Minas Gerais

Coluna

O custo ecológico da obsolescência

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O capitalismo não quer a produção de bens duráveis reutilizáveis - Foto: Prefeitura de Santos
O prejuízo nas demolições vai desde a fabricação até o transporte dos entulhos

Obsolescência é uma armadilha que obriga o consumidor a descartar objetos com pouco tempo de uso. Na sociedade de consumo, as estratégias publicitárias e a obsolescência planejada mantêm os consumidores presos em uma espécie de armadilha silenciosa, um modelo. 

Essa estratégia é própria do modelo de crescimento econômico pautado na aceleração do ciclo de acumulação do capital. Na análise de Mézaros Em seu livro “Produção destrutiva e estado capitalista” (1989), vivemos na sociedade descartável, que se baseia na taxa de uso decrescente dos bens e serviços produzidos. 

Há muito, o capitalismo não quer a produção de bens duráveis e reutilizáveis. Para tanto, há uma estratégia de estabelecer uma data de morte de um produto. Tal estratégia foi claramente exposta na crise de 1929, quando os fabricantes começaram propositadamente a reduzir a vida de seus produtos, buscando aumento da venda e do lucro. Nessa época, por meio da propaganda, fabricantes e comerciantes faziam apelo para trocarem suas mercadorias por novas, em nome de se tornarem bons e verdadeiros cidadãos norte-americanos. 

Há, no momento, uma psicologia da obsolescência, em que o estilo do produto muda constantemente. O estilo e a aparência dos objetos tornam-se importantes como isca ao consumidor, que passa a desejar o novo, embora o que possui ainda esteja em perfeitas condições de uso. O novo design leva o consumidor a se sentir desconfortável utilizando um produto que se tornou ultrapassado esteticamente. Nas grandes cidades, é comum encontrar, nos montes de lixo, aparelhos elétricos e eletrônicos; móveis industrializados; roupas em bom estado; vasilhas e utensílios domésticos. O que é mais grave e passa despercebido, são as demolições de edifícios altos, em bom estado de conservação para edificação de outros. Ao ser fabricado, todo produto impõe sacrifícios à natureza. 

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Os aparelhos eletrônicos, especialmente os celulares, contêm o metal chumbo, que, ao ser acumulado no organismo humano, provoca sérios danos à saúde. Ao ser extraído, o chumbo contamina as águas dos córregos e rios. Os móveis de madeira nos remetem à derrubadas das árvores e aos danos ambientais daí advindos. As roupas descartadas em lixo têm origens em plantio de algodão, o desmatamento e os agrotóxicos usados pelos agricultores. As vasilhas e utensílios vão desde a mineração até a fabricação lançando poluentes na atmosfera. 

O prejuízo nas demolições de casas e edifícios vai desde a fabricação dos elementos componentes das obras até o transporte dos entulhos. A produção do cimento começa com a moagem do calcário e a mistura com a argila ao aquecimento em 1400 graus centígrados, com muita emissão de CO2. Em seguida, a produção do concreto, que é o cimento misturado com água e areia, emite grande quantidade de carbono. Os vidros de portas e janelas são produzidos com extração de areia, nas calhas dos rios. As cerâmicas, com a extração do caulim e o aquecimento em fornos que consomem muita energia. Por fim, lembrar que o ferro usado no cimento armado deixa crateras no solo e dispende carvão vegetal na sua fabricação. Por fim, a remoção dos entulhos e seu transporte continuam emitindo grande quantidade de carbono na atmosfera. 

Quando um edifício de oito andares vai ao chão, em suas proximidades, vivem milhares de pessoas sem um lugar para morar. Urge, portanto, proibir as demolições para novas edificações. 

Estamos vivendo um momento em que nem as leis são respeitadas. Isso ficou implícito no discurso de Bolsonaro, ao ser eleito em 2018: “Sou defensor do meio ambiente, mas, desta forma xiita, como acontece, não. Não vou admitir o Ibama sair multando a torto e a direito por aí”.  O comportamento do presidente com relação ao meio ambiente deixa um mundo perplexo. 

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

 

 

Edição: Wallace Oliveira