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Programa Bem Viver: ‘precisamos mobilizar população por reformas estruturais’, diz Stedile

O economista João Pedro Stedile defende que, após Bolsonaro, será preciso pensar em um ‘novo projeto de país’

Ouça o áudio:

"A crise brasileira é estrutural, ultrapassa esse governo", diz Stedile - Rafael Stedile
Reformas dependerão da capacidade da população lutar por seus direitos

Após do fim do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) o país precisará de mais do que um governo progressista para avançar em pautas sociais. Será necessário mobilizar a população “em torno de um novo projeto de país”, que preveja reformas estruturais para combater a pobreza, a concentração de terras e a especulação do mercado financeiro. Essa é a opinião do economista e membro da diretoria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, em conversa ao BdF Entrevista, repercutida na edição de hoje (1) do Programa Bem Viver.

“O importante é entender que a crise brasileira é estrutural. Ela ultrapassa o período dessa conjuntura e desse governo. Temos que pensar depois do Fora Bolsonaro, em mudanças estruturais que consigam garantir bem-estar para a população”, disse. “Precisamos de um programa de reindustrialização e de concentração de investimentos na agricultura familiar, eixos para o desenvolvimento do país.”

:: "Brasileiros passam fome porque não têm renda, não por falta de produção", diz Stedile ::

Sobre a possível candidatura do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2022, Stedile acredita que será necessária mais que uma legitimação nas urnas para garantir desenvolvimento para o país.

“Deveríamos aproveitar o 2022 para fazer grande campanha nacional que mobilize a população para discutir novo projeto de país, que realize as reformas estruturais necessárias. Não é possível colocar o Brasil nos trilhos sem controlar o capital financeiro, as transnacionais e sem ter um imposto sobre as grandes fortunas”, pontuou. “Essas reformas não dependerão da boa vontade de Lula, mas da capacidade da população de entender suas necessidades e lutar por elas.”

Para Stedile, um dos problemas mais graves enfrentados pelo país atualmente é o crescimento da fome. São 84 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, segundo dados recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

“Chegamos ao ponto de um país continental, grande produtor de alimentos, ter milhões de pessoas passando fome porque não têm recursos para comprar comida no supermercado ou na feira”, lamentou. “O país vive um grave momento. A renda está cada vez mais concentrada o que aprofunda a tragédia social da desigualdade. A crise jogou na sarjeta 67 milhões de trabalhadores. São os 14 mi de desempregados, os 6 milhões que já não procuram mais emprego e 40 milhões que não tem trabalho permanente, sem renda fixa, sem direitos, fora da cidadania.”

Atos de 7 de setembro

A 14ª Vara da Fazenda Pública reforçou que a realização do ato “Fora Bolsonaro” em 7 de setembro, na capital paulista, é constitucional e não deve ser impedida. O governador de São Paulo, João Dória (PSDB), havia proibido o protesto de grupos progressistas alegando questões de segurança, porque uma manifestação favorável ao governo está marcada para o mesmo dia, na avenida Paulista.

Na decisão, o juiz Randolfo Ferraz de Campos pontuou que nenhum agente público tem prerrogativa de proibir eventos dessa natureza e que a Constituição prevê o direito ao protesto. O parecer foi publicado em resposta a pedido de limitar impetrado por sindicatos para garantir a realização do ato. Na semana passada o mesmo juiz já havia autorizado as manifestações.

A polêmica havia sido reforçada por conta de outra decisão judicial, de junho de 2020, que determinou que manifestações pró e contra o governo não poderiam ocorrer no mesmo local e data. O juiz, no entanto, afirmou que a definição anterior não pode basear o veto das manifestações de 7 de setembro.

Os atos da campanha “Fora Bolsonaro” estão confirmados e ocorrerão no Vale do Anhangabaú, na região central de São Paulo.

Direitos indígenas

Em 10 anos, os casos de assassinatos de indígenas aumentaram 22%, segundo dados divulgados ontem (31) no Atlas da Violência 2021, produzido pelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Os dados foram colhidos entre 2009 e 2019, período em que foram registradas 2074 mortes contra indígenas.

A média de assassinatos nesta população para cada 100 mil habitantes subiu de 15 para 18,3 assassinatos, enquanto os números da população em geral tiveram recuos, passando de 27,2 para 21,7. Os dados são colhidos a partir do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde.

Especialistas teme que a aprovação do marco temporal possa intensificar a violência contra os povos indígenas. O entendimento jurídico, em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF), impõe que indígenas só podem reivindicar terras se estivessem nelas em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da constituição federal.

Para os indigenistas, a falta de leis que regulem os direitos dos indígenas e a não-fiscalização delas interfere diretamente na segurança dessas pessoas. A votação do marco temporal no STF está marcada para hoje (1). Indígenas de diversas etnias seguem mobilizados em Brasília para pressionar a Corte a não aprovar a medida.

Açúcar purgado

O Programa Bem Viver apresenta um tipo de açúcar ainda pouco popular entre a população, apesar de mais sustentável e saudável: o açúcar purgado, produzido e comercializado por pequenos produtores agroecológicos de Minas Gerais.

:: Açúcar: se for consumir, que tal apostar no tipo purgado? ::

O processo de produção do purgado envolve menos etapas, se assemelhando ao preparo da rapadura, que vem do caldo da cana-de-açúcar. A diferença é que a fervura é interrompida antes que ele endureça. O resultado é um produto mais natural e saudável, que não demanda tantos processos químicos para o refinamento, o que retira nutrientes e vitaminas do alimento.

Todas as receitas que levam açúcar refinado podem ser feitas com o purgado, mas isso não significa que o ingrediente pode ser consumido à vontade: as indicações para consumo moderado seguem as mesmas.


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Edição: Sarah Fernandes