MORAES VIVE

'A gente se torna amigo da saudade', diz filho de Moraes Moreira sobre álbum lançado em homenagem ao pai

'Moraes É Frevo' reúne artistas nacionais e clássicos do músico integrante dos Novos Baianos, que faleceu em 2020

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Capa do álbum Moraes é Frevo, um dos lançamentos mais aguardados do ano - Divulgação
Meu pai compôs mais de 30 músicas em homenagem a Pernambuco e ao frevo

Com Criolo, Céu, Agnes Nunes, Maria Rita e Lenine, o disco Moraes é Frevo chega como um cartão de visitas para o carnaval de 2024.

A obra, lançada no final de janeiro, é resultado da parceria dos filhos de Moraes Moreira, Davi Moraes e Maria Cecília Moraes, que realizaram o trabalho para homenagear o pai que faleceu em 2020.

Junto da família, o álbum conta com produção e arranjos do músico Pupilo. A banda que dá suporte para todo o álbum é a Orquestra Frevo do Mundo.

Festa do Interior, Pombo Correio, Preta Pretinha, Eu Sou o Carnaval, Pernambuco Meu e Coisa Acesa são alguns dos clássicos consagrados pelo cantor baiano revisitados por artistas, na maioria, de uma geração mais nova que Moraes.

"Às vezes a gente mandava já a música para um artista e era certeiro, assim. E às vezes quando a gente contactava alguém, a pessoa já falava 'não, eu quero cantar essa, eu quero cantar aquela', como foi o caso de Agnes Nunes, que escolheu Coisa acesa", descreve Davi Moraes.

Segundo Davi, a inspiração para o disco começou ano passado, durante turnês que realizava com Pupilo, músico que integrou a Nação Zumbi e já produziu artistas como Erasmo Carlos.

Davi conta que durante as viagens, conversando com Pupilo "eu descobri que ele [Pupilo] é um profundo conhecedor e admirador da obra do meu pai. E eu contei como meu pai admirava a revolução que eles fizeram com a chegada da Nação Zumbi".

Moraes Moreira foi um dos responsáveis pela fundação do grupos Novos Baianos, responsável pela composição de músicas como Preta Pretinha, Mistério do Planeta e A Menina Dança.

Todos compõe o álbum Acabou Chorare, lançado em 1972 e tido até hoje com uma das maiores obras da música brasileira por críticos.

"Eles [Novos Baianos] não tomavam conhecimento de briga, da guitarra elétrica, com a bossa nova, com não sei o que. Eles, na verdade, a natureza deles era juntar tudo isso", comenta Davi.

Embora Moraes Moreira seja muito lembrado pela época de Novos Baianos, a maior parte da carreira ele esteve em carreira solo, e não dedicado ao samba.

No final da década de 1970, o grupo se diluiu, voltando a se reunir esporadicamente para shows, como até hoje acontece com Baby Consuelo, Pepeu Gomes e Paulinho Boca de Cantor.

Com o afastamento do grupo, a partir de 1980, Moraes Moreira se dedicou muito ao frevo e a um projeto incubado ainda na época em que os Novos Baianos se reuniam: o carnaval.

Moraes Moreira é tido por alguns críticos como o primeiro cantor de trio elétrico do Brasil. Ele foi um dos responsáveis por experimentar guitarra no frevo, gerando um ritmo conhecido como "frevo trieletrizado".

É desta época que surgem canções, até hoje, clássicas de carnaval, como Pombo Correio e Coisa Acesa.

"Meu pai foi nomeado cidadão do Frevo, recebeu esse título lá na cidade do Recife", lembra Davi. "Ele compôs mais de 30 músicas em homenagem a Pernambuco e ao frevo em específico".

Moraes é Frevo é apenas o início, confidencia Davi. Segundo o filho, ele e a irmã foram "engolidos por uma onda", ao revisitar a obra do pai e se sentem na obrigação de seguir o legado.

"Ele foi um pai muito presente, atencioso. Sempre estivemos juntos com ele durante apresentações. E o violão dele não parava", destaca Davi.

"A gente se torna amiga da saudade", finaliza Davi sobre a emoção de lançar o álbum em homenagem ao pai.

 

Edição: Nicolau Soares