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Coluna

Terrivelmente cada dia mais parecido com o nazismo

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"A sociedade alemã, ainda que com resistências, aceitou a existência dos grupos paramilitares de repressão nazistas que vagavam pelas ruas perseguindo judeus, ciganos, comunistas e socialistas" - Montagem
A consolidação do nazismo se deu pela sua aliança com a burguesia alemã e os militares conservadores

O período extremo do horror nazista foi a Segunda Grande Guerra Mundial. O nazismo criou, em um curto espaço de tempo, um mundo cercado por arame farpado e envenenado por gás. Um mundo despedaçado ética e moralmente. A tragédia do nazismo foi uma vilania contra civis. Um assassinato em escala industrial perpetrado contra populações desarmadas. A segunda guerra matou entre 60 e 70 milhões de pessoas, afundando o mundo em uma crise sem precedentes e com consequências até os dias de hoje.

Um período que absorve grande parte da atenção e das referências à violência nazifascista. Conteúdo, aquele ápice do horror foi resultado de um processo progressivo de naturalização da violência e dos atos de perseguição política e segregação social. A sociedade alemã, ainda que com resistências, aceitou a existência dos grupos paramilitares de repressão nazistas que vagavam pelas ruas perseguindo judeus, ciganos, comunistas e socialistas. Esses grupos mataram, perseguiram e humilharam milhares de pessoas e estimularam todo o tipo de iniciativa individual de ameaças e violências que pudessem ser realizadas contra os grupos e indivíduos não nazistas.

A extrema direita brasileira está cada vez mais parecida. Terrivelmente parecida. A ditadura nazista se processou pela ocupação dos espaços institucionais abertos pelo conservadorismo tradicional alemão tão cioso de proteger seus privilégios em uma conjuntura de crise econômica – a partir de 1930 os indicadores econômicos alemães entram em queda abrupta – e de forte pressão do movimento dos trabalhadores. O medo de compartilhar a riqueza fez com que a burguesia alemã se associasse ao autoritarismo e ao monstro do nazismo.  

O mesmo medo e a mesma avareza, frente a uma crise econômica e a perda de competitividades, levou a burguesia brasileira a um movimento golpista e reacionário, expressos nas armações associadas do impeachment e da Lava-jato. O resultado foi que neste lusco fusco da aventura golpista, emergiu o monstro do bolsonarismo.

A consolidação da ditadura nazista se deu pela sua aliança com a burguesia alemã e o apoio do conservadorismo militar. Essa santa aliança lançou mão do terror e da violência. Os esbulhos, as evacuações forçadas, os assassinatos e atentados foram usados em profusão para influenciar o voto da população alemã e, posteriormente, legitimar a ditadura.

O atentado com bomba incendiária, no comício de Lula, no Rio de Janeiro, dia 7 de julho, já prenunciava novos atos de violência e indica que a extrema direita quer estabelecer uma situação caótica para impedir a livre definição eleitoral da população brasileira. Dias depois a tragédia anunciada se realizou. Um bolsonarista, na melhor tradição da cultura fascista, assassinou um militante petista.

Se no nazismo a violência quotidiana era organizada e executada a partir de uma organização paramilitar conhecida como SA, no Brasil o fascismo bolsonarista começa a armar militantes dispostos a executar o plano de desestabilização da democracia organizado e difundido pelo núcleo dirigente do governo bolsonarista.

Esses milhares de fascistas armados, que se organizam em redes sociais e grupos de mensagens pela Internet, se não perceberem e temerem a reação da sociedade e a repressão da lei e da Constituição por parte do Estado, se sentirão encorajados a mergulhar em seu prazer sociopata de não tolerar a pluralidade e a diferença.

A lascívia e descaso com a naturalização do fascismo e de sua política por parte dos setores liberais, centristas e a burguesia não nos surpreende, vista sua tradição histórica, mas isto não os torna menos responsáveis pela possibilidade do mergulho definitivo do país na crise. Crise não só econômica, mas também moral e ética que vivemos.

A perigosa rota que a primeira delegada de polícia encarregada do caso do assassinato de Marcelo Aloízio de Arruda, afastada do caso poucas horas depois de sua entrevista, e a opção editorial das grandes empresas de comunicação, muito bem descrita no artigo de Sandra Bitencourt, são expressões de que a luta política não pode se basear em uma crença, sem evidências, no adágio do pleno funcionamento das instituições.

As instituições do Estado brasileiro, se deixadas a funcionar por seu livre arbítrio, pesarão em favor da elite e da direita.

As denúncias, a mobilização internacional e outras ações adequadas ao devido reconhecimento de que se trata não somente uma corriqueira disputa eleitoral, mas de enfrentar um inimigo da democracia e um risco para sua existência. Enfrentar é fundamental para que não venhamos a nos despertar naquela situação dramaticamente sintetizada pelo teólogo Martin Niemöller, registrando o desespero de um sujeito que não reagindo às injustiças contra os da sua volta - por não se ver identificado com eles - não mais tinha a quem pedir ajuda e socorro quando, finalmente, vieram lhe exterminar.

Neste conflito de consciência pode desaguar a vida daqueles que insistem em não reconhecer, na luta contra o fascismo de Bolsonaro, uma batalha entre civilização e barbárie.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko