ANÁLISE

Bombardear consulado era armadilha de Israel para atrair ataque do Irã, diz Reginaldo Nasser

Professor da PUC-SP aponta que outros países árabes querem evitar tomar parte na recente escalada de tensão regional

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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O ataque iraniano foi resposta ao bombardeio de seu consulado na Síria por Israel, que matou 11 pessoas há duas semanass - AFPTV / AFP

A ação bélica do Irã contra Israel neste fim de semana em retaliação à destruição de seu consulado em Damasco, na Síria, elevou a tensão no Oriente Médio e preocupa autoridades internacionais. No sábado, o lançamento de mais de 300 drones e mísseis ao território israelense provocou diversas explosões. Alguns drones foram derrubados pelas forças de defesa de Israel, pelos Estados Unidos, pelo Reino Unido e pela Jordânia antes de chegarem ao espaço aéreo israelense.

O ataque foi uma resposta do Irã após Israel destruir o consulado iraniano na cidade de Damasco em 1º de abril. Uma reunião do Conselho de Segurança da ONU aconteceu neste domingo após pedido de Israel, que pretende lançar um contra-ataque.

Os países trocaram acusações e cobraram sanções um ao outro durante a reunião das Nações Unidas, que terminou sem qualquer acordo. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deixou claro ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que o país norte-americano não vai apoiar uma possível contra-ofensiva. Para comentar o assunto o programa Central do Brasil desta segunda-feira (15/04) conversou com Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

O ataque do Irã foi uma grande surpresa para o mundo inteiro, afirmou Nasser. "Não é do feitio do Irã fazer isso e já se sabia que era uma armadilha de Israel. Israel, como foi mostrado, atacou a embaixada do Irã. A embaixada é um lugar sagrado. Atacou matando várias pessoas, só que depois dessa impressão inicial de que o conflito iria se escalar foram aparecendo informações de bastidores que o Irã informou antes a Turquia, que passou para os Estados Unidos, que passou para Israel que haveria o ataque. Foi um ataque 'controlado'."

Diante disso, "o gabinete de Israel está dividido", diz Nasser. "Aqueles membros mais à direita querem ir para o ataque, mas parece que Joe Biden teve uma conversa no telefone com Netanyahu e o desaconselhou a fazer isso e afirmou que os Estados Unidos vai colocar todas as suas forças para ajudar Israel a se defender, mas não para atacar."

Ele destaca que a Jordânia imediatamente saiu a favor de Israel, inclusive interceptando mísseis do Irã, diferente da Arábia Saudita e do Egito, o que indica um apoio menor dos países árabes à Israel. "Até o dia 7 de outubro, quando houve o ataque do Hamas, os Estados Unidos e Israel estavam fazendo todos os esforços para trazer a Arábia Saudita para aquele grande acordo, que é chamado a acordo de Abraão, feito pelo Trump que articulou todos esses países árabes com Israel. Arábia Saudita pulou fora embora tenha bom relacionamento com os Estados Unidos e o outro fato é importantíssimo foi a distensão entre Arábia Saudita e Irã. Então os dois maiores inimigos da região entraram num acordo patrocinado pela China distendendo as suas tensões."

Segundo o professor, a nota da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes e das monarquias do Golfo coloca calma na situação. "O Egito também está nesse momento muito receoso, evitando se comprometer, então Israel hoje não tem esse apoio que teria em outros momentos desses aliados árabes que estão do lado dos Estados Unidos e também volta e meia estavam em tensão com o Irã. De uma forma geral os conflitos entre os estados no Oriente Médio, com exceção de Israel, rebaixaram o seu nível de tensão.”

A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta segunda-feira (15) do Central do Brasil, que está disponível no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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Edição: Matheus Alves de Almeida