MARÇO DAS MULHERES

Vozes Populares | Na Bahia, projeto busca fortalecer e empoderar mulheres indígenas

"Filhas da Ancestralidade" é resultado de uma articulação política e deve contemplar diversas comunidades do estado

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Delegações de mulheres indígenas da Bahia se destacam em ações na capital do país - Foto: Cícero Bezerra
Eu era a única mulher em vários lugares e hoje eu vejo tantas outras mulheres se destacando

Você conhece o Acampamento Terra Livre? Se trata de uma mobilização indígena nacional que acontece desde 2004, em Brasília, para tornar visível suas demandas e cobrar ação do Estado. A cada ano, o protagonismo de mulheres indígenas têm aumentado ainda mais no acampamento, com delegações de mulheres de todo o país se fazendo presente. 

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Sabia que em 2021 a Bahia enviou a maior delegação de mulheres para capital do país? Foram mais de 20 delegações das diversas regiões do estado baiano levantando suas vozes. Foi a primeira vez que o estado conseguiu levar tantas mulheres para o Acampamento Terra Livre e para a Marcha das Mulheres Indígenas. Com o abril indígena se aproximando, um mês de luta, novamente mulheres de todo o Brasil se preparam para ir até Brasília. 

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Patrícia Pankararé é da coordenadoria geral do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (MUPOIBA) e representante legal da Organização de Mulheres Indígenas Pankararé (OMIPA). Como importante liderança na luta indígena no estado, Patrícia afirma que a grande articulação de mulheres na região tem sido fruto de muito trabalho e que elas estão cada vez mais conquistando seu espaço. 

Para ela, o sucesso de suas companheiras é motivo de alegria coletiva. "Me lembro bem que há uns 8 anos, participei de várias reuniões onde apenas eu de mulher conseguia estar no meio da cúpula, no meio de tantos homens lideranças importantíssimas para o nosso estado. Hoje eu vejo tantas outras mulheres se destacando. Eu fico muito feliz e é isso que a gente almeja", conta. 

As Filhas da Ancestralidade

Uma das ações encabeçadas pela liderança indígena é o projeto As Filhas da Ancestralidade, que busca o empoderamento e fortalecimento das mulheres indígenas na Bahia, dando oportunidade para que elas possam ocupar cada vez mais os locais que desejam. O primeiro passo do projeto, através de uma Emenda Parlamentar, é um diagnóstico por algumas regiões do estado: o que essas mulheres querem? O que precisam? Onde querem chegar? Somente com esse diagnóstico é que o projeto pode andar para a segunda fase.  

"Às vezes elas querem ir a Brasília, às vezes elas querem vender seu artesanato, às vezes querem trabalhar na roça. Elas têm que fazer e tem que ser contemplada com o que elas querem, não com o que a gente almeja", afirma.

O projeto é estruturado por região: Norte, Sul, Oeste e extremo Sul da Bahia. Nesses locais, doze mulheres estarão in loco para realizar pesquisas e questionários nas comunidades. O objetivo é fazer uma sistematização de dados sobre as necessidades das mulheres indígenas entrevistadas. 

A liderança reforça o quanto estar em movimentos organizados é importante para ela, mas entende que nem todas as mulheres indígenas vão almejar o mesmo ou ter as mesmas condições de participar. Não por isso elas serão menos engajadas politicamente. "Nós podemos ser o que nós quisermos", enfatiza. 

Seja nas aldeias, seja nos espaços urbanos, Patrícia reforça a importância de mulheres ocupando espaços de liderança. Só assim as reais necessidades das mulheres indígenas serão postas na mesa, defendidas e atendidas. Afinal, as pautas são diferentes de outras mulheres que vivem realidades diferentes. Patrícia é enfática quando diz: a luta da mulher indígena é ao lado do homem: é a luta por território, pela defesa de direitos e pelo bem viver. 

Para acompanhar a atuação do  Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia, acessa o instagram @muopoiba.

Edição: Vanessa Gonzaga