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A aceleração da vida

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A tecnologia acelera o gesto. - Divulgação
O futuro, precarizado e incerto, deve ser resolvido agora. Não há mais paciência.

Aonde iremos parar, enquanto sociedade, com os pés cravados no acelerador?

A aceleração da vida que vivemos nos últimos anos, ou pelo menos na última década, impulsionada pelas mudanças tecnológicas no seio da sociedade, vem alterando significativamente nosso modo de viver. Para além disso, nossa perspectiva de vida, de futuro.

O futuro, precarizado e incerto, deve ser resolvido agora. Não há mais paciência. O sucesso, nas redes sociais, deve ser imediato ou não será. Essa ideologia que vende liberdade e entrega frustração está impregnada na internet ocidental. A ansiedade, depressão, dificuldade de foco e hiperatividade são a marca dessa sociedade hiperacelerada, que estimula o adoecimento mental em massa.

A própria noção de aposentadoria é substituída por “uma vida produtiva até o fim”. O que é excelente para o empresário liberal, livre de pagar encargos trabalhistas em uma sociedade que explora até o fim. Mas a exploração de mais valor acontece desde já.

A aceleração do gesto produtivo dos trabalhadores aumenta a produtividade e o lucro. A tecnologia acelera o gesto, mas o gesto acelerado que gera mais lucro, não é pago ao trabalhador. O tempo de trabalho, aumentado pelos aplicativos de mensagem instantânea, onde o chefe demanda da trabalhadora fora da jornada, não é pago. Trabalhamos mais e mais rápido do que dez anos atrás, para que? A vida precarizada do Brasil real em 2021 mostra que este valor excedente não está sendo pago aos trabalhadores e trabalhadoras.

A velocidade foi internalizada. O cybertempo ocupa uma parte considerável da nossa vida diária, por isso a absorção do conteúdo deve ser acelerada. Se virar nos 30 é coisa do passado, agora a moda é se virar nos 15 segundos. Até para ouvir os melhores amigos, podemos acelerar os áudios nos diálogos do zap zap. Qual o efeito em longo prazo disso tudo?

Fico pensando se daqui alguns anos teremos paciência para sentar num boteco e conversar com as pessoas na velocidade natural da vida, no curso natural das coisas.

Espero que sim. Ainda somos humanos.

* Diego Ruas é escritor, designer e engenheiro florestal.

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

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Edição: Márcia Silva