O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, voltou a falar nesta quarta-feira (23) que os EUA podem abandonar as negociações sobre a guerra da Ucrânia, caso Kiev e Moscou não cheguem a um acordo de cessar-fogo. Ele afirmou que é necessário tomar medidas decisivas para pôr fim ao conflito e “congelar as fronteiras territoriais a um nível” próximo do que existe hoje.
De acordo com ele, os EUA emitiram uma “proposta muito explícita” à Rússia e à Ucrânia sobre um caminho a seguir para um acordo de paz, acrescentando que “é tempo de dizerem sim ou de os Estados Unidos abandonarem este processo”.
“Fizemos uma oferta muito clara tanto à Rússia como à Ucrânia, e está na altura de dizerem que sim ou os EUA sairão deste processo”, disse o vice-presidente a jornalistas durante uma visita à Índia.
Vance acrescentou que o congelamento das fronteiras do conflito pode não ser a mesma linha de frente de agora. No entanto, para “impedir a matança”, ambos os lados precisam “depor as armas, congelar essa situação e se dedicar à tarefa de construir uma Rússia e uma Ucrânia melhores”.
“Agora, penso que chegou a hora de dar, senão o último, então um dos últimos passos, a saber: declarar a um nível amplo que vamos parar com a matança, congelar as fronteiras territoriais a um nível próximo de onde elas estão hoje”, continuou o vice-presidente, destacando que, neste cenário, Kiev e Moscou teriam de ceder parte dos territórios que controlam atualmente.
Reunião entre Ucrânia, EUA e UE perde relevância
As declarações de Vance ocorrem no mesmo dia em que delegações da Ucrânia, EUA e União Europeia se reúnem em Londres para discutir a resolução do conflito. No entanto, na última terça-feira (22), foi informado que o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, não iria mais participar do encontro.
A desistência de última hora de Rubio foi encarada como mais um sinal de divergência de interesses entre Kiev e a administração de Donald Trump sobre os processos de cessar-fogo da guerra. Posteriormente foi relatado que o secretário de Relações Exteriores britânico, David Lammy, também não participaria mais da reunião, representando um rebaixamento do status do encontro, que passou a ter um caráter de consulta técnica.
Logo após o anúncio do cancelamento da visita do chefe do Departamento de Estado a Londres, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, concedeu uma entrevista coletiva e foi questionado sobre diversas publicações na mídia na última terça-feira (22), citando detalhes do “plano de paz” dos EUA.
De acordo com as publicações, a proposta dos EUA para pôr fim ao conflito prevê que a Ucrânia reconheça a anexação da Crimeia pela Rússia como condição para o fim da guerra. Zelenky rechaçou a ideia, classificando a anexação da península como uma ocupação ilegal.
“Assim que começarmos a falar sobre a Crimeia, sobre nossos territórios soberanos e assim por diante, entraremos no formato que a Rússia deseja, um prolongamento da guerra. Porque não será possível concordar em tudo rapidamente”, disse Zelensky.
O líder ucraniano observou disse ainda que as negociações em Londres devem discutir apenas os termos de um cessar-fogo permanente, mas não concessões territoriais.
“A Ucrânia não reconhece legalmente a ocupação da Crimeia, não há nada a discutir aqui. Isso está fora da nossa Constituição. Este é o nosso território, o território do povo da Ucrânia”, acrescentou.
As declarações do presidente ucraniano reforçaram a especulação de que a recusa em discutir o reconhecimento da Crimeia como território russo seria um dos motivos para a desistência de Marco Rubio em participar da reunião em Londres.
Kremlin pede cautela sobre ‘esboços’ de planos de paz
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, por sua vez, disse que as opções para resolver o conflito na Ucrânia não podem ser tornadas públicas prematuramente. Caso contrário, de acordo com ele, o plano perderá sua eficácia.
“Há muitos rumores diferentes aparecendo na mídia. Quaisquer esboços de diferentes opções de acordo não podem ser tornados públicos”, disse Peskov, pedindo cautela sobre a repercussão deste tipo de publicação. Segundo Peskov, a busca por maneiras de resolver a situação na Ucrânia deve ser conduzida de forma discreta.
Ao comentar sobre a desistência de algumas autoridades de alto escalão de participar da reunião em Londres com a Ucrânia, o porta-voz do Kremlin afirmou que “pelo que entendemos, ainda não foi possível chegar a um consenso sobre algumas questões”.
