FÉ E MEMÓRIA

Vozes Populares | Espaço de memória busca eternizar legado do artista Guitinho da Xambá em PE

Grupo Bongar, fundado pelo artista em 2001, lança campanha para levantar recursos financeiros para a estruturar o local

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Grupo Bongar, iniciado por Guitinho da Xambá, foi responsável por dar mais visibilidade a cultura afro-brasileira e à Nação Xambá - Jan Ribeiro/Secult-PE

No dia 17 de fevereiro de 2021, pouco mais de um ano atrás, nos deixava um grande representante do canto popular: o pernamubcano, cantor e compositor Guitinho da Xambá. 

Guitinho fez parte da comunidade quilombola tradicional de matriz africana Nação Xambá, que fica em Olinda, em Pernambuco. No terreiro Xambá, era o responsável pelo canto e pelo toque. 

Leia aqui: Morre cantor e compositor do grupo Bongar, Guitinho da Xambá, aos 38, em Olinda (PE)

Em 2001, fundou o grupo Bongar, que tinha como objetivo levar aos palcos a tradicional festa do Coco da Xambá, preservar e divulgar a cultura pernambucana. Marileide Alves, companheira de Guitinho, comenta sobre o que o artista representava para a comunidade.

"Ele era uma voz do povo preto, do povo de terreiro, usava seu discurso no palco, quando fazia os shows do Bongar. Ele foi uma das pessoas que contribuiu bastante para o crescimento da comunidade e para comunidade ser o que é hoje", relata. Ela reforça ainda sobre como o companheiro utilizava sua voz para tecer críticas ao sistema e à falta de políticas públicas na área da cultura, saúde e educação. 


O Bongar tem uma musicalidade de diversas influências musicais, vivenciadas nos cultos afro-brasileiros, principalmente da linhagem Xambá / Foto: Divulgação/Grupo Bongar

Guitinho na luta pelo empoderamento da população jovem e negra

O terreiro Xambá foi fundado em 1930 e acabou se tornando o terceiro maior quilombo urbano do Brasil, além do único remanescente deste povo na América Latina. Sua importância é tanta que, em 2018, recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. 

Além de um espaço de expressão de fé, o terreiro também ficou conhecido pelo forte trabalho cultural, principalmente com sua música ancestral para os orixás, mestres do culto da jurema e coco de roda. Em 2016, foi inaugurado, através também da luta de Guitinho, o Centro Cultural Grupo Bongar, para envolver ainda mais a comunidade jovem em atividades culturais populares. 

Antes disso, as atividades já eram feitas, mas sem local fixo. Ao longo dos anos, foram feitas aulas de capoeira, de teoria musical, violão, pandeiro, literatura, oficinas de fotografia, percussão e muito mais. Após uma grande luta e articulação política, essas atividades puderam ter uma estrutura fixa. 

Segundo Marileide, esses projetos contribuíram fortemente para o fortalecimento da identidade da comunidade. "Hoje você vê a comunidade empoderada, as pessoas usando seus cabelos naturais, suas roupas com tecidos africanos, com um discurso mais empoderado. Prontos para se defender quando acontecer qualquer caso de intolerância religiosa ou qualquer caso de racismo", afirma. 


Oficina de violão oferecidas gratuitamente no Centro Cultural Grupo Bongar em 2018 / Foto: Divulgação/Grupo Bongar

Espaço de Memória Guitinho da Xambá

Atualmente, está sendo construído coletivamente um Espaço de Memória Guitinho da Xambá para homenagear o artista, que ficará no local físico do Centro Cultural. A ideia é que o espaço possa guardar as memórias do cantor.

"A gente acredita que é muito importante preservar o legado dele. Guitinho, através da sua música tocou o coração das pessoas, as pessoas passaram a conhecer a comunidade Xambá, conhecer essa música do coco, a conhecer o candomblé, então a gente precisa preservar tudo isso que ele criou", finaliza Marileide. 

Quem puder ajudar financeiramente pode contribuir através do Pix (81) 9-9927-6258, em nome de Marileide Alves de Lima, companheira de Guitinho. 

Para conhecer mais sobre o terreiro Xambá, acompanha o Instagram @terreiroxamba. Você ainda pode acompanhar o grupo musical Bongar através do user @grupobongar.

Edição: Vanessa Gonzaga