Antes mesmo de começar, a 17º Conferência Nacional de Saúde já carregava uma expectativa extra por ser a primeira após pandemia. O encontro deste ano, que aconteceu em Brasília entre os dias 2 e 5 de julho, reunindo mais de seis mil pessoas, teve a edição anterior, realizada em 2019, em um momento que ninguém poderia sequer imaginar o que viria a atingir o mundo inteiro em questão de meses.
“Foi a primeira após a pandemia e o pandemônio”, define a médica Rosana Onocko, presidenta da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), em entrevista ao programa Bem Viver na edição desta sexta-feira (7).
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Embora esse fato já tornasse a 17º edição da Conferência especial, para a Onocko, o que dominou os quatro dias do evento foi a diversidade.
“Tinha muita gente nova, não de idade, mas de estar, pela primeira vez, na Conferência. Eu nunca vi tanta gente negra, pessoas com deficiência, pessoas orgulhosas de suas roupas, de sua religião, tantos indígenas manifestando sua cultura. Foi uma conferência marcada pela diversidade por conta das Conferências Livres”.
As Conferências Livres que se refere Onocko foram mobilizações populares articuladas desde agosto do ano passado por todo país que garantiram o direito de indicar delegados para participar da Conferência Nacional.
Segundo Onocko, historicamente, a composição dos participantes seguiu um rito burocrático, que impedia a renovação. Ainda que uma marca da Conferência Nacional de Saúde, criada em 1941, seja a do planejamento ascendentes, ou seja, os debates se iniciam nos municípios, depois migram para os estados até que forme o evento nacional.
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A presidenta da Abrasco ressalta que a diversidade foi tão abrangente que, inclusive, pensamentos que não costumavam compor os debates também estiveram presentes. “Havia pessoas com ideias reacionárias, defendendo pautas de costumes, como privatização”.
Segundo Onocko, esses entendimentos foram derrotados nas votações. O parecer final da Conferência ainda não foi divulgado, mas a presidenta já adiantou que uma das resoluções foi pelo debate de legalização do aborto no Brasil
“Por lei, pela Constituição, o plano que sai da Conferência é soberano, ele deve orientar os rumos da saúde nos próximos três anos”, explica a Onocko.
“Significa que amanhã o Congresso vai votar a legalização do aborto? Não. A gente sabe que isso é muito difícil. Mas não muda o fato que nós do movimento social e científico temos respaldo para debater e defender essa ideia”, concluí.
Nísia Trindade
“Nunca tinha visto uma ministra ser ovacionada como se estivesse num estádio de futebol”, descreve emocionada Rosana Onocko como foi a aparição de Nísia Trindade no Conferência.
A chefe da pasta da Saúde sempre esteve presente em espaços de debate como esse. Antes de assumir o ministério, Trindade era a presidenta da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), o que a gabaritava para atuar em eventos como a Conferência Nacional de Saúde.
Semanas antes do encontro, circulou nos bastidores de Brasília o boato de que Nísia Trindade poderia estar ameaçada do cargo por interesse do Centrão, que teria interesse em pôr outro nome na pasta.
A proposta que já não estava mais circulando foi rechaçada no discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último dia do evento.
"A semana passada eu liguei para Nísia. Eu tinha visto uma nota no jornal de que tinha alguém reivindicando o Ministério da Saúde. Eu disse: 'Nísia, vá dormir e acorde tranquila, porque o Ministério da Saúde é do Lula. Foi escolhido por mim e ficará até quando eu quiser'. Eu tive muita sorte com meus ministros da Saúde, mas precisou uma mulher para fazer mais e fazer melhor", disse Lula.
Rosa Onocko também defendeu o trabalho da ministra. “Foi muito importante nesses seis meses, não só ao pôr a casa em ordem, criando departamento, reformando secretárias históricas, Mas também pela intervenção nos yanomami, por exemplo, ou a retomada da vacinação”.
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Edição: Lucas Weber
