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Pratos típicos feitos por imigrante africano no Brasil alimentam memória e afetos

Feliz encontrou na comida maneira de socializar no território que o acolheu

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O imigrante explica que na sua tribo de origem, acredita-se que as pessoas se alimentam da energia colocada nos alimentos desde o plantio.
O imigrante explica que na sua tribo de origem, acredita-se que as pessoas se alimentam da energia colocada nos alimentos desde o plantio. - Foto: Joana Côrtes
Feliz encontrou na comida maneira de socializar no território que o acolheu

Arepas venezuelanas, kimchi coreano, fufú de mandioca da República do Congo. A culinária dos imigrantes que vivem no Brasil é rica, diversa e saborosa. Para os centenas de milhares que chegam todos os anos no nosso país comer do tempero da comida da terra natal é símbolo de fortalecimento da saúde e dos laços sociais no novo território.

É o caso de Feliz Rafferty, de 48 anos. Nascido na cidade de Yaoundé, na República dos Camarões, na África Central, Feliz chegou ao Brasil em 2010. Engenheiro elétrico no seu país de origem, ele atravessou fronteiras, desertos e oceanos até se estabelecer na cidade de São Paulo. 

Assim como tantos outros imigrantes, o camaronês reinventou um nome e um modo de vida para si. Aqui ele é conhecido como chef Sam. Há três anos e meio ele abriu o próprio restaurante Mamma África no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo.

Sam explica que aprendeu desde pequeno com as mais velhas da sua tribo Bamileke que é a comida que mantém o povo de pé . Ele ensina que a riqueza do alimento está na energia que se coloca desde o plantio até o preparo da refeição.

“Ninguém pode viver sem comer. A gente fala: uma barriga vazia nem tem sentido. Então para comer nós sempre temos que ter uma alegria, para poder montar um prato, para poder fazer qualquer coisa porque tem que comer uma coisa bela para poder me sentir feliz. A comida é muito importante para gente, sem comer não podemos fazer nada.”

Feliz apresenta o pile de pomme, prato típico de Camarões feito a base de feijão e batata principalmente. Foto Joana Côrtes. 

Para o chef Sam, cozinhar e ofertar a comida do seu continente de origem no país onde ele é imigrante é uma maneira não só de garantir o sustento da sua família, como também de se socializar e retribuir o acolhimento brasileiro.

“Através da minha gastronomia, eu falo do meu continente às pessoas. Muitas pessoas não conhecem nada de África. Quando você vem aqui você sabe a história africana. Você sabe a história da origem de alguns pratos. A gastronomia é a ponte adentro África e o Brasil. E não é só Brasil, mas todo mundo que mora no Brasil que não conhece África, venha aqui aprender África através da gastronomia. Aqui você vai aprender sobre a comida, você vai aprender sobre a cultura, você vai aprender sobre amabilidade, você vai aprender sobretudo sobre África.”

Das mãos do cozinheiro camaronês, pratos com batata, banana da terra, boldo do Chile, pasta de amendoim, são servidos diariamente no almoço e jantar. Para a rádio Brasil de Fato, o chef Sam passa a receita do pile de pomme. Um prato simples e típico do oeste dos Camarões feito de batata, feijão e azeite de dendê: 

"Então como é: vamos pegar a batata, tirar a pele da batata, colocar na água, cozinhar normal. Aí cozinhar feijão. Aqui o feijão que uso é o feijão de bolinha roxo, é muito saboroso. Então batata, tirar pele batata, picar, por um pouco de água, colocar um pouco de sal, cozinhar. E depois quando a batata já está cozida, esse feijão já tá cozido, misturar batata e feijão, amassar com o pilão. Primeiro tem que amassar a batata, porque o feijão não pode ser amassado. Se não o feijão some dentro da batata. Aí coloco azeite de dendê e algum tem perinho e já era. É um prato estupendo.” 

Para quem não come carne, há também no cardápio do imigrante africano opções de pratos feitos de carne de jaca e tofu. O restaurante Mamma África funciona na capital paulistana de terça a domingo, para almoço e jantar, na rua Cantagalo, nº 230, no bairro do Tatuapé.

Edição: Camila Salmazio