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Existe mesmo parto normal?

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Tem um histórico machista e patriarcal que faz com que a vivência de parir seja majoritariamente de uma forma que não deveria ser - Foto: Sidney Oliveira | Agência Pará
Tem muita dor possível e evitável no parto. Tem muita história de violência, de solidão

Ei pessoal, voltei. Era pra ter escrito antes, mas aí aconteceu. A neném nasceu. Aconteceu o parto. E assim... nossa senhora! Não é uma experiência qualquer. Acho que ainda demoro um tempo pra assimilar. Quero dizer, talvez muito tempo. Ou talvez essa seja o tipo de experiência que leve uma vida mesmo, que vai acompanhando a gente. Sei lá.

Sei que fiquei feliz demais de ter lido o relato da Rafa aqui na coluna. Já leu? Corre lá, ela conta como foi a gestação dela pelo SUS. Aliás, fica o reforço, o espaço aqui é aberto. Se você quiser escrever também, manda pra nós! Vamos aproveitar bem aqui este espaço generoso que o Brasil de Fato MG abriu pra falar de todos os assuntos sobre parentalidade.

Estou sinceramente surpresa com o quão pouco eu sabia e sei disso tudo. Eu até acho que tinha me preparado para o parto, estudado, me informado. Mas, agora que vivi, que senti a loucura que é vivenciar essa expressão dar à luz, eu fiquei com vontade de ouvir todas as mulheres falando de como foi pra elas.

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E acho que todo mundo devia ouvir, devia ter umas rodas públicas sobre isso, programas de televisão, relatos longuíssimos publicados no jornal do ônibus. Porque tenho pra mim, que estamos pouco preparados no geral, como sociedade e sistemas de saúde, pra isso.

Tem muita dor possível e evitável no parto. Tem muita história de violência, de solidão. Tem um histórico machista e patriarcal que faz com que a vivência de parir seja majoritariamente de uma forma que não deveria ser. Eu falei que ainda não sei falar sobre isso, mas uma coisa eu tenho certeza: deve ser impossível lidar com as dores do parto deitada numa cama.

Ou seja, todas as cenas de novela e de filme, meu deus, como assim? Não existe isso. A gente precisa seguir minimamente o que o corpo pede, andar, sentar, tomar banho. A gente precisa ter a segurança que teremos o direito de ter o melhor atendimento possível, as melhores recomendações.

Por exemplo: as mulheres precisam ter o direito de serem bem orientadas sobre o tipo de parto que podem ter, se cesariana ou vaginal/normal. É claro que a gente precisa estudar, ter bastante elementos e fazer o plano de parto, saber o que queremos. Mas, numa hora de tanta fragilidade, se um médico ou outro profissional de saúde falar pra você: ‘no seu caso, por a + b, é melhor cesariana’. Você vai questionar? Ou vai acatar, porque quer o melhor pra você e para o seu bebê?

Pois é, eu sinto que toda a pressão, de novo, volta pra nós mulheres. Não basta ter informação, tem que ter segurança total da informação para peitar um profissional. Porque talvez precise mesmo, afinal o Brasil está na estatística de campeão de cesarianas, desnecessárias. Mas como exigir tanto de nós?

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No meu caso, não foi exigida cesariana. Fui respeitada e tive um parto longo, intenso, mas “normal”. Será que normal? Quando me perguntam isso, eu demoro um pouco pra responder. Não sei se foi normal. Sei que me senti mais conectada a todas as mulheres que passaram por isso. E quero neste texto abraçar todas, ouvir cada relato, dizer que somos realmente foda demais da conta. Vou deixar meu e-mail aqui, quem sabe você anima me contar como foi pra você e a gente começa juntas esse grande relato coletivo? Me manda no [email protected].

Um abraço e vamos juntas.

 

Joana Tavares é jornalista, militante por um projeto popular para o Brasil e adora comunicação popular, cachorros, boas perguntas e conversa fiada.

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Larissa Costa