MEMÓRIA

Câmara dos Vereadores do Rio concede Medalha Pedro Ernesto a Joaquín Piñero do MST

Dirigente do MST e ex-coordenador político do Brasil de Fato RJ morreu em março após lutar contra um câncer

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Karla Oliveira, companheira de Joaquin, recebeu a medalha Pedro Ernesto em nome militante; homenagem foi iniciativa do mandato de Lindbergh Farias (PT) - Foto: Pablo Vergara/MST RJ

A noite da última terça-feira (9) foi marcada pela entrega da Medalha Pedro Ernesto, maior honraria concedida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro, ao dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Valquimar Reis, mais conhecido como Joaquín Piñero, ou Kima, morto em março deste ano em decorrência de um câncer.

A iniciativa foi do mandato do vereador Lindbergh Farias (PT), amigo e admirador da trajetória política do ex-coordenador político do Brasil de Fato no Rio de Janeiro.

“O Kima foi um grande amigo, um revolucionário, um lutador pela causa da reforma agrária, mas também um lutador pela revolução socialista na América Latina como um todo. A gente conhece toda a história do Kima, o período que teve que viver numa certa clandestinidade, o período que esteve na Venezuela, no início do governo do Chávez. Kima era uma daquelas pessoas que tinha experiência política e sabia da dimensão histórica desse momento que a gente vive. Sempre alegre e agregador. Tenho certeza que a história do Kima vai inspirar muitas gerações de jovens lutadores brasileiros”, destacou o parlamentar ao Brasil de Fato

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A cerimônia lotou o plenário da Câmara de militantes do MST, amigos e admiradores de Joaquín. Na mesa estavam presentes o ator Chico Díaz; os vereadores Tarcísio Motta e Chico Alencar, ambos do Psol; a integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), Carol Proner; a dirigente nacional do MST, Marina dos Santos, e a companheira de Joaquín e integrante do setor de Direitos Humanos do MST, Karla Oliveira. 


Cerimônia lotou o plenário da Câmara / Foto: Pablo Vergara/MST RJ

As falas dos convidados que compuseram a mesa e também dos representantes de entidades sindicais, estudantis, partidárias e de movimentos populares que se pronunciaram na tribuna Marielle Fanco resgataram histórias de companheirismo, alegria e a crença, inequívoca de Kima, em construir um mundo socialmente mais justo. 

“Existem homens que independentemente das marés e correnteza se mantêm como norte e farol para muitas pessoas, eu invoco o nome do Kima como síntese do movimento e da cultura como esse exemplo de homem, cidadão e pai como foi. Ele se aproximou da classe artística de forma muito inteligente, ensinou muito para muitos colegas de profissão”, disse Chico Díaz.

A vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Julia Aguiar, lembrou da semente plantada por Joaquín para a juventude brasileira. Segundo ela, o dirigente político era um fomentador de sonhos e esperança.

“Muitas vezes a gente sente tristeza quando nos reunimos num dia como o de hoje, mas hoje eu vim para cá com muita esperança porque Joaquín receber essa medalha significa dizer que as ideias de Joaquín, o que ele plantou no estado do Rio de Janeiro permanece vivo na juventude brasileira, nos estudantes, em cada um que constrói os movimentos organizados. Joaquín, para nós, era uma retaguarda fundamental, não há uma juventude no Rio que não se recorde de quem foi Joaquín. Joaquín sempre estimulou a nossa esperança e o nosso sonho”, destacou. 

Muito emocionado, o coordenador político do Brasil de Fato e militante do MST, Rodrigo Marcelino, ressaltou a trajetória de Kima na comunicação popular, principalmente na construção do jornal no Rio de Janeiro. 

"A comunicação popular, assim como a educação popular ocupam um papel muito importante numa estratégia de transformação social do Brasil. São a porta de entrada e saída desse processo. Joaquín tinha muita clareza disso. Por isso ele se sacrificava tanto pelo Brasil de Fato, horas sem dormir, reuniões até altas horas, viagens para conseguir recursos, temos avançado enquanto sistema, hoje, para além do tabloide, temos rádios, site, redes sociais e estamos avançando para TV. Acho que o Joaquín ficaria orgulhoso de ver onde está chegando a plantinha que ele plantou a semente lá atrás”, comentou.


Rodrigo Marcelino segura a placa do BdF RJ em homenagem a Kima entregue à Karla Oliveira / Foto: Pablo Vergara/MST RJ

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A Medalha Pedro Ernesto foi entregue à companheira de Kima e mãe de suas duas filhas, Karla Oliveira. A integrante do MST fez questão de receber a honraria juntamente com a dirigente do movimento, Marina dos Santos. De acordo com Karla, “o legado de Joaquín é o legado do MST”. 

“Esse momento de homenagem é muito importante, muito mais do que para o indivíduo, mas também para o movimento porque é um reconhecimento de uma construção coletiva. O Joaquín veio para o Rio e foi construir com os movimentos de favela, os movimentos do campo, foi construir a Frente Brasil Popular, tentar fazer a construção institucional em prol da necessidade do povo e isso é um fator muito importante do movimento social. É se dispor a construir a mudança no hoje em todos os espaços possíveis. O Joaquín se dispunha. Essa era a prioridade da vida dele e ele tocou isso com excelência”, afirmou Karla.

Trajetória

Valquimar Reis nasceu em Rondônia, mas a militância tornou-se parte da sua vida em São Paulo. Foram mais de 20 anos dedicados à luta por uma sociedade mais justa para a classe trabalhadora. Nos últimos tempos, Kima era assentado da Reforma Agrária no Assentamento Irmã Dorothy, em Quatis, no interior do Rio de Janeiro.

Durante toda sua trajetória, Piñero lutou pela terra e pela Reforma Agrária Popular. A dedicação era tanta que sua atuação ultrapassou fronteiras, participando de missões internacionalistas no MST e sendo representante na Articulação Continental dos Movimentos Populares da Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA).

Nos anos 90, Kima foi preso político em uma ação de propaganda contra medidas neoliberais do governo tucano no estado de São Paulo. Ficou mais de um ano na cadeia, junto a outros companheiros do MST. Mas sua luta não foi aprisionada. Na cadeia, organizou um cursinho supletivo e passou a ser conhecido pelos detentos como “Professor!”.

Nos últimos anos, sua luta foi no estado do Rio de Janeiro. Estudou Serviço Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) por meio de uma turma especial do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). 
 

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Eduardo Miranda