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O bezerro de ouro e o falso messias

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Touro de Ouro instalado na frente da B3, a bolsa de valores em São Paulo. - Divulgação
O touro é um santo do isopor oco, vende a imagem de pujança para atrair o ouro dos tolos.

“Deem-me os vossos brincos de ouro”, respondeu-lhes Aarão. Assim fizeram todos; as mulheres e os seus filhos e filhas. Aarão fundiu o ouro e moldou-o, dando-lhe a forma de um bezerro. E o povo exclamou: “Ó Israel, aqui tens os teus deuses que te fizeram sair do Egito!” (Êxodo, 32:2-4)

O Touro de Ouro instalado na frente da B3, a bolsa de valores em São Paulo, é símbolo de um tempo. 

Um tempo de mentiras e fome. 

A elite brasileira debocha do povo no auge de uma crise política e econômica, durante o governo de um falso messias, de falsas promessas. 

Se conhecesse seu povo, saberia o simbolismo negativo de uma figura que remetesse ao “bezerro de ouro”, falso ídolo na Bíblia, em um país de maioria cristã. 

O descolamento da realidade é tanto, que o falso touro, cópia fajuta da famosa estátua de bronze na frente da bolsa de Wall Street, devia ser motivo de celebração. Não foi. 

Os protestos foram quase imediatos e a bolsa fechou em queda nos dias seguintes.

O touro é de isopor. 

Literalmente. 

A pintura dourada é manto da ostentação de quem compra uma lancha hipotecando a própria casa. 

Mesmo que a elite do atraso viva numa realidade paralela ao povo brasileiro, as coisas não parecem tão otimistas na bolsa de valores quanto a cafona estátua faz pensar. 

Para citar dois exemplos de peso: a Natura chegou a valer R$ 75 bilhões e neste último trimestre de 2021 despencou para R$ 42 bilhões; Magazine Luiza, depois de bater os R$ 165 bilhões, agora é avaliada na B3 por R$ 42 bilhões. 

O touro é um santo do isopor oco, vende a imagem de pujança para atrair o ouro dos tolos.

“Deem-me os vossos brincos de ouro”. 

A maioria da população, que acreditou em 2015 e 2016 no impeachment como solução para os problemas do país, agora vê as consequências.

 Deram sua fé, seu ativismo, seus “brincos de ouro” pelo golpe, querendo que a gasolina voltasse ao patamar dos 2 reais e que os filhos e filhas da classe média voltassem a Disney com o dólar mais barato. 

Promessa concretamente impossível dentro do programa “Ponte para o Futuro” do Temer, que operou a Reforma Trabalhista, a Reforma da Previdência e a vinculação do preço da gasolina ao barril de petróleo internacional.

Na desculpa de acabar de uma vez por todas com a corrupção, a Lava Jato correu para prender Lula antes das eleições, garantindo a mudança do regime e enfraquecendo a democracia. 

Um candidato fascista, com sobrenome de Messias, coroou o processo aprofundando a reação ultraconservadora e neoliberal. 

Apesar das falsas promessas do falso messias Jair Bolsonaro, a corrupção de fato não acabou: as instituições de controle foram aparelhadas e a impunidade é moeda de troca recorrente no Congresso Nacional.

 A gasolina chega aos 8 reais e o dólar bate recordes com a desvalorização do real. 

O desemprego, o subemprego e a inflação aumentaram, corroendo o poder de compra da classe média e afundando os pobres na miséria. 

O Brasil voltou ao mapa da fome. 

A carne agora vale ouro, como o touro. 

O povo vive pagando e morre devendo. 

O deus Mercado segue fingindo que não é com ele. 

Mas o touro é uma imagem que cristaliza a poderosa aliança que sustenta o governo Bolsonaro: o gado do agro, a força militar, e o ouro da burguesia. Até quando?

* Diego Ruas é escritor, designer e engenheiro florestal.

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

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Edição: Márcia Silva