Rio Grande do Sul

Coluna

Pesquisas eleitorais em março de 2022

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"Ninguém ganhou, ninguém perdeu a eleição de outubro até agora. E não se pode cantar vitória, ou derrota, agora, em março, a mais de meio ano do 2 de outubro" - Agência Brasil/Divulgação
Pesquisas eleitorais começarão a dizer algo mais concreto e confiável a partir de julho, agosto

Quem gosta e acompanha futebol, sabe. Sou ligado ao futebol desde guri, seja pelo meu multicampeão São Luiz de Santa Emília, Venâncio Aires, seja nos tempos de campeonatos internos no Seminário de Taquari, seja pelo Grêmio, pela seleção brasileira e futebol pelo mundo. Mil campeonatos e vitórias. Mil derrotas inacreditáveis.

Esta semana mesmo vários comentaristas esportivos disseram que Grêmio contra o Mirassol era favas contadas. Afinal, o Grêmio tinha o Roger de volta como treinador, tendo ganho de goleada a primeira partida no seu retorno. Eu e meu irmão Marino, colorado, comentamos antes de jogo: tri cedo para cantar que agora tudo está certo, time do Grêmio acertado, tudo beleza. Deu no que deu. Grêmio, que poderia empatar para seguir adiante na Copa do Brasil, da qual é o maior campeão, perdeu, está fora. Em 2022 só terá o Gauchão e a Série B e mais nada.

Quantos campeonatos perdidos, quando parecia que já estava tudo ganho! Quantas vitórias, quando tudo parecia perdido! Começar bem um campeonato longo não quer dizer quase nada. Assim como começar mal não significa derrota antecipada. Quem começa bem nem sempre termina bem. Quem começa mal, quantas vezes não termina campeão! É processo, é acertar o time, é criar confiança, é garantir o apoio da torcida aos poucos. É assim na vida, é assim no futebol.

Participo de eleições desde 1982, começo do PT, muitas vezes como candidato, outras como dirigente partidário, ou ainda como coordenador de campanhas no Rio Grande do Sul, como a de Lula em 1989 e a de Haddad-Manu presidente em 2018, as duas perdidas, assim como houve várias vitoriosas.

Que dizer das pesquisas eleitorais em março de 2022, a cada semana saindo uma ou mais, uma atrás da outra? Muito pouco, quase nada, na minha modesta opinião. Olho todas as pesquisas com desconfiança, sem maiores preocupações sobre seus resultados, por enquanto.

Aprendi algumas coisas ao longo do tempo, na base da experiência e da participação direta em campanhas eleitorais, cada uma muito diferente da outra.

1.Pesquisas são sempre um retrato do momento, nada mais. Dois ou três dias depois da pesquisa pode acontecer um fato novo, inesperado, que muda todo quadro. Lembro de uma eleição em particular. Tarso Genro, candidato a governador gaúcho pelo PT, aparecia nas pesquisas bem colocado a um mês da eleição. Principal adversário, Germano Rigotto, do PMDB, estava com cerca de 10%. Cheguei na tradicional caminhada saindo da rua João Pessoa, Porto Alegre, em direção ao centro da capital, todo mundo entusiasmado, achando que a eleição estava ganha. Fiz um alerta geral: Rigotto está começando a subir nas pesquisas, tem pouca rejeição, é adversário perigoso, pode crescer na reta final. Foi o que aconteceu, infelizmente. Acertei minhas previsões. Rigotto foi eleito governador gaúcho em 2002.

2.É preciso observar e analisar quem faz as pesquisas, se são Institutos de pesquisa sérios, com experiência acumulada e histórico em pesquisas eleitorais. Muito importante também saber quem manda fazer ou encomenda e paga as pesquisas. Atualmente, há muitos Institutos com pouca experiência, vários deles financiados por bancos, ou pela grande mídia.

3.Qual o tamanho da pesquisa? Foi feita em todo o Brasil, tem abrangência nacional, presentes todas as regiões e estados, cidades grandes, Regiões Metropolitanas e interior do país? Foi feita presencialmente ou por telefone? Muitas das atuais pesquisas são feitas por telefone, por celular ou por meios virtuais. Estas são pesquisas bem menos confiáveis que as presenciais, caso estas tenham sido bem-feitas, com cobertura nacional e número grande de entrevistados.

4.Além do mais, no caso atual, há ainda, em março, muitas dúvidas e lacunas no e sobre o processo eleitoral de 2022. As pesquisas feitas e divulgadas até agora captam o cenário atual. Há muitas perguntas não respondidas, que ninguém sabe responder em detalhe neste momento, março de 2022. Quem, quais serão mesmo os candidatos? Quem dos candidatos apresentados até agora vai ser mesmo candidato? Quais serão as alianças? Quem apoiará quem? Haverá, até o início de abril, abertura para mudança de partido, a tal janela partidária. Muitos deputados, senadores, e até candidatos a presidente ainda poderão migrar para outros partidos, com o que acontecerão novas coligações e novo cenário eleitoral. E as Federações partidárias, novas e pouco conhecidas, até mesmo por militantes calejados como eu, acontecerão? Quem com quem? Qual seu alcance previsível e resultado? Ninguém sabe!

Depois da resposta a todas as perguntas acima, portanto, definido o quadro eleitoral de candidatos, as alianças e tudo mais, então sim as pesquisas eleitorais começarão a dizer e revelar, aos poucos, o que vai acontecer em 2 de outubro. Até lá, ou até um mês antes, muito cuidado. Cautela e caldo de galinha não fazem mal pra ninguém, diz o ditado popular.

Ninguém ganhou, ninguém perdeu a eleição de outubro até agora. E não se pode cantar vitória, ou derrota, agora, em março, a mais de meio ano do 2 de outubro. Ou agir como se tudo já estivesse ganho. O campeonato sequer começou. Sequer se sabe quais serão os times, quais, afinal, serão as regras do jogo, como atuarão os juízes, qual apoio de torcidas cada um terá e muitas coisas mais.

E não se pode esquecer que o mundo está em meio a uma guerra, para citar apenas um elemento conjuntural absolutamente novo e inesperado, entre outros que poderão surgir a qualquer momento. Qual seu grau de influência? Qual a nova geografia geopolítica mundial e sua influência sobre o Brasil em outubro? Hoje, ninguém sabe.

E é preciso lembrar sempre a crise econômica, social, política, cultural e ambiental brasileira. Alguém sabe dizer com relativa segurança como estarão o Brasil e seu povo em junho/julho de 2022? Mais fome e desemprego, possivelmente. Mais ódio, violência, intolerância, mortes e assassinatos. E a pandemia, qual o quadro? E a questão ambiental? E o desgoverno e o neofascismo? Como tudo isso se refletirá nas eleições? Muitas dúvidas e perguntas sem resposta hoje, quando escrevo, 4 de março de 2022.

Pesquisas eleitorais começarão a dizer algo mais concreto e confiável a partir de julho, agosto. Não antes.

É ser pessimista? Não. É ser cuidadoso. É fazer as coisas certas na hora e no momento certos. Por exemplo, fazer um grande 8 de Março ao lado das mulheres na rua: ´Ninguém solta a mão de ninguém´. É realizar um 1º de Maio grandioso, depois do Fórum Social das Resistências (FSR) presencial de 26 a 30 de abril, em Porto Alegre. E tantas outras jornadas de luta ainda no primeiro semestre, como a Conferência de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional que o CONSEA RS está chamando para os próximos meses. É lançar formalmente e organizar a Frente Nacional contra a Fome, decidida na Assembleia de Convergências virtual do FSR em janeiro. Mais mil coisas que acontecerão no primeiro semestre.

É preciso criar, no primeiro semestre de 2022, um caldo de cultura, de trabalho de base, de mobilização social, de construção dos Comitês Populares de Luta, de unidade, para que o campo democrático-popular chegue forte, com programa de mudança, unificado em outubro, e possa ser vitorioso. E chegue o momento de recolocar o Brasil de novo no trilho da justiça, da igualdade, dos direitos, da participação popular, da soberania e da democracia.

Muita água vai rolar por baixo da ponte até outubro, com ou sem pesquisas eleitorais. Do lado do campo democrático-popular, muita luta, muita conscientização, construir o inédito viável, ESPERANÇAR freireanamente.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko