Rio de Janeiro

Nesta sexta

Ensaio Aberto estreia "Morte e Vida Severina" após reverter despejo do Armazém da Utopia no RJ

Companhia de teatro, que se propõe a fazer do teatro uma forma de pensar política, completa 30 anos em 2022

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Peça conta a trajetória de Severino, um migrante que deixa o sertão nordestino em busca de melhores condições de vida no litoral - Companhia Ensaio Aberto

A Companhia Ensaio Aberto, grupo de artistas cariocas que se propõe a fazer do teatro uma forma de pensar política, completa 30 anos em 2022. Para celebrar a data, a companhia vai lançar a peça “Morte e Vida Severina”, inspirada no livro de mesmo nome de João Cabral de Melo Neto, que conta a trajetória de Severino, um migrante que deixa o sertão nordestino em busca de melhores condições de vida no litoral, mas em seu caminho encontra injustiças e morte.

A peça, musicada por Chico Buarque, vai estrear na sexta-feira (6) no Armazém da Utopia, região central do Rio de Janeiro, com entrada gratuita e segue em cartaz até junho.

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O ator Gilberto Miranda, que interpreta o personagem Severino na peça, disse em entrevista ao programa Central do Brasil, uma parceria do Brasil de Fato com a rede TVT, que apesar de o poema ter sido publicado em 1955 ainda retrata a realidade do povo, não só nordestino, como grande parte da população brasileira.

“Infelizmente nada mais atual. A volta do Brasil ao mapa da fome, a volta da miséria. Quando ele [João Cabral de Melo Neto] escreveu em 55 havia uma realidade, a da seca no Nordeste, a fome, ou seja, a indústria da morte. Hoje a gente vive a mesma indústria, mas com outra carapaça”, explica o ator.

 

Já o diretor musical da peça, Itamar Assiere, acredita que a mensagem que “Morte e Vida Severina” passa é acima de tudo de esperança. “Uma peça que traz grandes questionamentos que poderiam, hoje, se referir a uma situação que aconteceu no passado, mas não, é uma situação atual. Fala sobre todos esses problemas, essas questões, mas no fundo traz uma mensagem de esperança, de que vale a pena a luta”, afirma.


Peça é inspirada no poema do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto / Companhia Ensaio Aberto

Tentativa de boicote

Às vésperas da estreia da peça “Morte e Vida Severina”, a Companhia Ensaio Aberto recebeu uma ordem de despejo do Armazém da Utopia marcada para esta quinta-feira (5), às 7h da manhã. O grupo de artistas denunciou, nas redes sociais, que a ordem de despejo é ilegítima e que eles continuariam ocupando o espaço. Na noite de quarta-feira (4), o desembargador Fernando Cerqueira Chagas anulou provisoriamente a decisão de despejo.

A alegação para ação foi de que o imóvel pertence ao Pier Mauá, empresa que administra o Terminal Internacional de Cruzeiros do Porto do Rio de Janeiro. No entanto, o espaço é cedido pela Prefeitura do Rio em acordo definitivo com o grupo de teatro.

Além disso, em outubro de 2021, o Armazém da Utopia foi considerado Patrimônio Imaterial Cultural do Estado do Rio de Janeiro, que garante que as atividades realizadas no espaço sejam de cunho social.

"Para evitar qualquer tipo de ação temerária ao arrepio da lei manteremos o estado de vigília aqui  no Armazém da Utopia. Pedimos que mantenham o estado de alerta. Qualquer mudança imprevista será imediatamente comunicada em nossas redes sociais. Nossa gratidão a toda corrente de inúmeros apoios recebidos nesse difícil momento. É essa solidariedade que tem sustentado o Armazém da Utopia de portas abertas para todo o nosso público", disse o grupo de teatro em nota enviada na manhã desta quinta-feira (5). 

Edição: Mariana Pitasse