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Tite mantém a base em nova convocação da Seleção Brasileira

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Tite divulgou a lista de convocados para três amistosos no mês de junho - Lucas Figueiredo / CBF
A análise sobre as escolhas precisa ser mais fria, contextualizada e menos apaixonada

*Por Luiz Ferrreira


Dizem por aí que ninguém mais liga pra Seleção Brasileira, mas sempre que uma nova lista de convocados é divulgada, parece que aconteceu uma hecatombe nuclear nas redes sociais. A grande verdade, meus amigos, é que ela ainda mexe muito com a nossa paixão. Mesmo depois da famosa e lendária camisa amarelinha ter sido usada como pano de chão nesses últimos anos.

Esse cenário se repetiu na última quarta-feira (11), quando Tite anunciou a lista de jogadores convocados para os três amistosos de preparação para a Copa do Mundo a serem realizados no mês de junho. De novidade, apenas a presença do jovem Danilo, volante do Palmeiras. Vamos à lista:

- Goleiros: Alisson (Liverpool), Ederson (Manchester City) e Weverton (Palmeiras);

- Zagueiros: Eder Militão (Real Madrid), Gabriel Magalhães (Arsenal), Marquinhos (PSG) e Thiago Silva (Chelsea);

- Laterais: Daniel Alves (Barcelona), Danilo (Juventus), Alex Sandro (Juventus), Alex Telles (Manchester United), Guilherme Arana (Atlético-MG);

- Meio-Campistas: Bruno Guimarães (Newcastle), Casemiro (Real Madrid), Danilo (Palmeiras) Fabinho (Liverpool), Fred (Manchester United), Lucas Paquetá (Lyon), Philippe Coutinho (Aston Villa);

- Atacantes: Gabriel Jesus (Manchester City), Gabriel Martinelli (Arsenal), Matheus Cunha (Atlético de Madri), Neymar (Paris Saint-Germain), Raphinha (Leeds United), Richarlison (Everton), Rodrygo (Real Madrid) e Vinícius Júnior (Real Madrid).

Precisamos reconhecer que os nomes convocados são sim excelentes. Tite aposta na base que disputou as Eliminatórias para dar mais entrosamento e consolidar ainda mais seu conhecido estilo de jogo. E não há absolutamente nada de errado com isso. Muito pelo contrário.

Este colunista, no entanto, não ignora o clamor popular (e de boa parte da imprensa esportiva) pela convocação de Raphael Veiga, Hulk e Gabigol, justamente os três jogadores que mais se destacaram no futebol brasileiro nas últimas três temporadas. Só que a análise aqui precisa ser mais fria e contextualizada e menos apaixonada. Principalmente quando o assunto é Seleção Brasileira.

Não é novidade pra ninguém que o futebol jogado aqui está alguns degraus abaixo do praticado na Europa.

Vejam um jogo do Liverpool ou do Real Madrid (os dois finalistas da Liga dos Campeões da UEFA). Às vezes, a impressão que fica é a de que estamos vendo outro esporte. O nível de intensidade é muito mais alto do que aqui. Fora a técnica, a estrutura, a organização das competições e o calendário muito menos exigente e desgastante que o brasileiro.

Aliás, é interessante notar o seguinte. As mesmas pessoas que pedem a convocação de Raphael Veiga e Hulk são aquelas que diziam que a Seleção Brasileira é fraca e mal treinada porque só joga contra times da América do Sul. Eu, com toda a sinceridade, não consigo ver lógica nisso.

Porque a análise sempre esteve influenciada pelo gosto pessoal, pelas preferências de cada um de nós e pela paixão. Lembra daquele papo de “200 milhões de treinadores” que sempre ouvimos na época da Copa do Mundo? É por aí. E ela, a paixão, influencia diretamente nos nossos julgamentos.

Não que Hulk e Raphael Veiga sejam jogadores ruins. São excelentes e já provaram isso mais de uma vez. Eles apenas estão num contexto que não os favorece tanto. E isso conta demais numa Copa do Mundo. Justamente o torneio que vai reunir os melhores do planeta. E a tal paixão que cega os olhos de quem admira o futebol brasileiro impede que vejamos que o esporte jogado aqui está alguns níveis bem abaixo daquele jogado na Europa.

Isso não quer dizer que o trabalho de Tite é perfeito.

Eu mesmo tenho muitas ressalvas com relação a algumas das escolhas do treinador da Seleção Brasileira e penso que o apego excessivo a alguns conceitos pode ser muito prejudicial em momentos decisivos. Como em 2018 diante de uma Bélgica que só venceu o Brasil porque Courtois pegou até pensamento naquela partida. Ou contra uma Argentina na decisão da Copa América de 2021 em pleno Maracanã.

Mas ninguém, absolutamente ninguém pode fazer que o escrete canarinho é um time fraco. Não dá pra negar a realidade dos fatos. E aqui vai outro questionamento importante: qual seleção que está jogando um grande futebol atualmente? A Itália, que foi eliminada pela Macedônia do Norte depois de empatar contra a Suíça? Ou Portugal, que precisou encarar a repescagem depois de derrota para a Sérvia dentro de casa?

Imaginem só o Brasil passando por situações semelhantes. A CBF seria invadida e transformada em pó.

Manter a base pode ter sido o grande acerto de Tite nessa reta final de preparação para a Copa do Mundo do Catar. Mesmo com toda a corneta e torcida contra o treinador da Seleção Brasileira.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

Edição: Mariana Pitasse