coisas entre eles já não andavam boas. Aquele sonho da fama, sucesso e dinheiro foi por água abaixo por ganância, poder e mentiras.

Uma semana antes de o crime acontecer, sobreveio um episódio fútil, bobo

Os dois amigos passaram a vida juntos. Quando penso neles e lembro do que ocorreu, me espanto. Jamais passou pela minha cabeça que pudesse terminar de forma tão trágica a amizade selada desde a maternidade. Era a mesma rua, o mesmo gosto culinário, musical, mesma orientação política, a mesma sala de aula, o time de futebol. Os dois se confundiam até na aparência e no jeito de ser. Dividiam até as namoradas. Era uma perfeita simetria. 

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Nos últimos meses, tudo começou a se transformar para pior. O dinheiro, a fama, o sucesso, as mulheres e o empresário começaram a interferir numa amizade acima do bem e do mal. Até a escolha do quarto em que se hospedavam na turnê dos shows passou a ser disputada literalmente a tapa. Um sempre reclamava que o quarto do outro era melhor. Até o lado do palco virou motivo para brigas horríveis.

Anos se passaram, ele ficou preso por muito tempo. Sua vida acabou. A fama e o dinheiro também

Uma semana antes de o crime acontecer, sobreveio um episódio fútil, bobo, que uma conversa amistosa resolveria. Eles estavam em uma cidade do litoral brasileiro muito badalada. Com praias sofisticadas, festas, gente famosa, mulheres bonitas, baladas super-requintadas e disputadas. Seriam uma das atrações do festival de verão daquele ano nessa cidade tão procurada por famosos, ricos e afins. Aliás, eram a atração principal e mais esperada. O sucesso estava estrondoso. Os ingressos se esgotaram em 5 minutos no site do festival. 

Chegando ao hotel, uma legião de fãs enlouquecida e histérica os aguardava no saguão e na porta. Foi quando um deles foi mais aclamado e disputado por fãs e jornalistas. Seu nome era gritado e selfs eram pedidas a todo momento. Isso foi a gota d’água para o pau quebrar entre os dois. E o quarto do mais badalado era de frente pro mar. A raiva tomou a alma e o coração do outro amigo.

No palco, por uma obra do destino, o microfone estava falhando. Ele pensou que estava sendo sabotado. Para piorar, uma fofoca maldosa de uma pessoa próxima a eles envenenou-o mais ainda. Ela insinuava uma suposta traição da namorada com o amigo no zap-zap.

Chegando no hotel, a briga foi feia. A pancadaria comeu solta. Ameaças com facas e revólver, xingamentos, quartos quebrados. Os seguranças e a polícia foram chamados, mas chegaram tarde, a desgraça já tinha acontecido. 

Anos se passaram, ele ficou preso por muito tempo. Sua vida acabou. A fama e o dinheiro também. Só que a verdade veio à tona. Que tudo aquilo era uma grande mentira atrás de mais dinheiro. Que até as fofocas eram construídas. Que até a euforia na frente do hotel e o melhor quarto eram tudo planejado pelo empresário dos amigos.

O empresário queria separá-los para lançar a carreira solo de um deles e ficar só com um amigo. Assim, ele ganharia mais dinheiro. Esse era o plano maligno de toda uma engrenagem do show business sem coração. A engrenagem racional do mundo pop não perdoa ninguém.

*Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte.

Edição: Rafaella Dotta