MARÇO DAS MULHERES

Vozes Populares | A luta das mulheres camponesas também é feminista

Nesta edição, conheça o feminismo camponês popular e o Movimento das Mulheres Camponesas (MMC)

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Atualmente, existem cerca de 27 organizações especificamente de mulheres camponesas espalhadas pelo Brasil - Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
A lógica de usar o termo feminismo camponês popular passou a fazer muito mais sentido

Não é exagero dizer que as mulheres alimentam o mundo: segundo a Comissão Interamericana de Mulheres (CIM) da Organização dos Estados Americanos, a metade da força laboral agrícola do mundo é de mulheres. Ou seja, pra você comer o seu arroz e feijão em casa, certamente houve alguma mulher na produção desses alimentos. São elas: as mulheres camponesas

Elas estão também na criação de animais, na pesca, nos cuidados domésticos, na educação dos filhos e em uma série de outras atividades atravessadas pelo seu gênero. Para pensar a vida da mulher camponesa dentro do seu contexto, elas começaram a levantar as próprias necessidades e a se organizarem coletivamente. Foi assim que vários movimentos de mulheres camponesas passaram a existir.


Um dos mais antigos e mais conhecidos movimentos com a demarcação de gênero é o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) / Foto: Arquivo Pessoal/MMC

Quando se fala de mulheres camponesas, é preciso entender que o campesinato latino-americano e caribenho é composto por uma infinidade de identidades. Isso quer dizer: mulheres indígenas, quilombolas, agricultoras, assentadas da reforma agrária, pescadoras, quebradeiras de coco, extrativistas e diversas outras. 

Muitas dessas mulheres já estavam discutindo sobre questões que importam pra suas vidas, como a defesa do território e a soberania alimentar, através da Coordenadoria Latino-americana de Organizações do Campo (CLOC). Até que elas viram que o gênero também tinha um peso nisso tudo, e passaram a discutir se essa luta era ou não feminista.

Feminismo ou não?

Michela Calaça, do Rio Grande do Norte, é da direção nacional do Movimento de Mulheres Camponesas, e fala sobre o início dessa discussão. "Elas começam a se questionar se o termo feminismo faz sentido nas suas vidas e as mulheres chegam a conclusão de que é sim luta feminista, porque qualquer uma das lutas travadas pelas mulheres passa pela questão do patriarcado" explica a militante. 

A partir daí, as mulheres camponesas intensificaram a luta pelo direito de sindicalização, de terem aposentadoria, pela divisão justa do trabalho e por diversas pautas que nem sempre eram contempladas pelos movimentos mistos do campo, quer dizer, aqueles que não tinham a demarcação do gênero em sua essência. Em 2010, o termo "feminismo camponês popular" começou a ser utilizado para representar essa junção de luta. 


Mulheres camponesas do MMC no estado de Alagoas / Foto: Arquivo Pessoal/MMC

Mas antes do termo passar a ser consenso, ele foi amplamente discutido, afinal: será que falar em feminismo era algo que fazia com que as mulheres camponesas se sentissem contempladas? 

Foi necessário ouvir camponesas do Brasil inteiro para se chegar a uma conclusão. Michela cita sobre como as camponesas conseguiram se identificar ao compartilharem experiências de como, por exemplo, elas tiveram que enfrentar homens para terem seus posicionamentos ouvidos. 

"Foi o processo mais rico e mais interessante, que mais tocou a minha vida enquanto militante da MMC. Foi ouvir de ponta a ponta o que é o feminismo de fato para as mulheres e como que é a lógica de usar o termo feminismo camponês popular passou a fazer muito mais sentido na vida da companheira lá da base, não da dirigente que está nos espaços internacionais, que escutou o termo de outra lógica", relembra Michela. 

Leia aqui: Valorização das mulheres camponesas: do cuidado com as sementes à geração de renda

Conheça mais sobre o MMC

Durante muito tempo, essas mulheres se organizavam a nível estadual. No Nordeste, haviam grupos no Maranhão, na Bahia, Sergipe, Alagoas, Ceará e também no Rio Grande do Norte.

Hoje, o Movimento de Mulheres Camponesas está presente em 17 estados do país, mostrando que, além de lutar pelo território e pela manutenção das culturas tradicionais, é preciso também lutar pela igualdade de gênero. Para saber mais sobre a atuação do MMC, acessa as redes @movimentodemulherescamponesas ou o site, clicando aqui

Edição: Vanessa Gonzaga