EXPLORAÇÃO AMAZÔNIA

Falta de transparência em estados amazônicos impede que extração madeireira seja checada

Também nesta edição, estudo sobre termelétrica alerta para a expansão de “fontes sujas” de energia

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Nenhum dos nove estados amazônicos libera dados adequados sobre extração de madeira, mostra estudo - Brasil2/Getty Images/iStockphoto

Um estudo realizado pela rede Simex, integrada por quatro organizações de pesquisa ambiental, que analisaram a evolução da atividade madeireira na Amazônia entre 1980 e 2020, revelou a falta de transparência de dados do setor madeireiro dos nove estados que abrigam a floresta.

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Os estados foram avaliados em seis indicadores relacionados à divulgação de dados das autorizações para exploração florestal, além do documento de origem florestal e da guia florestal, obrigatórios para o transporte e o armazenamento de matérias-primas, produtos e subprodutos florestais, desde o local da extração ou beneficiamento até o destino final.

Acre, Amapá e Maranhão foram considerados os piores na avaliação de transparência por não divulgarem nem as autorizações nem os documentos de transporte. Roraima e Tocantins disponibilizam os dados das autorizações, mas de forma incompleta e desatualizada, além de não divulgarem informações sobre o documento de origem florestal.

O mesmo cenário foi encontrado no caso de Rondônia, o que é ainda mais preocupante, já que o estado concentra a terceira maior área com extração de madeira na Amazônia.

Segundo estado com a maior área de exploração madeireira na região, o amazonas disponibiliza os dados e autorizações de forma atualizada, porém incompleta, e também não divulga informações sobre o documento de origem florestal. Já o Pará possibilita o acesso aos dados, mas apenas as autorizações são atuais e completas.

A exceção foi o mato grosso, estado responsável por mais da metade da área com exploração madeireira na Amazônia. Os dados das autorizações e das guias florestais são acessíveis e atuais, mas, devido ao grande volume de informações, não é possível fazer um download único da base de dados.

Vinicius Salgueiro, coordenador de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida, uma das entidades responsáveis pelo estudo, explica que a falta de transparência de informações sobre a cadeia madeireira dos estados impede a fiscalização para saber o que foi extraído de forma legal e ilegal.

Outro cenário apontado pela pesquisa é a migração da extração madeireira para regiões mais centrais da Amazônia. Antes, a atividade se concentrava ao leste do Pará. Agora, os principais polos de produção estão localizados ao longo do oeste do estado, além do sul do Amazonas e noroeste do Mato Grosso e do Acre.

Segundo o pesquisador do Imazon, Dalton Cardoso, o avanço das atividades para outras regiões ameaça não apenas as áreas conservadas, como também a vida das comunidades tradicionais que vivem nelas. O estudo também aponta para a necessidade de tornar o comércio de produtos da floresta mais sustentável por meio da Bioeconomia.

Segundo números apresentados na pesquisa, o Brasil movimenta cerca de R$ 1,98 bilhão por ano com o comércio de produtos florestais não madeireiros, mas o mercado ainda sofre forte influência do açaí e da castanha do pará.

A pesquisadora do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, Tayane Carvalho, aponta para outras soluções possíveis para manter a floresta de pé e o comércio funcionando.

"Uma outra solução também agregada ao produto madeireiro em si, porque esse é um setor muito focado na venda da peça bruta para construção civil, e essas peças tem pouco valor agregado. Portanto,  a solução é aumentar a quantidade de peças exploráveis. Na Amazônia a gente tem 250 espécies que podem ser comercializada, mas a gente ainda comercializa um grupo muito pequeno, e acaba pressionado ecologicamente falando. Então a gente aumentaria a rentabilidade e a competitividade do setor florestal madeireiro, explica Carvalho.

Confira as principais notícias desta segunda (04/07), no áudio acima.

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