saúde mental

Setembro amarelo: como a cultura pode ajudar no combate à psicofobia

Iniciativas pelo país buscam desestigmatizar os transtornos mentais por meio da música e das artes

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As oficinas artísticas oferecidas pelo Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira desmistificam a ideia de que pessoas com transtornos mentais são improdutivas - Angelo Koller / Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira
para combater esse tipo de discriminação, a arte é uma ferramenta poderosa

Psicofobia é uma palavra nova, mas que trata de um problema antigo: o preconceito contra pessoas que tem algum tipo de transtorno de saúde mental. Sabe aqueles comentários do tipo “depressão é frescura” ou “isso é falta de Deus no coração”? Então, são exemplos de psicofobia bem comuns no nosso cotidiano.

E para combater esse tipo de discriminação, a arte é uma ferramenta poderosa. A cantora Sabrina Mendonça da Silva fez uma música sobre esse assunto, que se chama “Psicofobia”. 

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“ A ideia veio de uma observação minha sobre como maltratam ou pessoas portadoras de sofrimento psíquico, transtornos ou deficiências mentais. Aí eu vi essas questões: uma pessoa que não fala [sobre seu sofrimento] e como isso abala a própria saúde mental dela. Tanto que pessoas com depressão, ansiedade ou qualquer transtorno mental demoram muito pra buscar ajuda". 

A arte vem como um movimento de resistência, de falar 'não vou aceitar mais uma situação de psicofobia’

Em Campinas, no interior do estado de São Paulo, as oficinas culturais fazem parte do tratamento dos pacientes de saúde mental do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira.

Silvana Borges é uma das pessoas atendidas, e a história dela mostra bem a evolução no tratamento psiquiátrico no Brasil. Ela foi diagnosticada com transtorno bipolar no fim dos anos 1980 e chegou a ficar internada em manicômio e a ser colocada em camisa de força.

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Hoje, graças à abordagem humanizada, ele pinta, escreve e é locutora – ou melhor: loucutora da Rádio Maluco Beleza. 

“É muito importante a nossa voz na rádio Maluco Beleza, já há 19 anos... eu sou uma das vozes, a primeira voz feminina. Porque nós somos o direito de voz e de fala de muitos que foram calados durante todo esse período de internação, em que muitos morreram”. 

O programa Maluco Beleza é transmitido pela Rádio Educativa de Campinas. E dá para acessar a Rádio Maluco Beleza pela internet. Para Marianne Herrera, diretora-técnica do Cândido, esse tipo de iniciativa rompe vários estigmas relacionados aos transtornos mentais. 


Silvana Borges: ela conheceu o lado mais desumano do tratamento psiquiátrico, mas hoje está realizada como pintora, poeta e radialista / Angelo Koller / Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira

“A arte tem um poder de alcance muito maior, e é muito importante que a população geral também conheça a produção desses pacientes, desmistifique que o paciente da saúde mental é um paciente improdutivo, ou não criativo.

Temos cantores, pintores. Tem o museu do Cândido, com obras reconhecidas fora de Campinas, fora até do país. Então são artistas que vão ganhando notoriedade à medida que os trabalhos vão sendo apresentados pra outras pessoas”. 

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A Silvana que o diga. Ela conta que já pegou Uber com motorista que conhecia o programa de rádio que ela apresenta. E cita o caso de um colega, para quem o trabalho na rádio teve um impacto positivo no tratamento psiquiátrico. 

“Não vou falar o nome dele, mas o diagnóstico dele é esquizofrenia. E ele não foi mais agressivo dentro da casa dele. Melhorou bastante. Então a comunicação, sim, influencia para nós”. 

Para a cantora Sabrina Mendonça da Silva, a arte é uma ferramenta de luta. 

“A arte vem como um movimento de resistência, de falar 'não vou aceitar mais uma situação de psicofobia’ ou uma situação de desrespeito, preconceito. Então a gente vê casos de pessoas que eram consideradas 'loucas' anteriormente, mas através da arte e da música apresentaram um grande potencial, como o Bispo do Rosário”. 

E se você quiser conhecer mais inciativas promovidas pelo Serviço de Saúde Cândido Ferreira, basta acessar o site candido.org.br.  
 

Edição: Douglas Matos