JULHO DAS PRETAS

Vozes Populares | Na Bahia, Instituto Odara fortalece movimento das mulheres negras nordestinas

Instituição teve a iniciativa do Julho das Pretas e atua pela garantia de direitos das mulheres negras há 12 anos

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o Julho das Pretas tem sido um momento de escuta, denúncia, diálogo, fortalecimento, resistência e cuidado. - Tomaz Silva/ Agência Brasil
Não existe luta das mulheres negras sem radicalidade

Nas ciências, nas artes, na política, e apesar das diversas violências e tentativas de apagamento sofridas, as mulheres negras brasileiras vêm dando inúmeras contribuições para o país. Coletivamente elas seguem fazendo enfrentamento ao racismo, machismo e LBTfobia e vêm construindo possibilidades de vida e futuro nas quais caibam todas.

E esse é um mês importante para a luta das mulheres negras. Durante o mês de julho, em pelo menos 18 estados do Brasil, são realizadas diversas atividades para marcar o Julho das Pretas, que culmina no dia 25, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data foi criada há 30 anos como forma de homenagear mulheres negras importantes, mas, hoje, ganha sentido mais amplo.

O Julho das Pretas é uma iniciativa puxada pelo Odara - Instituto da Mulher Negra, que é uma organização negra feminista, centrada no legado africano. A organização atua há 12 anos pelo fortalecimento da autonomia e garantia de direitos das mulheres negras, e pelo enfrentamento às violências raciais e de gênero. 

Origem e ações

Naiara Leite é militante do movimento de mulheres negras, coordenadora executiva do Odara Instituto da Mulher Negra e integrante da coordenação da Rede de Mulheres Negras do Nordeste e da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB). Ela explica que o contexto de surgimento da instituição, em 2010, impulsionava as fundadoras a pensar qual modelo de desenvolvimento vinha imperando no Nordeste. “A gente nasce com essa perspectiva de construir o fortalecimento das organizações e movimentos de mulheres negras e enfrentar aquele contexto no qual as mulheres negras na Bahia e em todo o Brasil estavam de fora do que se estava pensando sobre desenvolvimento”, destaca. 

Diante de um contexto de extrema violência contra as mulheres negras e seus familiares, além do aumento do desemprego, da pobreza, da fome e do não acesso à moradia, o Odara entende que é fundamental fortalecer o movimento de mulheres negras. “A partir disso a gente está na coordenação da Rede de Mulheres Negras do Nordeste, porque a gente entende que a atuação, para dar conta desse cenário, deve ser coletiva. Então, se numa região como o Nordeste, que a gente vive a extrema escassez e vulnerabilidade do conjunto de mulheres negras, seja ela rural ou urbana, LGBTQIA+, a  gente vai precisar dar conta disso a partir de um caminho conjunto de diversas organizações de mulheres negras”. 

O debate sobre democracia também ganha centralidade nas ações do Odara. Nesse sentido, Naiara explica que a organização tem fortalecido os debates para dentro das comunidades de axé, "trabalhando muito com mulheres negras da religiões de matriz africana para pensar participação, para refletir sobre democracia, sobre laicidade do Estado, e para refletir sobre ações que, de fato, produzam efeito na luta contra o racismo religioso".

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Julho das Pretas e o legado da luta

Iniciativa do Odara, o Julho das Pretas tem sido um momento de escuta, denúncia, diálogo, fortalecimento, resistência e cuidado. "O Julho das Pretas foi um marco para o Odara, porque, a partir disso, a gente fortaleceu uma agenda coletiva em torno dessa data. Além disso, deu outro sentido ao 25 de julho, como uma expressão extrema de luta e de denúncia das violações contra as mulheres negras. Deu visibilidade a todas as organizações e ações desse grande movimento de mulheres negras, principalmente na região Nordeste", destaca a militante.

Ao longo desses anos de atuação, Naiara Leite compartilha qual o recado que a luta das mulheres negras deixa para o Brasil. “A luta das mulheres negras é e sempre será um ponto de grande radicalidade. Não existe luta das mulheres negras sem radicalidade. E, para ter radicalidade, é necessário ter insurgência. E, para ter e se construir perspectiva de insurgência, é necessário romper com a subalternidade, seja ela nas relações comunitárias, nas relações individuais, nas relações políticas, partidárias. Não tem acordo, não tem combinado, não tem recuada, se não tem um lógica de compromisso com a vida e com a perspectiva das mulheres negras nesse país.

Para conhecer mais o trabalho do Odara - Instituto da Mulher Negra, você pode acompanhar o Instagram @odarainstituto. Para ter acesso a toda programa de atividades do Julho das Pretas de 2022, basta acessar o site da instituição.
 

Edição: Vanessa Gonzaga