Paulo Sousa será demitido na primeira sequência de resultados ruins no comando do rubro-negro

*Por Luiz Ferreira

Confesso que eu não sou lá muito chegado em fazer previsões do futuro. Se eu fosse bom nisso, já teria previsto os números da Mega Sena e assumido o papel do Professor Xavier numa versão tupiniquim dos X-Men. No entanto, os últimos acontecimentos me deixaram com algumas impressões interessantes que vou dividir com vocês aqui.

Jorge Jesus desembarcou em Istambul nesta terça-feira (31) para assinar contrato com o Fenerbahçe. O clube turco já vinha mantendo contato com o ex-treinador do Flamengo desde final do ano passado e a classificação para a fase eliminatória da Liga dos Campeões acelerou o acerto com o “Mister”. A chegada de Jorge Jesus à Turquia foi transmitida ao vivo pelo canal do Fenerbahçe no YouTube e cerca de 18 mil pessoas estiveram no aeroporto para receber o novo comandante da equipe.

Vale lembrar que JJ esteve no Brasil recentemente e revelou ao site UOL seu desejo de retornar ao Flamengo, mas que só esperaria até o dia 20 de maio por um acerto com o clube da Gávea. E isso num momento em que Paulo Sousa sofria demais com as críticas pelo desempenho ruim do time e também com a pressão enorme da torcida pelo retorno do “antigo Mister”. A diretoria rubro-negra bancou a permanência do “Romântico” no comando da equipe.

O que não se sabe até o momento é se essa decisão foi tomada por convicção dos dirigentes do Flamengo no trabalho de Paulo Sousa ou se essa “confiança” disfarça uma certa birra com Jorge Jesus por causa da forma como o treinador de 67 anos deixou o clube em 2020.

Mas eu posso garantir uma coisa: Paulo Sousa será demitido na primeira sequência de resultados ruins no comando do Flamengo.

Não é informação. É previsão do futuro. Purinha.

Digo isto porque não consigo ver na diretoria rubro-negra esse respeito aos processos que todos nós defendemos quando um treinador assume um time. E esses processos englobam o entendimento mútuo entre comissão técnica e jogadores, o entrosamento com o novo modo de jogar e a implantação das ideias do novo comandante. Tudo isso requer condições de trabalho, tempo e paciência.

O problema é que nenhum dirigente respeita isso.

Basta a menor pressão dos torcedores mais afoitos para que as mudanças aconteçam. E com isso, todos aqueles que mandam no clube tiram o “fiofó” da reta. Acontece a mudança no comando técnico e o chamado “fato novo” acalma a torcida. E esse processo todo acontece novamente num ciclo vicioso e sem fim.

Sobre o Flamengo, estava muito claro para este colunista que a diretoria não queria passar pela pressão de trazer Jorge Jesus de volta. Acabou que o “antigo Mister” se transformou numa espécie de escudo do “Mister atual” do Fla. Enquanto JJ estivesse desempregado, Paulo Sousa se manteria no cargo. Simples. Agora, o cenário é completamente diferente. O “Romântico” não tem mais seu escudo. E a diretoria rubro-negra agora pode usar um discurso bem diferente (no caso de eliminações ou derrotas em sequência) e falar que “os resultados não foram os esperados e optamos pela mudança no comado técnico”.

Entendam bem uma coisa, meus amigos. A qualidade do trabalho do “Romântico” nunca esteve no centro dessa discussão. O que estava em jogo era a narrativa, era descobrir quem teria razão no final dessa história toda. A escolha do treinador (seja ele quem for) nunca passou por critérios técnicos.

Podem anotar. Paulo Sousa será jogado aos tubarões na próxima sequência ruim à frente do Flamengo.

Será usado como o “boi de piranha” por uma diretoria que erra em absolutamente tudo desde que o ano mágico de 2019 terminou.

Agora, se o “Romântico” mantiver a sequência de vitórias, vamos ver todos eles aparecendo novamente, tirando fotos e falando em “gelo no sangue” como se nada tivesse acontecido. Exatamente como aconteceu na virada sobre o Fluminense no último domingo (29).

E eu reforço aqui a tese que levantei há alguns dias aqui mesmo no Brasil de Fato. Paulo Sousa é o menor dos problemas do Flamengo. Não adianta nada demitir o treinador e deixar quem tomou tantas decisões erradas continuar mandando e desmandando no clube.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse