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Revolução cubana: os revolucionários no poder

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Primeiras medidas reduziram aluguéis e aumentaram salários - Foto: Ricardo Haesbaert/Associação Cultural José Martí do RS
América Latina viu crescer o número de revolucionários

Fidel contava com 32 anos, em 1959, era o mais velho do grupo de jovens que assumiram o poder em Cuba, sem experiência em qualquer assunto da administração governamental. As tarefas e os desafios a serem enfrentados por ele, após a revolução, seriam bastante complicados.

Se formos comparar o conflito guerrilheiro dos anos 50 com as ferozes batalhas da guerra da independência cubana no final do século XIX, que provocou muitas mortes, o conflito dos anos 50 provocou poucas mortes e não afetou substancialmente as riquezas do país. Ao contrário de outros movimentos revolucionários do século XX, Cuba não teve de lutar com uma economia total arrasada.

Che Guevara buscou apoio internacional

Ao entrar com seu exército em Havana, Fidel possuía apenas algumas ideias vagas como resolver os problemas mais urgentes dos cubanos. “Éramos somente um grupo de combatentes com grandes ideais e pouco preparo. E tínhamos de mudar as estruturas e iniciar as transformações”, disse Che Guevara algum tempo mais tarde.

Alinhamento com URSS

Fidel, algum tempo depois, viria a se aliar à antiga União Soviética (URSS) e se tornar o principal dirigente do Partido Comunista Cubano (PCC). Na época da Revolução ele não era membro do PCC. Além do mais, ele dizia na época da Revolução que os rebeldes, não eram “nem capitalistas, nem comunistas, mas humanistas”.

No entanto, alguns dos grupos rebeldes, principalmente os que moravam na área urbana, que ajudaram o Movimento 26 de Julho a derrubar Batista eram comunistas autênticos.

Não se sabe ao certo, quando Fidel adotou o comunismo como sua doutrina política. Acredita-se que foi logo após sua viagem a Washington. Mas após abraçar oficialmente a doutrina comunista, ele afirmou que tinha sido um marxista de muito tempo.

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Nos dias que se seguiram ainda em 1959, a Revolução era o sonho esperado de todos os cubanos. Em todas as casas, principalmente nas mais humildes, podia ver o retrato de Fidel pendurado junto aos santos, além disso, pequenas estátuas de Fidel eram vendidas em cada esquina. As escolas e as instituições do governo trocaram seus nomes para homenagear os heróis tombados na Revolução. Até mesmo a comunidade econômica associou-se nas saudações à revolução.

Toda a América Latina, após a vitória de Fidel, se sentiu provocada e viu crescer o número de revolucionários.

Primeiro governo provisório

O primeiro governo provisório que dirigiria Cuba até a realização das eleições, que seriam dezoito depois, foi selecionado por Fidel. Era composto por homens de meia-idade, moderados da classe média e de conduta contrária a Batista. Manuel Urrutia. Um ex-juiz, foi indicado presidente. Outros postos-chave do governo, como o de secretário de Estado, presidente do banco de Cuba e o ministro das Relações Exteriores, também eram atribuídos a homens de uma geração mais velha, honestos e conservadores.

Apenas dois membros do Movimento 26 de Julho faziam parte do primeiro ministério. Fidel, seguiu como comandante-chefe do exército rebelde, mas no início não compareceu  a nenhuma reunião ministerial. Ele preferia participar do “governo direto” ou seja, no contato direto com o povo. Todos os dias e todas as noites durante quatro ou cinco horas, as estações de televisão e de rádio transmitiam seu discurso apaixonado e sua expressiva imagem para cada cidade, município ou vila de Cuba.

Fidel era um orador nato, nunca preparou seus discursos com antecedência, confiava apenas em sua eloquência e em sua personalidade entusiasta que prendia a atenção de todos ao transmitir suas mensagens.

As primeiras medidas do governo provisório foram mais reformistas que revolucionárias. Eles reduziram os aluguéis e estabeleceram novos níveis salariais. Os diretores dos órgãos governamentais foram substituídos por oficiais revolucionários, o jornal Revolución seria o que publicaria relatos minuciosos da corrupção nos altos cargos do regime de Batista. O jogo e a prostituição foi atacado com rigor, pois foram considerados como os principais suportes do regime anterior.

Fidel afirmou na ocasião: “pela primeira vez, há homens dignos à frente do país, homens que não se vendem, que não vacilam, que não se sentem intimidados por nenhuma ameaça”. Os membros do governo eram conhecidos pelo seu empenho ao trabalho e pela rigorosa repulsa as negociatas.

Fidel assume

No início de fevereiro de 1959, o Primeiro-Ministro provisório renunciou, então Fidel assumiu o cargo. Nisso, podia-se notar que havia dois governos em Cuba: um com sede nos escritórios do presidente e do ministério; outro, onde quer que Fidel estivesse, pois ele possuía três residências diferentes e muito raro se fixava em alguma delas por muito tempo.

Fidel falou no Clube de Imprensa de Washington, em 15 de abril de 1959, onde foi saudado ao chegar no aeroporto da capital dos EUA por uma multidão empolgada. Vários dos que ali estavam, achavam que ele teria ido pedir ajuda estrangeira; no que respondeu aos repórteres: “não; estamos orgulhosos de ser independentes e não temos a intenção de pedir nada a ninguém”.

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Fidel fez palestras em Nova Iorque, Washington e Princeton (Nova Jersey), sempre impressionando os ouvintes. Visitou Universidades, organizações liberais, o zoológico de Nova Iorque, o Estádio Yankee, comeu cachorro-quente e hambúrgueres. Toda a imprensa cobriu seus passos.

Fidel encontrou-se com o vice-presidente Richard Nixon, que o presenteou com os fichários compilados pela CIA (Agência Central de Informações), a fim de lhe mostrar que alguns de seus partidários eram comunistas. Fidel desinteressou-se pelos arquivos, o que desagradou Nixon. A cadeia de televisão CBS, no entanto, transmitia: “Cuba está ficando vermelha?”.

Fidel, que havia declarado publicamente não ser comunista, ficou aborrecido com as constantes perguntas sobre o assunto. Ao retornar a Havana ele disse: “todo aquele que não se vende ou não se submete é tachado de comunista. Quanto a mim, não estou me vendendo aos norte-americanos, nem receberei ordens dos norte-americanos”.

Che em busca de apoio

Enquanto Fidel visitava os EUA, Che Guevara viajava pelo mundo, destinado a obter apoio internacional para Cuba. Foi carinhosamente recebido na China, Índia, Japão, Indonésia, Birmânia, Iugoslávia e Marrocos. Che declarou a neutralidade de Cuba ante a Guerra Fria entre os EUA e a URSS, e disse: “no tabuleiro do poder político nunca nos encontrarão desempenhando o papel de peões”.

Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, conselheiro do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon) e ex-coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG).

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* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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Edição: Elis Almeida