DIREITO DAS ÁGUAS

Vozes Populares | Em meio a ameaças, é o povo quem protege as águas do Velho Chico

No Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco, comunidades tradicionais se unem contra a exploração do patrimônio

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Movimentos populares e comunidades tradicionais denunciam ameaças ao Rio São Francisco neste 3 de junho - Foto: Agência Brasil
Nem na ditadura se destruiu tanto a natureza como agora

O Rio São Francisco, ou o Velho Chico, como é apelidado carinhosamente, é o maior rio inteiramente brasileiro. Ele percorre mais de 2.800 km e passa por seis estados: Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, além do Distrito Federal. Se por um lado, garante a sobrevivência de milhares de comunidades tradicionais; por outro, sofre ataques constantes que ameaçam sua existência. Por isso, no dia 3 de junho, movimentos populares lutam em defesa deste patrimônio natural. 

São as suas águas que garantem o abastecimento urbano, a irrigação, a indústria, a geração de energia, o turismo, o lazer, a pesca e a agricultura. Para a vida dos ribeirinhos, no entanto, o Rio São Francisco significa mais do que tudo isso. Conhecido também como Opará (rio-mar), o Velho Chico está presente na vida das pessoas através de lendas e histórias que passam de geração em geração. Muitos defendem que ele tem vida própria. 

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Banhadas por ele, estão uma enorme diversidade de comunidades tradicionais, como as comunidades de barranqueiros, quilombolas, as comunidades dos fundos e fechos de pasto, os povos indígenas e os pescadores. "O rio para eles é vida", é assim que define a educadora popular e coordenadora da Articulação Popular São Francisco Vivo (APSFV), Divaneide Souza. 

Nascida no povoado de Pindoba, em Sergipe, a militante é filha de pescador e agricultora. Assim, desde pequena o cuidado com o rio foi algo presente e natural para ela. Por isso, hoje tomou essa luta como algo central para si. A articulação tem abrangência por todas as terras onde a bacia hidrográfica se estende e atua através da animação da comunidade para luta em defesa do rio e no enfrentamento às ameaças que ele tem sofrido.

Entre elas, Divaneide cita o impacto negativo do agronegócio e responsabiliza a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Segundo ela, a companhia implementa seu modo de produção sem qualquer compromisso social. "Desde que me conheço por gente, a gente sempre plantou o arroz nas lagoas, com a vazão do rio, sem precisar do adubo, sem precisar de veneno", relembra. "A Codevasf pega a água do rio para irrigar esse arroz e essa água volta para o rio com todo o veneno", conta. 

Ela ainda explica que onde essas águas são despejadas há mau cheiro, sujeira e riscos de doenças. Além da questão do agronegócio, a educadora cita a presença de empresas estrangeiras que colocam o lucro acima da preservação ambiental e desconsideram a importância socio-cultural do rio. É o caso da empresa ExxonMobil, que se prepara para explorar petróleo em um trecho próximo à bacia do rio entre Alagoas e Sergipe. 

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Ela ainda aponta que o Governo Bolsonaro tem protagonizado uma grande destruição ambiental. "Hoje, na realidade que nós estamos vivendo no Brasil desses últimos cinco anos, eu digo que nem na ditadura se destruiu tanto a natureza como agora", afirma. "Pra onde você for é só barbaridade, sem respeitar em nenhum momento a vida humana, a vida animal, a nossa floresta, a nossa nascente. Eles não respeitam nada, eles querem o lucro", finaliza.

Diante desse cenário e outras ameaças, Divaneide afirma que é o povo quem protege o rio. São os mais de 18 milhões de ribeirinhos que sentem tanta gratidão pelo rio que dizem: o rio também tem direito. E, por isso, deve ser limpo, livre de agrotóxicos, livre da exploração e, acima de tudo, livre para existir. 

O Vozes Populares é um programete semanal gravado com média de 5 minutos de duração e traz representantes de movimentos populares sobre temas como cidadania, direitos humanos, política, feminismo e assuntos da conjuntura política brasileira. Confira outras edições em nosso site.

Edição: Elen Carvalho