direitos humanos

Programa Bem Viver: mesmas pessoas circulam entre prisões e rede assistencial, aponta pesquisa

Negra e pobres são quem mais circula por espaços de confinamento e tratamento. Alguns passam toda vida nesses aparatos

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O termo "arquipélago carcerário-assistencial” descreve a recorrência com que alguns grupostransitam entre unidades prisionais e equipamentos de assistência social - Agência Brasil
A discussão foi reunida pelo especialista no livro

Já ouviu falar em “arquipélago carcerário-assistencial”? O conceito foi formulado pelo sociólogo Fábio Mallart após mais de 10 anos de pesquisas em presídios do país e descreve a recorrência com que alguns grupos de pessoas transitam entre unidades prisionais e equipamentos de assistência social.

“Um ponto central é a circulação de determinadas populações negras, pobres e periféricas por uma multiplicidade de aparatos estatais, sejam eles punitivos, sejam de saúde e assistência social. Há um jogo entre circulação e confinamento de determinadas populações que ficam a vida inteira transitando por esses aparatos”, disse em entrevista a edição de hoje (31) do Programa Bem Viver.

Assim, o adolescente que um dia foi levado para uma unidade de internação para menores de idade, anos mais tarde, retorna preso para o sistema prisional. Da mesma forma, há um fluxo considerável de internos que, durante o cumprimento das penas, são transferidos para manicômios judiciários.

“Quando eu cheguei nos manicômios, me deparei com muitas pessoas que tinham deixado as prisões ou que tinham passado por elas, mas também com muita gente que vinha da Cracolândia. Durante o trabalho de campo na Cracolândia, eu encontrava com muitos homens e mulheres que vinham das prisões e dos manicômios, mas que também tinham passado por uma série de outros equipamentos de saúde e assistência social”, completa Mallart.

A discussão foi reunida pelo especialista no livro “Findas Linhas: circulações e confinamentos pelos subterrâneos de São Paulo”, lançado recentemente. Atuando como professor, assistente social e pesquisador, o autor visitou nos últimos 10 anos prisões, manicômios judiciários, unidades de internação para adolescentes, centros de atenção psicossocial e outros espaços que representam o sistema de punição do Estado.

Fábio é mestre em Antropologia Social e doutor em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). Mallart atualmente é pesquisador de pós-doutorado do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e é também autor do livro “Cadeias Dominadas: a Fundação Casa, suas dinâmicas e as trajetórias de jovens internos”, publicado em 2014.

População trans

Pelo décimo terceiro ano consecutivo, o Brasil foi o que mais assassinou pessoas trans no mundo, reunindo pelo menos 38% dos casos registrados no planeta.

Os dados são de um relatório internacional que monitora o tema, compilados no dossiê “Assassinatos e Violências contra Travestis e Transsexuais”, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

Só no ano passado foram pelo menos 140 crimes dessa natureza. Ao todo, 135 travestis e mulheres transexuais foram mortas, além de cinco homens trans e transmasculinos.

Arte na periferia

Uma iniciativa está abrindo caminhos para a música produzida fora dos grandes centros do país: é o portal Embrazado, plataforma dedicada a mapear e difundir a música periférica produzida em diferentes regiões do Brasil.

O nome é inspirado em uma festa tradicional de um bar de Recife. Segundo os criadores da iniciativa, desde 2017 já havia vontade de mapear a música brasileira para além do que é divulgado na grande mídia, como uma forma de buscar e valorizar produções autênticas, que expressassem a diversidade do país.

O projeto saiu do papel em 2020, com apoio de um edital cultural. Hoje já são dezenas de artistas que tem o trabalho ampliado pela plataforma. E o mais importante: não há preconceito musical! Qualquer gênero pode ser incluído na plataforma.


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Edição: Sarah Fernandes