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13 de Maio: a luta por liberdade continua

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"A abolição da escravatura não representou liberdade para o povo negro" - Foto: Carl de Souza/AFP
Garantir a representação das negras e negros na política nacional é uma urgência

“Será que a gente nota quando a história está acontecendo?” Essa frase é do recém lançado Medida Provisória, filme distópico dirigido por Lázaro Ramos e que conta com a atuação de outras personalidades negras, incluindo Diva Guimarães, figura histórica para a luta do movimento negro no estado do Paraná. O filme é uma referência atual para um Brasil do futuro (mas nem tão no futuro) que maximiza o projeto de exclusão da população negra e embranquecimento da população, e nos coloca para questionar quantas vezes as políticas de ódio deram avanços silenciosos enquanto eram tratadas como secundárias, ou foram vendidas como ações de reparação.

Neste 13 de Maio, data cercada de equívocos, Medida Provisória cai como uma luva para expormos que a abolição da escravatura não representou liberdade para o povo negro, e isso se prova ainda mais quando nos encontramos dentro de um contexto político de retrocessos na democracia. O Estado brasileiro, assim como toda grande potência econômica ocidental, fundou-se sobre a exploração dos corpos negros pela escravização e fez da perseguição aos nossos uma política essencial para a organização social da nação. O 13 de Maio representa uma abolição inacabada, com efeito teórico, e que pouco refletiu para as negras e negros.

Nos tornar submissos e despidos de humanidade, expor a população a processos massivos de branqueamento mascarado, para mais tarde nos jogar aos morros e periferias em uma tentativa escarrada de apagamento, foi uma política promovida pelo poder estatal e incentivada pelas elites econômicas mesmo depois da abolição, que muito ganharam e ainda ganham com a exploração dos corpos negros e com a hegemonia dos espaços, já que podem manipulá-los para defender a si mesmos à luz do dia.

Os sinais não são mais apenas apitos de cachorro, mas demonstrações escancaradas de desprezo pelo que é de todas e todos, de quem defende um projeto de extinção da diversidade de todos os espaços possíveis e silenciamento total das nossas vozes. O processo de enfraquecimento das vias democráticas tem impacto direto sobre as vidas negras. Fazer com que as universidades e os parlamentos voltem a ser lugares restritos para os brancos, homens e ricos é o ponto zero da política neoliberal, e nós sabemos qual o outro lado da moeda.

Assegurar políticas públicas efetivas para o povo negro, e que produzam uma reparação histórica real sobre o fato que foi a escravização e os anos de dívida colonial que o país ainda possui, está como uma das tarefas principais para que o povo negro brasileiro continue a ter acesso a direitos básicos fundamentais. Garantir a representação das negras e negros na política nacional é uma urgência para efetivar de fato a democracia e um avanço essencial para a luta antirracista, para que as mazelas do racismo sejam enfrentadas não apenas na denúncia, mas com o ímpeto da nossa identidade traduzida em voz ativa e política.

Ausências dizem muito, sim, mas a presença grita, e mais do que isso, transforma as pontas afiadas da exclusão em força pungente de retomada a um projeto de todas e todos, e que realmente signifique liberdade para o povo negro. Por isso, a gente só vai ter de fato encerrado essa página, que foi o período da escravização, e poder falar em uma abolição legítima, quando o Estado brasileiro assumir profundamente o combate ao racismo, e que a gente consiga ter um caminho pavimentado para superação do racismo.

*Carol Dartora é vereadora de Curitiba pelo PT, primeira mulher negra eleita para a Câmara Municipal da capital do Paraná. Professora de História, mestre em Educação, doutoranda em Tecnologia e Sociedade, militante da Marcha Mundial das Mulheres e do Movimento Negro.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato. 

Edição: Lia Bianchini