Rio Grande do Sul

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Nos falta um nada, ou quase um nada, o que não é o mesmo, mas é quase igual

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"Precisamos ajudar a construir um local melhor, desmascarando os cafajestes e prestando homenagem aos verdadeiros heróis e heroínas de nosso tempo" - Charge: Laerte
Precisamos reanimar o brilho nos olhos da cidadania, fortalecer os comitês, estimular nossos amigos

É verdade, podemos escolher quem somos. E isso se define a partir do grupo com quem nos identificamos, com quem nos lambuzamos, com quem nos fazemos misturar.

Por isso, apesar dos horrores patrocinados por bolsonaristas esta semana, casos como o daquele médico anestesista que estuprou a paciente sedada para cesariana, do policial que invadiu a festa de aniversário de liderança petista e o matou, das bombas de efeito moral jogadas no carro do juiz que deu prisão a um dos ex-ministros corruptos de Bolsonaro, e sobre a multidão que acompanhava comício do Lula, me parece importante usar este espaço para tratar de outra perspectiva. Para falar de exemplos que contam com meu respeito e admiração.

Justifico esta vista grossa àquelas e outras ações vergonhosas, criminosas, aterrorizantes, realizadas por seguidores do inominável e instigadas por comportamentos de sua família infeliz, pela confiança que me chega pela multiplicação de ações no rumo oposto, nesta mesma semana.

Cresce a consciência entre formadores de opinião e o público geral sobre o que significam aqueles maus exemplos e o desserviço que eles prestam à humanidade em geral e aos nossos próximos, em especial.

Anitta deu seu brado de alerta, avisou a seus 60 milhões de seguidores que votará em Lula no primeiro turno e chamando a todos para “fazer ele bombar na internet”. Agregou-se desta forma a Chico, Caetano, Gil, Pablo Vittar, Fábio Porchat, Gregorio Duvivier e tantos outros.

Nós todos sabemos que a sociedade se organiza em função de chamados à razão e de ações concretas, em atividades do cotidiano, nas bases da vida social. Por isso, trago aqui meu aplauso aos comitês populares de apoio ao esclarecimento da população, sobre a importância do que está em jogo e de que estas eleições se resolvam no primeiro turno.

Em áreas da região Metropolitana e em assentamentos de reforma agrária ecoa, através deles, a frase síntese, ilustrativa do que precisamos neste momento. Precisamos construir a paz. E como ensinou Josué de Castro, para isso precisamos de ação, dedicação, respeito, alimentos e solidariedade, pois “Os ingredientes da paz são pão e amor”.

Em verdade ali se resume o que precisamos construir, com urgência. Ali também se percebe o valor e a necessidade de gestos e do tipo de cidadãos que necessitamos estimular e multiplicar para recuperar um país includente. Não será fácil, mas também o caminho é claro e exige empenho.

Em verdade, exige atender ao chamado da luz, como fazem as sementes em sua hora de germinar. Em certo sentido, é como se fôssemos como sementes, adormecidas pela noite do golpe, intuindo a hora de despertar pela proximidade do dia que nasce.

Disso decorre, também, que podemos imaginar nossas ações como correspondentes às atividades de semeadura. Realizado o plantio de coentro, não colheremos salsinha. Permitindo o domínio do caraguatá, o trevo desaparecerá. E o futuro será consequência de nossas ações. Vale o mesmo na escolha do assunto a discutir aqui como em qualquer outro espaço onde consumimos nosso tempo de vida. Respirando, estaremos construindo o mundo. Com nossa apatia diante de criminosos que estimulam ou praticam barbaridades como as acima descritas, estamos semeando o Brasil onde viverão nossos filhos e netos.  

Nossa indiferença/tolerância diante da não averiguação dos responsáveis pelas mortes de Marielle, Adriano, Genivaldo, Marcelo Arruda, Bruno Pereira e Dom Phillips e tantos outros, nos fazem cúmplices do mecanismo que vem desenhando estes crimes. Somos responsáveis pelo Brasil onde indígenas são assassinados, a Amazônia queima, pastores cobram propinas por recursos subtraídos da educação, etc., etc. De fato, estamos apoiando os pés de barro do mito, quando nos fazemos indiferentes ao acúmulo de benefícios entre eles. Em nossa pasmaceira, estamos enaltecendo aqueles maus exemplos.  

Por isso, precisamos dar novo rumo ao nosso tempo de vida. Precisamos ajudar a construir um local melhor, desmascarando os cafajestes e prestando homenagem aos verdadeiros heróis e heroínas de nosso tempo. Como ilustração, trago aqui homenagem prestada a Bruno, pelo MST/RS nesta semana, durante o lançamento dos Comitês Populares. O canto popularizado por ele e já transformado em kadish – prece pelos mortos – em cerimônia conduzida pelo rabino Uri Lam, em templo judaico de São Paulo foi acompanhado em pé por centenas de agricultores, durante mística de encerramento de encontro regional, no Assentamento Filhos de Sepé/RS.


MST/RS prestou homenagem a Bruno durante o lançamento dos Comitês Populares de Lutas / Foto: Leonardo Melgarejo

Precisamos desta clareza porque estamos definindo, hoje, o perfil das lideranças que serão admiradas num amanhã que se desenha ameaçador, porque imerso em violências que – não sendo contidas já – tendem a evoluir em atentados de terrorismo crescente.

Somos sementes que precisam germinar rápido e crescer em harmonia para evitar que a paralisia do medo se instale entre nós, já aos primeiros latidos de qualquer cachorro louco. Para isso, precisamos reanimar o brilho nos olhos da cidadania, fortalecer os comitês, estimular nossos amigos, parentes, vizinhos e todos os formadores de opinião não cooptados pelos bandidos que querem fazer daqui um país em chamas.

Para o começo de uma nova vida em 2023 precisamos que as eleições se resolvam no primeiro turno. E ajudaremos bastante se tão somente nos propusermos a estimular outras pessoas a observar e desmascarar o que está sendo semeado pelos golpistas. Orçamentos secretos que escondem pencas de fraudes, perdões de dívidas que compram aliados e o atiçamento de ódios contra um “inimigo interno”, que, decididamente, somos nós e nossos filhos.

A música que segue é homenagem aos brasileiros recentemente sacrificados neste país, pela gripezinha, pelas balas, pela fome, pelo medo, pela tristeza e a desesperança implantados entre nós. A música fala de nosso pedido de perdão, a eles, pela alegria com que, sem eles, mas graças a eles, estaremos em breve em um país livre, reconstruindo a felicidade.

 

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko