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Rap, forró, rock: como a música gospel transita entre estilos e combate conservadorismo cristão

Pesquisadora publica livro que explica a diversidade do gênero musical e sua capacidade de influenciar o público

Ouça o áudio:

Número de evangélicos no Brasil, hoje, é estimado em aproximadamente 30% da população - Rovena Rosa/ Agência Brasil

"Ele tem direito de viver e ser quem escolheu
Se nem Cristo julga, então quem sou eu?"

Com mais de 11 milhões de visualizações no Youtube, a música Rolê da Consciência, do rapper Pregador Luo, denuncia casos de violência que envolvem homofobia e racismo. A canção, lançada em maio de 2016, mostra a diversidade que o gênero gospel adquiriu no Brasil nos últimos anos.

"E no caminho nós trombamos aquele outro irmão
Sentado num canto chorando baixo o pranto da decepção
Seu salário é menor só porque é negrão"

"Essa música foi um dos focos da minha pesquisa do meu doutorado", conta a jornalista Olívia Dias, que lançou recentemente o livro Música Gospel: disputas e negociações em torno da identidade evangélica, pela editora Papéis Selvagens.

Em entrevista ao programa Bem Viver desta segunda-feira (5), a pesquisadora explica que "hoje, a música gospel não é homogênea, ela é, na verdade, formada por diversos subgêneros, rap, forró, sertanejo, rock, enfim", afirma a jornalista que integra a coordenação executiva do coletivo Intervozes.

Para exemplificar o potencial dessa diversidade, ela cita o caso de Pregador Luo, artista paulistano que lava constantemente para suas músicas debates raciais.

"Nas principais igrejas evangélicas, em geral, é um tema muito silenciado [o racismo]. Essa ideia de que existe uma comunidade de cristãos e que o racismo não estaria presente nessa comunidade de cristãos porque terem todos iguais. Inclusive a ideia da miscigenação, o mito da democracia racial, também presente nessa negação dessas igrejas de tratar esse tema", afirma.

Outro caso famoso de artista gospel que une música com ativismo social é Priscilla Alcântara, que recentemente anunciou sua saída do segmento.

Com parcerias recentes com Emicida e Bonde do Tigrão, seus vídeos ultrapassam facilmente um milhão de visualizações. É o caso de Espírito Santo, que tem mais de 30 milhões.

"Ela era uma cantora gospel e deixou de cantar música religiosa para investir na carreira pop. Mas antes ela já tratava questões de gênero na música, nos clipes e até na opinião que ela traz pro espaço público", comenta Bandeira.

Segundo a pesquisadora, a origem dessas viralizações do gospel esta amarrada a uma estratégia de marketing de grandes igrejas evangélicas, que desde os anos 1990 investem fortemente em comunicação, como faz Edir Macedo, fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário do Grupo Record.

Olivia Bandeira lembra que, no início, as igrejas eram as responsáveis pelo sucesso desses artistas. “Tudo começa como estratégia de mercado, de marketing, mas a competição com as gravadoras seculares, Sony, Universal, faz com que a coisa transcenda”.

Uma das empresas mais antigas do ramo, com atuação exclusivamente para o público evangélico, a MK Music foi fundada em 1987 e afirma conquistar mais de 16 milhões de pageviews por mês na sua página.

"Quando você estuda o rap gospel, por exemplo, ele também já foi gravado por gravadoras religiosas, que também está lá participando da Marcha para Jesus. Acontece que o rap gospel trata de questões, por exemplo, de questões do racismo, violência policial, periferização das cidades", comenta a pesquisadora.

A proliferação da música gospel, atingindo diferentes públicos, é vista por Bandeira como uma maneira de formar novas "lideranças" dentro do mundo evangélico, o que, segundo ela, é importante para que os crentes tenham outros exemplos.

"O consumidor [de música gospel] consegue articular sua religiosidade sem negar sua origem étnica, sua sexualidade, suas outras identidades. Muitas vezes o consumidor consegue vivenciar sua religiosidade por sua música, às vezes é negada dentro da igreja".

Segundo Bandeira, é comum as pessoas refletirem: "somos evangélicas, mas somos evangélicos negros, evangélicos de periferia".


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Edição: Matheus Alves de Almeida