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Brasília-periferia

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"Cada celebração é tempo de memória e luta pela história daqueles que construíram essa cidade e aqui também constituíram vida, família, moradia, identidade". - Foto: j.b.m.f
Somos uma só Brasília dividida por abismos sociais e por concentração de renda

O pau de arara que trouxe pro sul o nosso nordeste, com as mãos calejadas construiu a metrópole, pau de araras e dores gerados por cassetetes. (Markão Aborígene)

Nesse mês do 62º aniversário da Capital Federal no Planalto Central, retomamos os versos do rapper Gog na música Brasília Perirferia: “A visão já não é tão bela; Brasília Periferia Santa Maria é o nome dela”. A canção fala do contraste centro-periferia com a descrição de diversos cenários. A música nos diz que Brasília é também nossas periferias, e não estão apenas onde estão os moradores da Região Administrativa (RA) I – o Plano Piloto. 

Cada celebração é tempo de memória e luta pela história daqueles que construíram essa cidade e aqui também constituíram vida, família, moradia, identidade.

O trabalhador, a trabalhadora, operários e operárias, vendedores, cozinheiros e cozinheiras e tantas outras profissões calejaram as mãos e enfrentaram constantemente as diversas formas de violência do Estado para aqui permanecer. Candangos e candangas, como ficaram conhecidas.

Para moradia desses trabalhadores são construídas Taguatinga, Gama, Ceilândia e Sobradinho. As cidades se erguem na resistência de quem decidiu viver na Brasília que, com seu trabalho, nasceu.

A Campanha de Erradicação de Invasões (CEI) tinha por slogan “a cidade é uma só”.

Somos uma só Brasília dividida por abismos sociais, por concentração de renda e pela discrepante ação governamental. 

É também por essa história de permanência que somos ligados às localidades em que nascemos e vivemos, as nossas RAs.

Diferente de quem vive/vem para o Plano Piloto, as demais localidades contaram com o trabalho direto dos seus moradores. Santa Maria, Samambaia, Recanto das Emas, localidades da qual podemos denominar “3º fase da construção de Brasília”, exigiram, em algumas quadras, pagamento de itens básicos da infraestrutura, como o hidrômetro. Cada casa erguida é permeada de sonho e suor.

Embora tantos moradores da região de alto padrão e renda do DF, e que sempre extrapolou o Plano Piloto, queiram evocar para si o que é a capital, nossa história candanga nos diz “Brasília é nossa”.

:: Campo da Esperança ::

E que, sendo uma só, exigimos escolas próximas de casa, como pensadas na concepção. Diferente do que tem sido entregue à população, com áreas residenciais sem escolas, centros de saúde, praças e equipamentos culturais.

Queremos espaços de memória e arte para que possamos educar as gerações netas das candangas e dos candangos e afirmar que nossa existência é resistência. Que nossos territórios e nossa existência tenham direito ao orçamento público, a serviços de qualidade.

E não abrimos mão disso, pois é o nosso trabalho e de nossas famílias que constroem cotidianamente Brasília.

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*Suelen Gonçalves, do Coletivo Família Hip Hop

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha do editorial do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Flávia Quirino