Rio Grande do Sul

Coluna

A campanha das multidões

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"Os Comitês de Luta estão colados ao processo eleitoral, mas irão além das eleições, num processo de movimento, de baixo para cima, como em outras épocas de organização popular" - Foto: Carolina Lima
Comitês Populares de Luta estão sendo inaugurados em tudo que é lugar com grande entusiasmo e adesão

Entramos em julho e faltam apenas 3 meses para a eleição de 2 de outubro. Muito, muito pouco tempo.

O que vai acontecer? Como saber, como arriscar prognósticos, se ainda sequer são conhecidos, com certeza, quais serão mesmo os candidatos a presidente, governador e senador, quais as coligações e alianças, seja em plano nacional, seja em plano estadual? Que eu me lembre, isso nunca aconteceu em eleições anteriores, eu que participo de processos eleitorais desde 1978.

(Quase) tudo está ainda em aberto, portanto, para as eleições estaduais e nacional que vão acontecer em apenas 3 meses. E não podem ser esquecidas, no cenário atual, as ameaças de todo tipo, inclusive de golpe, do governante de plantão, o que torna tudo ainda mais incerto e, principalmente, perigoso. Não só está colocado em risco o próprio processo eleitoral, mas até mesmo a democracia brasileira.

As eleições de outubro serão efetivamente livres e democráticas? Qual será seu grau de segurança, em todos os sentidos, inclusive física dos candidatos, especialmente a de Lula?

E a conjuntura econômico-social, como estará em outubro? Certamente estará pior, com a fome crescendo rápida e assustadoramente, junto com a miséria e a violência. Mas qual o grau de gravidade da conjuntura em todos os aspectos? Quem o sabe agora, final de junho/início de julho?

Como se comportarão as elites brasileiras e a grande mídia na reta final da eleição, sempre sabidamente conservadoras e antidemocráticas ao longo da história brasileira?

E a guerra lá longe, Rússia-Ucrânia-Europa-EUA, cada vez mais perigosa e imprevisível, e cada vez mais próxima? Quais suas consequências para o resto do mundo?

Mas, no meio de tantos problemas e incertezas, há, ao mesmo tempo e apesar de tudo, sinais promissores para o campo democrático-popular, especialmente se ele conseguir avançar mais no seu grau de unidade política, programática e eleitoral. Exemplos: o pré-lançamento da candidatura de Edegar Pretto a governador, do PT do Rio Grande do Sul, e, depois, sua festa de aniversário, com Ato contra a Fome e com a presença do povo das Cozinhas Comunitárias e Solidárias, assim como a primeira vinda de Lula ao Rio Grande do Sul em 2022. Todos os Atos e atividades mostraram muito povo e militância presentes, até mesmo multidões, acima do esperado. E foram eventos acontecidos quando as campanhas ainda não eram oficiais e, portanto, estavam em construção.

Sinais são sinais.

“A eleição de 2022 não é programática, mas plebiscitária”, analisa corretamente Breno Altman (www.viomundo.com.br, 28.06.2022). Numa situação de plebiscito, mais que de debate e opção por este ou aquele programa de governo, o contexto eleitoral transforma-se, adquirindo outro caráter. Vota-se a favor ou contra uma ou outra candidatura, em verdadeiro plebiscito de sim ou não.

Os últimos acontecimentos e escândalos – caso do ex-ministro da Educação, caso do ex-presidente da Caixa Federal, entre outros – reforçam esta possibilidade de uma eleição plebiscitária. Caso isso se confirme até 2 de outubro, os ânimos tendem a se acirrar, o que torna tudo, muito mais perigoso e imprevisível. Mas também abre-se a oportunidade, a exigência, a necessidade e a urgência da mobilização de massa, povo e multidões nas ruas.

O entusiasmo da militância por onde se anda, nos debates, na organização de pré-canditaduras proporcionais, está em crescimento, o que é animador. O povo na rua, mesmo com todas as restrições por causa da pandemia, é surpreendente em todos os sentidos. Foi também o que se viu em grande Ato em defesa da água pública e contra as privatizações em Porto Alegre esta semana, como também em mobilizações de professores e funcionários públicos, em greves e lutas de movimentos populares.

Nada indica que a mobilização vá diminuir. Muito ao contrário. A tendência é a mobilização, aos poucos, voltar-se para o processo eleitoral, possivelmente plebiscitário. Não há outro caminho senão ir para a rua em cada vez maiores mobilizações. É o que irá garantir a soberania nacional, os direitos das-os trabalhadoras-es e salvar a democracia.

Comitês Populares de Luta estão sendo inaugurados em tudo que é lugar com grande entusiasmo e adesão. Os Comitês estão colados ao processo eleitoral, mas irão além das eleições, num processo de movimento, de baixo para cima, como em outras épocas de organização popular e conscientização coladas na educação popular de Paulo Freire. O inédito viável mais uma vez está em construção, com a denúncia, o anúncio, a profecia, a utopia e o sonho.  

Não há outro caminho. A América Latina e seu povo estão, felizmente, levantando-se de novo e gritando por liberdade, paz e justiça. O voto em 2 de outubro haverá de expressar esse sentido de futuro e esperança.

O que vai acontecer? Saberemos dia 2 de outubro. Até lá, muito trabalho de base pela frente, muito diálogo, intensa mobilização, multidões nas ruas. A democracia popular vencerá!

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko