contra latifúndios

Inseparáveis: arte e reforma agrária são aliadas para um sociedade mais justa e saudável

Artistas explicam as relações entre as duas áreas como essenciais nas expressões que perpassam gerações

Ouça o áudio:

Diversos artistas se apresentaram na IV Feira Nacional da Reforma Agrária - Gabriela Moncau
As monoculturas são muito maléficas

A reforma agrária e a arte reinventam o mundo. É assim que a artista Gue Oliveira, do grupo As Cantadeiras, vê a importância entre essas duas áreas que, na luta popular, perpassam gerações.

"A arte cumpriu e cumpre um papel fundamental na resistência e na luta e a arte e está intrínseca luta. A primeira coisa que fazemos quando realizamos uma ocupação é cantar. Cantamos, soltamos foguete. O cantar é uma forma de resistência do povo permanecer", conta Guê. 

Há décadas artistas de diversos setores vêm pautando mudanças estruturais na sociedade em defesa do direito à terra e pela diversidade de culturas.

"As monoculturas são muito maléficas. Às vezes temos uma vasta extensão de terra que produz só cana, outro lugar que só produz laranja, outro lugar que só produz soja transgênica. Precisamos que essa produção de várias coisas várias se misturem tanto na arte quanto na terra. Nós precisamos ter a produção dos quilombolas, dos indígenas, a produção LGBTQIA+, das mulheres, das mulheres negras, etc", defende o cantor e compositor Chico Cesar.

Neste sentido, Carla Loop, da direção nacional do Coletivo de Cultura do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), destaca a importância de eventos como a Feira Nacional da Reforma Agrária, realizados pelo Movimento. 

"Há um encontro de artistas com os sem terra na Feira, como um demonstração que vamos beber dos postulados de Paulo Freire, que afirma que fazer arte é uma forma de fazer política", defende Carla.

Presente na edição de 2023 da Feira Nacional da Reforma Agrária, o cantor e compositor Johnny Hooker defende o espaço como forma lutar contra a ignorância.  

"A arte e a reforma agrária se relacionam na luta, são duas causas de resistência, principalmente num país que é um grande latifúndio como o Brasil. Foi formado assim, então o latifúndio e a religião não quer pensamento, não quer luta popular, eles querem manter o poder deles e querem perpetuar o poder deles ade infinito. E a arte e a luta pela pela sociedade estão juntas em um papel contra isso, contra a ignorância, para abrir a cabeça, abrir o pensamento. Então acho que é isso, a luta social e arte sempre tiveram juntas", afirma Johnny.

:: Uma ideia na cabeça: boné do MST ganha cada vez mais adeptos e é sucesso de vendas ::

Nos 40 anos do MST, vários artistas, de diversas linguagens, entraram na trajetória de luta pela Reforma Agrária e pela construção de um modo de vida mais justo em todos os territórios do país. Um exemplo foi a produção do trabalho Terra, em 1997, pelo fotógrafo Sebastião Salgado e pelo cantor e compositor Chico Buarque.

"Acho que essa demonstração de que em todas as áreas das artes há essa possibilidade, há essa necessidade de encontro, do campo com a cidade, com a arte, com a cultura. Isso produz um caldo que ajuda a pensar no novo e isso é muito atual. Nós vivemos essa crise de como é que as pessoas se encantam pela política de como participam para pensar em fazer mudança na sua realidade no Brasil, ou no mundo. E a arte provoca esse pensar diferente", defende Carla.

Edição: Daniel Lamir