AGROECOLOGIA

Vozes Populares | Feira Cultural da Reforma Agrária do MST aproxima campo e cidade no Ceará

Música, poesia, alimentos saudáveis e o diálogo movimentam a capital cearense em evento agroecológico

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A feira acontece desde 2016 na capital, mas adaptou as vendas para o on-line durante a pandemia; este ano retoma o evento presencial - Foto: Aspásia Mariana
Essa macaxeira, essa banana, esse feijão, trazem consigo uma história de luta pela terra

Imagina um lugar em que você pode ir comprar produtos agroecológicos, ouvir uma boa música, encontrar amigos e, de quebra, valorizar comerciantes e artistas locais? Tudo isso você encontra na Feira Cultural da Reforma Agrária do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Fortaleza.

O encontro acontece mensalmente, no segundo sábado de cada mês, e proporciona um ambiente para a comercialização de alimentos saudáveis produzidos por famílias camponesas de assentamentos do MST no Ceará. 

A partir das 09h, os produtos são expostos para venda: banana, macaxeira, feijão, arroz, carne e uma grande variedade de outros alimentos sem agrotóxicos. 

O espaço também é uma oportunidade para artesãos da comunidade escoarem seus produtos. "Nós também abrimos para que outras pessoas, artesãos, outras pessoas aqui de Fortaleza, amigos do movimento ou do próprio bairro possam vir também expor seus produtos aqui", explica Clarice Rodrigues, do Setor de Produção do MST no Ceará. 


O Centro Frei Humberto, onde acontece a feira, foi pensado como um espaço para potencializar a interação entre campo e cidade / Foto: Aspásia Mariana

Além disso, ainda pela manhã, acontece sempre uma roda de debate sobre um tema específico escolhido, de acordo com a conjuntura política e social do momento. Neste mês, por exemplo, em que acontece a 64ª edição da feira, o debate foi sobre: "A 'boiada mineral' avança no Ceará: riscos e ameaças desde o projeto de mineração de urânio e fosfato em Santa Quitéria", com a participação de professores e militantes. 

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Cultura também é resistência popular

Após o meio-dia, não falta música, poesia e diversão. Um almoço é preparado com os produtos da própria feira e desse momento em diante é liberado o bar e música ao vivo para a comunidade aproveitar. 


O evento é aberto ao público e há a obrigatoriedade do uso de máscara. A entrada somente é permitida com a apresentação do Passaporte da Vacina. / Foto: Aline Oliveira

Para além de um espaço de comercialização, a feira é também um espaço de diálogo e conexão entre campo e cidade. A venda direta entre agricultor e trabalhador, sem intermediários, permite uma melhor compreensão sobre a produção daqueles alimentos, sobre a agroecologia e entender também a importância da agricultura familiar. De onde vem essa macaxeira? Quem produziu? Como produziu? 

Clarice Rodrigues enfatiza que, para se chegar na realização da feira e em poder sonhar com as agroindústrias, na potencialização dos sistemas produtivos, houve uma luta intensa para adquirir técnica e espaço. "Essa macaxeira, essa banana, esse feijão, trazem consigo um uma história de luta pela terra, de resistência e de conquista", afirma. 

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Desde quando acontece?

A feira acontece desde 2016 no Centro Frei Humberto, que fica localizado na Rua Paulo Firmeza, no bairro São João do Tauape. Durante a pandemia, as vendas precisaram ser adaptadas para o formato on-line. Mesmo assim, a militante avalia que a busca pelos produtos agroecológicos aumentaram. "Parece que as pessoas se atentaram mais para avaliar o que estão comendo, de onde vem esse produto, que tipo de alimento estão comendo”, pondera. 

Neste ano, o evento volta ao seu formato presencial, seguindo os protocolos de segurança sanitária. Para Clarice, a Feira Cultural da Reforma Agrária é mais que uma feira que vende produtos agroecológicos: é um espaço político, que tem como centralidade a discussão em torno da reforma agrária. É um espaço em que o produto não é visto apenas como mercadoria, mas como fruto da luta pela terra e da resistência popular. 

Para conhecer mais sobre a iniciativa, acompanhe as redes sociais do Centro Frei Humberto: @centrofreihumberto

Edição: Vanessa Gonzaga