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Como se constrói uma mãe

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Tem os bicos. Do peito, mamadeira, chupetas. Sempre tem os bicos. - Foto: Marcos Sandes
Tem os sonhos, tão variados e profundos, que só mãe mesmo

Por Maíra de Mello Gomes

 

A mãe é moldada por mãos pequenas, redondinhas e macias. As mais delicadas.

Algodão e água morna. Carinho, toalhas e pelúcias.

Para construir uma mãe, vai um tanto de banho. Banho à tarde, pela manhã, banho à noite. Banho do sono. Banho de carícia, de massagem, de limpeza.

Tem os bicos. Do peito, mamadeira, chupetas. Sempre tem os bicos.

Ela se alimenta de restos de fruta - a casca, na maioria das vezes. Mas também aceita restos do feijão e do biscoito.

Mãe se constrói com choros. Muitos. Infinitos. E remédios, e sintomas, e suspeitas.

Curvas. Das perninhas, do carro em movimento, curva do crescimento, do mordedor adequado.

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Olhares constroem mães. Olhares profundos, certeiros, tão doces, tão sinceros, tão únicos. Olhares que são só delas, e de mais ninguém. 

Limpar o chão dos restos, panos, roupas, vassoura aqui e acolá. Todo dia. O dia todo.

Espera. Para construir uma mãe, tem que ter um bocado de espera. Desde o princípio, até para sempre.

Uma mãe se constrói de 365 dias de NÃO. NÃOs graves, baixinhos, sinalizados com os dedos ou gestos diversos. Tem até música pro NÃO.

Ao se fazer uma mãe, é preciso o cheirinho.  Ah, o tão conhecido e especial cheirinho. [Se fosse possível guardar, ou engarrafar...]

Medo. Um medo que nem sei. Medo que vira estrutura de mãe, de tanto que é. 

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Assim também, se constrói uma mãe: na chuva, as maritacas alvoroçam. E mãe tem desejo de mostrar e ensinar a beleza ao filho. Desejos, desejos! Desejos de ensinar, orientar, ajudar.

De monte tem também os sonhos. São tantos, e tão variados e tão profundos. Que só mãe mesmo.

Eca, lixo, caca, sujo. Anúncios do que não deve ser feito, tocado, comido. Mãe é feita de um tanto desses.

Ah! Ao contrário do que pensam, palpites não são necessários para se fazer uma mãe. Então, estão de fora os palpites.

Os dedinhos aprendendo, os movimentos de cada falange sendo apreciados bem de pertinho, com orgulho.

Ahhh o orgulho, de orgulho se constroem as mães. Orgulho, orgulho, orgulho! Orgulho de suas crias por cada tudo.

Arruma, guarda, lava, limpa. Sem dúvida alguma, é preciso serviço de casa para construir uma mãe. Muito serviço de casa.

Os sorrisos são muitos, demais. Tem aquele primeiro - ou os primeiros, inesquecíveis. E depois não param de vir. Vem com sons de todo tipo, que de alguma forma fazem até dançar.

E assim, se fazendo, elas vão. As mães. 

Um se fazer sem fim. Ainda depois, seguem se construindo, as mães.

Mãma, dá, eu te amo, te odeio, me ajuda, sai daqui. Palavras constroem as mães, chegando aos poucos, de todo tipo e por muitos motivos.

Vão sendo elas, as mães, sempre em construção.

Nunca ficam prontas, nunca se acaba a construção de uma mãe. Mas preparadas, ah, isso elas ficam. Para qualquer coisa.

Aos trancos e barrancos, elas estão ali, ao lado da cria. Beijam, abraçam, choram. Amam. As mães, elas amam.

 

Maíra de Mello Gomes é jornalista e mãe da Maria Lúcia. Tudo em construção permanente.

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

 

 

Edição: Elis Almeida