cultura

No Programa Bem Viver, artista Elisa Lucinda fala sobre empatia e solidariedade no Brasil

Em conversa exclusiva, Lucinda fala sobre a atual situação política do país e sobre luta anti racista e feminista

Ouça o áudio:

Atriz, escritora, poetisa e cantora, Lucinda é referência nos debates sobre gênero e relações étnicas - Divulgação/ Funarte
Estamos vendo cenas bizarras de ódio e de racismo, sem nenhum pudor

Para a artista multipremiada Elisa Lucinda, os retrocessos vivenciados hoje no Brasil tem como plano de fundo a história do país, marcada pelo colonialismo e pela violência. Ainda assim, ela defende que “mundo sempre vai para trás e para frente ao mesmo tempo” e que no geral “avançamos muito”, lembrando que a história é construída entre avanços e recuos.

As reflexões foram divulgadas durante uma entrevista para a edição de hoje (8) do Programa Bem Viver, que ouviu a atriz, escritora, poetisa e cantora após sua participação na conferência inaugural do projeto literário Diálogos Contemporâneos, que reúne intelectuais para debater temas importantes do país ao longo de novembro. Lucinda escolheu falar sobre “Empatia e Solidariedade: antídotos contra a banalização da maldade e do preconceito”.

“O mundo sempre vai para trás e para frente. Tem muita batendo um tambor que faz o país ficar retrógrado, atrasado e desmanchando feitos e tem uns pedaços da humanidade que avançam. Por exemplo, se incêndios na Amazônia estivessem acontecendo quando eu tinha 10 anos, não haveria nenhuma organização que pudesse fazer algo. Então o mundo avançou bastante”, pontou.

Lucinda é famosa por seus livros e por suas atuações, já consolidadas no imaginário do grande público. Em sua trajetória, ela foi reconhecida diversas vezes em premiações nacionais, como o Festival de Cinema de Gramado e o Troféu Raça Negra. Hoje ela é considerada referência nos debates sobre gênero e relações étnicas, usando suas obras para denunciar injustiças e fortalecer a luta anti racista e feminista.

“No Brasil parece que a gente abriu a porta do inferno. Estamos vendo cenas bizarras de ódio e de racismo, sem nenhum pudor. Mas acho que nossa democracia e nossa evolução como povo mudou de fase”, disse. “Ninguém inventou essa gente. Ela é fruto real do colonialismo brasileiro e da nossa história, que se desenvolveu com muita violência. Essas pessoas sempre existiram e nós, pretos, estamos falando delas a muito tempo.”

Crime de Mariana: 6 anos depois

Neste mês completam seis anos do crime cometido pelas mineradoras Vale, Samarco e BHP na cidade de Mariana, em Minas Gerais. Em novembro de 2015, a barragem de fundão se rompeu, despejando uma avalanche de lama que matou 19 pessoas e causou o maior dano ambiental da história do país. O resíduo tóxico chegou até o mar, percorrendo boa parte do Rio Doce.

As comunidades que vivem no entorno, que reúnem pelo menos 1,5 milhão de pessoas, foram gravemente prejudicadas. Muitas das áreas ocupadas por famílias de pequenos agricultores se tornaram completamente improdutivas, tirando delas a fonte de renda.

Até hoje, nenhuma das empresas foram punidas pelo caso. O processo corre como crime de inundação e não de homicídio ou lesão corporal, o que o impede de ir a júri popular. Ainda assim, movimentos populares reúnem diversas denúncias sobre o caso.

Um deles é o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que denuncia que milhares de pessoas afetadas não recebem nenhum tipo de auxílio. Segundo o movimento, grupos técnicos independentes, que deveriam medir os impactos, não tem autonomia para isso e o sistema de indenização adotado pela Justiça privilegia as mineradoras.

O último final de semana foi marcado por protestos contra as empresas. Ainda na sexta-feira (5) pelo menos 500 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ocuparam a entrada da mineradora Samarco, em Mariana. A ação foi organizada junto com o Levante Popular da Juventude e o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).

Os manifestantes levavam cartaz com dizeres como “o lucro não vale a vida”. O objetivo era denunciar o modo de operação do ramo minerário, que na opinião dos movimentos pode ser traduzido como “modelo da morte”.

Semana de Arte Moderna

No ano que vem se completam 100 anos da Semana de Arte Moderna, que consolidou o início do Movimento Modernista Brasileiro. O evento ocorreu de 11 a 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, e reuniu nomes importantes do movimento, como os autores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e a pintora Anita Malfatti.

Em homenagem ao centenário, a professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Eneida Maria de Souza lançou a coletânea “Narrativas Impuras”, que reúne ensaios críticos autorais publicados nos últimos 20 anos e expõe novas reflexões sobre o movimento modernista e a cultura brasileira. Ela é conhecida nacionalmente como pesquisadora e especialista da obra de Mário de Andrade.


Programa Bem Viver é transmitido diariamente na Rádio Brasil Atual, a partir das 11h / Brasil de Fato

Sintonize

O programa vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo.

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS) e Rádio Cantareira (SP).

A programação também fica disponível na Rádio Brasil de Fato, das 11h às 12h, de segunda a sexta-feira. O programa Bem Viver também está nas plataformas: Spotify, Google Podcasts, Itunes, Pocket Casts e Deezer.

Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o programa Bem Viver de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para fazer parte da nossa lista de distribuição, entre em contato pelo e-mail: [email protected].

Edição: Sarah Fernandes