O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro apresentou quatro filmes no segundo dia da Mostra Brasília, nesta terça-feira (16). Os concorrentes ao 27º Troféu Câmara Legislativa estão exibindo as obras no Cine Brasília, sede do Festival, e nas unidades do Sesc no Gama, Ceilândia, 504 Sul e no Complexo Cultural de Planaltina. Todas as sessões têm entrada gratuita.
Na Sala Vladimir Carvalho do Cine Brasília, a categoria de filme candango abriu com o curta-metragem de animação O bicho que eu tinha medo, que, de acordo com o diretor Jhonatan Luiz, se passa “num lugar onde máscaras escondem sorrisos e medos”.
A obra apresenta a jornada de Luana, uma menina de sete anos que adentra uma ilha cheia de mistérios e brincadeiras selvagens, precisa enfrentar seus próprios medos enquanto floresce sua energia interior. “Nós optamos em ir fundo, mesmo dentro das limitações do formato, e inserimos símbolos que permitem tanto às crianças quanto aos adultos ver e sentir de maneiras diferentes. Isso é emocionante, pois o filme vai além da superfície e fala sobre acolhimento, pertencimento e transformação”, observa Luiz.
O curta começou a ser elaborado antes da pandemia e, de acordo com o diretor do filme, já foi exibido em festivais no Equador, Colômbia e Chile. Ele afirma que o reconhecimento de países latino-americanos: “mostra como a história consegue dialogar com com a realidade do nosso continente. Então, além do público brasileiro, também estamos tendo uma boa recepção internacional”.
A obra tem a proeza de apresentar alta expressividade com animação sem diálogos falados. Esse fator aumenta o desafio da carga dramática, porém facilita na circulação de mostras internacionais, avaliam os produtores.
O segundo curta é uma peça ficcional de dois minutos. Com narração em francês, A Brasiliense conta a história de Marie, uma jovem nascida no DF cuja vida caminha entre o banal e o fantástico no centro de Brasília. Os hábitos de criatividade e consumo apresentam delírios de um surrealismo de fato brasiliense retratado por meio de quadros estilosos da personagem.
De acordo com o realizador Gabriel Pinheiro, seu projeto inicial era “fazer um filme, um curta curtíssimo, como uma piada, homenageando Brasília”. Com a equipe, ele reuniu “algumas esquetes escritas que já tinha sido escritas, porque gostamos muito de trabalhar com essa coisa do humor irônico, irreverente e foi assim que surgiu A Brasiliense”.
O curta-documentário O fazedor de mirantes, de Betânia Victor e Lucas Franzoni, retrata a trajetória do ex-fotógrafo profissional João Fernandes que construiu, junto ao povoado da vila de São Jorge (GO), pontos de referência em ecoturismo no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
Fernandes contribuiu para ampliar a visitação aos encantos do cerrado, edificando trilhas e miradouros com bases fortes de madeira que oferecem uma vista privilegiada da beleza da região. O acesso tem a vantagem de ser gratuito ou de baixo custo. Enquanto isso, ele também registrou em fotos e vídeos de película a transformação da cidade que tentava sair do garimpo e passou a ser polo do ecoturismo com acesso gratuito ou de baixo custo.
Junto à diretora Betânia Victor, o próprio João Fernandes esteve presente para exibição e debate do filme. Ele destaca a diferença existencial das duas atividades: “é legal porque um fotógrafo tenta aprisionar a luz, já um fazedor de mirantes, libera luz para todo mundo”.
O documentário apresenta belíssimas imagens aéreas da chapada e a transformação do vilarejo de São Jorge ao longo dos anos.
A segunda noite da Mostra Brasília encerrou com o filme Mil Luas, primeiro longa-metragem de ficção de Carina Bini. A obra retrata a vida de Chiara, mulher imigrante da Itália, mãe solo e hoje com 80 anos de idade. Além de ser cozinheira de mão cheia e dona de um restaurante, ela pilota uma mobilete pelas ruas de terra de Pirenópolis e ainda se considera ativa e independente.
Porém, seu mundo começa a ruir com a venda do estabelecimento, que acumula dívidas e anda cada vez menos frequentado. Percebendo que seu legado escapa de suas mãos, Chiara é levada a um doloroso confronto com a própria finitude. Entre memórias e perdas, a personagem tenta redescobrir sua força, autonomia e a liberdade de recomeçar.
“Existe um lugar comum achar que os velhos vão ficando doentes, perdem autonomia e fim de vida. E eu acho que não, estamos numa fase que a gente vê os velhos dentro de um processo de produção, em busca de autonomia, porque eu acho que dentro dos lares os filhos tentam resolver todos os problemas dizendo ‘vá descansar!’. Não, a gente não quer descansar, a gente quer viver!”, destacou a diretora Carina Bini.
A coprodução internacional Brasil/Itália versa com diálogos poéticos, relações de amizade e imagens que traduzem a plasticidade de cores e gostos da cozinha italiana no Brasil.
Em 2024, Bini dirigiu a série As Pajés, dedicada às mulheres indígenas. Atualmente está em fase de preparação o próximo documentário de longa-metragem sobre a repatriação do Manto Tupinambá.

Os filmes da Mostra Brasília continuam em exibição nos próximos dias. Todas as sessões têm entrada gratuita. Confira a programação abaixo.
Premiação
A escolha dos vencedores da Mostra Brasília será feita pelo júri oficial e também por um júri popular composto pelo público das exibições. A entrega do Troféu Câmara Legislativa acontece durante a cerimônia de encerramento do 58º Festival de Brasília, marcada para o sábado (20) no Cine Brasília.
Programação Mostra Brasília
Mil Luas (Ficção, 73 min, 2025, Livre)
17 de setembro (quarta-feira) – 11h no Sesc 504 Sul
Maré Viva Maré Morta (Documentário, 101 min, 2025, Livre)
17 de setembro (quarta-feira)
- 15h no Complexo Cultural Planaltina
Exibição com legendagem descritiva e audiodescrição
17 de setembro (quarta-feira)
- 18h no Cine Brasília – Sala Vladimir Carvalho
Exibição com legendagem descritiva e audiodescrição
17 de setembro (quarta-feira)
- 19h45 no Sesc Gama e no Sesc Ceilândia
Exibição com legendagem descritiva
18 de setembro (quinta-feira)
- 11h no Sesc 504 Sul
A Última Noite da Rádio (Ficção, 73 min, 2025, 18 anos)
18 de setembro (quinta-feira)
- 15h no Complexo Cultural Planaltina
Exibição com legendagem descritiva e audiodescrição
18 de setembro (quinta-feira)
- 18h no Cine Brasília – Sala Vladimir Carvalho
Exibição com legendagem descritiva e audiodescrição
18 de setembro (quinta-feira)
- 19h45 no Sesc Gama e no Sesc Ceilândia
Exibição com legendagem descritiva
19 de setembro (sexta-feira)
- 11h no Sesc 504 Sul
Menino quem foi seu mestre? (Documentário, 86 min, 2025, Livre)
19 de setembro (sexta-feira)
- 15h no Complexo Cultural Planaltina
Exibição com legendagem descritiva e audiodescrição
19 de setembro (sexta-feira)
- 18h no Cine Brasília – Sala Vladimir Carvalho
Exibição com legendagem descritiva e audiodescrição
19 de setembro (sexta-feira)
- 19h45 no Sesc Gama e no Sesc Ceilândia
Exibição com legendagem descritiva
20 de setembro (sábado)
- 11h no Sesc 504 Sul
A programação do Curtas da Mostra Brasília está disponível no site do Festival.
Serviço
58º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
De 12 a 20 de setembro de 2025
Cine Brasília (106/107 Sul), Sesc Gama, Sesc Ceilândia, Complexo Cultural de Planaltina
A programação completa está disponível no site do Festival.
Entrada gratuita