Trabalhar com educação popular realmente é um desafio
Seus pais tiveram a oportunidade de fazer uma graduação? Seus avós? Ou mesmo você? Sua resposta pode até ser sim, mas a de muita gente no Brasil ainda é não. Toda a estrutura social do país faz com que, para uns, esse acesso seja fácil e, para outros, não. Se por um lado há aquele estudante de escola particular, que termina o ciclo básico e tem possibilidade financeira para pagar cursinhos preparatórios, por outro há os que esbarram na realidade de ter que buscar emprego enquanto tentam não desistir do sonho de estudar.
E foi pensando em democratizar o acesso à universidade que o Levante Popular da Juventude, junto com professores voluntários, construíram a Rede Podemos+, uma rede de cursinhos populares que atua em nível nacional desde 2017 e que chegou também em Pernambuco.
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Andreia Lopes, integrante do Núcleo Político Pedagógico da Rede Podemos+ em Pernambuco, fala que a atuação da rede ainda vai além. "A Rede vem com o objetivo não só de facilitar o ingresso na universidade, mas também o acesso à educação e à outros espaços onde normalmente alguns jovens são privados", explica.
No estado, a primeira turma foi iniciada no Morro da Conceição, bairro do Recife, em 2019. Desde então, o cursinho popular chegou também em Garanhuns, no Agreste, com duas turmas, e com a expectativa de dar início a uma turma no município de Correntes.
Foi aí que começou a pandemia e o cursinho popular teve que, junto com toda a rede educacional, enfrentar os desafios do EAD: a distância, a falta de equipamentos, o difícil acesso à internet e o cansaço das telas, tanto por parte dos alunos, quanto dos professores. Já indo pra dois anos de pandemia, a evasão também aumentou um pouco.
Mesmo assim, as aulas continuaram, dessa vez em uma turma estadual, já que o online não colocava mais a barreira geográfica. A rede atua sob a perspectiva da educação popular, um movimento pedagógico e político que, aqui no Brasil tem como uma das principais referências o educador Paulo Freire.
Andreia relata o desafio que tem sido trabalhar sob essa perspectiva. "Trabalhar com educação popular realmente é um desafio maior do que trabalhar nos outros métodos. Na educação popular a gente tem muito isso do presencial, de trazer histórias, exemplos do cotidiano, acionar isso, né? Relacionar à nossa vida e uma didática diferente, uma metodologia de ensino diferente", conta. Ainda assim, os professores voluntários têm feito o possível.
Uma forma encontrada pela rede de estreitar esse vínculo foi envolver todo mundo nas ações de solidariedade durante a pandemia.
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"A gente tentou envolver os estudantes e os educadores também nas campanhas que se iniciaram sobre solidariedade, especificamente a campanha Mãos Solidárias", relembra. Ela cita que os estudantes participaram das ações construídas nos territórios, como no Morro da Conceição; estudantes presentes nas turmas de Agentes Populares da Saúde; e que participaram da montagem e distribuição de cestas básicas. "A gente sempre tentou envolver até pra fortalecer esse vínculo que já era fragilizado no online", enfatiza.
A pandemia, junto a um governo neoliberal que não prioriza a vida, impôs um cenário de muito medo, angústia e desmotivação. Mas como bem colocou Paulo Freire, não se pode perder a capacidade de imaginar outros mundos possíveis. Por isso, os cursinhos populares atuam num gesto de “esperançar”: onde, mesmo em meio às dificuldades, a ação é ponto-chave e a educação uma ferramenta na luta pela transformação social.
Para conhecer mais sobre a Rede Podemos+, acompanha no Instagram: @cursinhospodemosmais e @cirandapopular para acompanhar o núcleo de Pernambuco.
Edição: Vanessa Gonzaga