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Feriados nacionais foram criados por idolatria a militarismo e elites brancas, diz historiadora

Wlamyra Albuquerque, da UFBA, pede que sociedade e Estado exerçam um olhar crítico e antirracista para marcos do país

Ouça o áudio:

Exposto no Museu do Ipiranga, em São Paulo, quadro “Independência ou Morte!”, de Pedro Américo, impõe um Dom Pedro heroico ao 7 de setembro - Rovena Rosa/Agência Brasil
Qual é a memória nacional que a gente constrói na sociedade brasileira?

Que história os livros de História contam sobre o Brasil? O questionamento é da professora Wlamyra Ribeiro de Albuquerque, pesquisadora que atua no Departamento de História da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

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Especialista em emancipação, abolição, racialização e pós-abolição no Brasil, Albuquerque é uma referência no movimento de historiadores que reivindica a participação da população negra nos livros didáticos no país.

Ela é autora de seis livros sobre o tema, um deles, Uma história da cultura afro-brasileira, foi vencedor do Prêmio Jabuti, em 2010, na categoria livro didático e paradidático. A obra foi escrita com Walter Fraga Filho e publicada pela Editora Moderna.

“Eu não aposto no apagamento da memória como uma forma de resolver os nossos problemas. Eu acho que ao invés de apagar o 7 de setembro ou diminuir a importância dele no calendário nacional, a gente precisa redefinir o que essa data significa”, argumenta a historiadora.

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Albuquerque é doutora em História Social da Cultura pela Universidade Estadual de Campinas e realizou pós-doutorado, na modalidade Estágio Sênior, no Latin American Studies/ Harvard University, entre 2015 e 2016.

Além do feriado da independência, a professora provoca uma reflexão em datas como o 15 de novembro, dia da proclamação da República, 13 de maio, promulgação da Lei Áurea, e 2 de julho, data reconhecida como o dia da independência do Brasil na Bahia”.

“São situações que a gente [deveria] parar para pensar e colocar em cima da mesa qual é a memória que a gente constrói sobre nós mesmos”.

“Qual é a memória nacional que a gente constrói na sociedade brasileira? E por que, em muitos momentos, a questão militar, a ideia de um projeto nacional muito homogeneizado atrelado às elites é sempre reafirmado nessas datas do calendário nacional?”, questiona a Albuquerque.

Para a historiadora é preciso que estas datas sejam vistas numa perspectiva antirracista, e não cabe mais apenas ao movimento negro propor essa reflexão. 

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Segundo a pesquisadora, “o Estado brasileiro passou da hora de assumir que o racismo está disseminado, ele está entranhado, ele adensou a todo o tecido do Estado e começando inclusive pelos órgãos de repressão.”
 
Como forma de reparação, Albuquerque não aposta em criar heróis nacionais, como seria o caso de Zumbi dos Palmares, líder quilombola que foi responsável por uma das principais reeleições de escravizados contra a Corte portuguesa.

Mas Albuquerque afirma que isso é uma opinião dela, por ela ser “historiadora e historiadora e não gosto muito de heróis”, afirma rindo.

“Heróis são construções dadas muito mais pelo cinema e pela cinematografia estadunidense, do que exatamente por historiadores. Historiadores não são muito feitos a heróis, a gente lida com a condição humana. Então, eu acho que a gente tem que parar para pensar em outros sujeitos que são importantes para refletir sobre os projetos nacionais”.

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“Então, é pensar sobre como personagens populares também podem construir um projeto de Brasil que seja mais igualitário e, ao invés de torná-los heróis”.

Além dos livros acadêmicos, Albuquerque carrega no currículo uma obra destinada ao público infantil. O que há de África em nós foi lançado em 2013 em coautoria com Walter Fraga Filho, ilustração de Pablo Mayer e editado pela Moderna.

 “Eu sou mulher negra, cresci sem ter referências na escola sobre sobre o que é que havia de África em mim, então eu acho que foi muito legal poder dizer para as outras crianças, tanto crianças negras, mas também crianças não negras, sobre o que todos nós temos do continente africano”

Questionada se há um herói no livro, a professora é objetiva.

“Eu acho que o herói é o quem lê, o herói é aquele que vai pegar toda essa produção, remexer nele, encarar e discutir, debater e em algum momento dizer se isso me serve ou isso não me serve. Eu acho que o herói é aquele que questiona a ordem do mundo, a ordem das coisas também”.


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Edição: Rodrigo Durão Coelho