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O que a pesquisa de emprego e desemprego diz sobre o nosso machismo cotidiano

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O rendimento médio real das ocupadas sofreu redução desproporcionalmente severa em relação ao experimentado pelos homens. - Foto: FAO / Max Valencia
Estamos convivendo com índices desumanos de desemprego, que afeta mais mulheres que homens.

Cleo Manhas*

O Brasil, após alguns anos de pleno emprego, começou uma espiral descendente, com crise econômica que já se arrasta desde 2015, agravada em 2016 com a aprovação da reforma trabalhista, que retirou direitos. 

A pandemia da covid-19 tornou o cenário ainda mais dramático quando fechou muitos postos de trabalho. Então, estamos convivendo com índices desumanos de desemprego, que afeta mais mulheres que homens.

A última pesquisa Emprego e Desemprego no DF, sob responsabilidade da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), em parceria com o Departamento de Intersindical de Estatísticas e dados Socioeconômicos (Dieese), trouxe boletim dedicado à inserção das mulheres no trabalho remunerado.

 É importante analisarmos esses dados para entender melhor o quadro de machismo e misoginia que afeta diretamente a vida laboral de mulheres. 

As diferenças são perceptíveis, pois, apesar do número semelhante de mulheres e homens participantes da PEA (população economicamente ativa), o desemprego e as ocupações precarizadas as afetam mais. 

Entre o segundo semestre de 2020 e o segundo semestre de 2021, houve uma pequena queda no índice de desemprego, para ambos os sexos, mantendo a diferença entre eles e elas. Enquanto a taxa para homens está em 14, 5%, para elas sobe para 19,4%, mesmo que a escolaridade das mulheres seja maior que a dos homens.

Além disso, a redução das taxas de desemprego é apenas quantitativa, pois segue a tendência da divisão do trabalho em um mundo dominado por homens brancos, ou seja, houve redução do contingente feminino assalariado no setor público e aumento do número de mulheres ocupadas no trabalho autônomo e no emprego doméstico. 

O rendimento médio real das ocupadas sofreu redução desproporcionalmente severa em relação ao experimentado pelos homens.

Outro problema é o tempo de procura por trabalho, para as mulheres chega a ser, em média, 55 semanas, enquanto que para os homens gira em torno de 49 semanas. Para ambos os sexos é um tempo muito longo para quem precisa de trabalho para garantir a sobrevivência, muitas vezes, de famílias numerosas, mas é ainda mais perverso para as mulheres, conforme mostra a pesquisa.

A linha histórica da Pesquisa de Emprego e Desemprego no DF deixa nítida as consequências da reforma trabalhista aprovada em 2016, que incidiu principalmente entre mulheres, com o aumento de trabalhadoras autônomas, especialmente em 2020, e queda dos postos com carteira assinada. 

Houve discreto aumento em 2021, que não recupera a queda anterior, com ênfase para o trabalho doméstico, onde houve maior crescimento.

Com relação às remunerações, como dito anteriormente, apesar de as mulheres terem mais anos de escolarização que os homens, os salários são inferiores. 

Vejam o diz o relatório: “Entre o 2º semestre de 2020 e o mesmo semestre de 2021, o rendimento médio real por hora auferido pelas mulheres diminuiu (-16,0%) em intensidade bastante superior à observada para os homens (-6,6%)”. 

Historicamente as mulheres possuem rendimentos inferiores aos dos homens, mesmo que exerçam cargos semelhantes. 

Então, em 2021, o rendimento médio por hora das mulheres do Distrito Federal correspondia a 79,8% do auferido pelos homens, patamar próximo aos verificados no 2º semestre de 2018 e no 1º semestre de 2019, período agudo da crise econômica, o que demonstra que houve retrocesso em um quadro já bastante preocupante.

A luta por direitos iguais e salários iguais continua atual e necessária. 

E é inadmissível que as mulheres que, em geral, possuem jornada de trabalho estendida, já que ficam responsáveis pelos cuidados, além de receberem menos que homens, trabalham horas sem remuneração, cuidando de suas casas, filhos, parentes próximos e até de maridos que trabalham menos e ganham mais.

*Cleo Manhas é doutora em educação e políticas públicas pela PUC/SP e assessora política do Inesc.

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Márcia Silva