Comparado com Hitler

Netanyahu diz que Lula 'cruzou a linha vermelha' e convoca embaixador brasileiro para reprimenda

Premiê israelense se manifestou no X após presidente comparar massacre em Gaza a perseguição de Hitler a judeus

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu durante coletiva de imprensa em Haifa, Israel, em 2017 - Sean Hurt / U.S. Navy

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou neste domingo (18) que o presidente Lula cruzou a "linha vermelha" ao comparar a atuação militar de Israel na Faixa de Gaza com o massacre promovido pelo governo de Adolf Hitler contra os judeus na Alemanha nazista e determinou a convocação do embaixador brasileiro em Israel para uma "dura conversa de repreensão" nesta segunda-feira (19). 

"As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender. Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar uma linha vermelha. Israel luta pela sua defesa e pela garantia do seu futuro até à vitória completa e o fará ao mesmo tempo que defende o Direito Internacional", afirmou o primeiro-ministro em seu perfil oficial no X/Twitter neste domingo (18). 

A manifestação de Netanyahu é uma resposta à fala de Lula durante uma coletiva com jornalistas nesta manhã na Etiópia, onde o presidente estava cumprindo agenda até este domingo. Na ocasião, Lula comparou o massacre promovido por forças israelenses na Faixa de Gaza à perseguição de Hitler aos judeus na época da Segunda Guerra Mundial.

"Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus", afirmou o presidente antes de deixar a Etiópia, país onde ele participou da 37ª Cúpula da União Africana. O presidente retorna neste domingo para o Brasil. 

Israelenses atacam hospital 

A fala de Lula ocorre após uma nova onda de ataques das forças militares israelenses contra a precária estrutura hospitalar na Faixa de Gaza. Em uma ofensiva para, supostamente, capturar terroristas, as forças israelenses invadiram na quinta-feira, (15) o hospital Nassar, o segundo maior da região sul de Gaza. 

Com a invasão, foi cortado o suprimento de oxigênio do local e pelo menos cinco pacientes morreram devido a falta de oxigênio. Em uma postagem em seu perfil oficial no X/Twitter neste domingo, o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, disse que o hospital não está funcionando mais. 

"O hospital Nasser em Gaza não funciona mais, depois de um cerco de uma semana seguido de um ataque contínuo. Tanto ontem como anteontem, a equipe da OMS não foi autorizada a entrar no hospital para avaliar as condições dos pacientes e as necessidades médicas críticas, apesar de chegar ao complexo hospitalar para entregar combustível junto com parceiros", disse o diretor da OMS. 

O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos afirmou que a operação no hospital Nasser parece ser "parte de um padrão de ataques das forças israelenses contra infraestruturas civis que são essenciais para salvar vidas em Gaza, em particular hospitais".  

A situação na Faixa de Gaza foi o principal tema da viagem de cinco dias de Lula, primeiro ao Egito e depois a Adis Abeba. Segundo a Folha de S. Paulo, no sábado (17) o presidente teve um encontro bilateral, às margens da cúpula da União Africana, com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh, no qual ouviu de seu interlocutor que a situação em Gaza configura um genocídio.  

Biden defende cessar-fogo imediato  

 Na sexta-feira, (16), o presidente dos Estados Unidos e principal aliado de Israel, Joe Biden, defendeu um cessar-fogo imediato na região para que pudessem ser retirados os reféns do território palestino. 

"Defendo firmemente a ideia de que deve haver um cessar-fogo temporário para tirar os prisioneiros, para tirar os reféns", disse Biden na Casa Branca. O presidente acrescentou que teve conversas "exaustivas" com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sobre esse assunto e que as negociações estão "em andamento".  

Ao longo da semana passada, representantes dos mediadores do conflito – Estados Unidos, Catar e Egito – se reuniram no Cairo para tentar alcançar um acordo que inclua a interrupção dos combates e uma troca de reféns do Hamas por prisioneiros palestinos detidos em Israel.  

Na quinta-feira, (15), Turquia e Egito manifestaram conjuntamente um pedido de cessar-fogo imediato, assim como o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou os ataques israelenses e afirmou que "não tem nenhuma explicação o comportamento de Israel, a pretexto de derrotar o Hamas, estar matando mulheres e crianças, coisa jamais vista em qualquer guerra que eu tenha conhecimento".  

Depois que o jornal The Washington Post informou que vários países, incluindo os Estados Unidos – principal aliado político e militar de Israel– estão trabalhando em uma proposta para um plano de paz duradouro que aborda o reconhecimento do Estado palestino, Netanyahu se pronunciou contra essa medida e afirmou não ter recebido "nenhuma proposta nova" do Hamas sobre a libertação de reféns. 

Edição: Thalita Pires