Rio de Janeiro

ENTREVISTA

“Se fizer campanha ampla e de unidade, Freixo se elege governador do Rio”, diz Quaquá

"Estamos dispostos a enfrentar e a derrotar a direita no RJ"

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
"A resposta da esquerda no Brasil e no Rio tem que ser muito grande", comentou Quaquá sobre o assassinato de Marielle
"A resposta da esquerda no Brasil e no Rio tem que ser muito grande", comentou Quaquá sobre o assassinato de Marielle - Jaqueline Deister/Brasil de Fato

O presidente estadual do PT, Washington Quaquá, disse em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato que o partido está disposto a abrir mão de uma candidatura própria se Freixo se candidatar. "Estamos dispostos a enfrentar e a derrotar a direita no RJ", afirmou.

Na entrevista ele também fala sobre o assassinato político da vereadora Marielle Franco e o impacto desse assassinato no cenário político carioca.

Brasil de Fato: Como vê a repercussão internacional do assassinato da vereadora Marielle?

Mais que um assassinato, foi uma execução política brutal pelas circunstâncias do crime e pela expressão da Marielle: mulher, negra, de esquerda, de comunidade. Esse estado paralelo sai para assassinar todos os dias negros e pobres, mas nunca teve ousadia de assassinar uma representante política do povo. É uma ultrapassagem perigosíssima. A resposta do movimento popular e da esquerda no Brasil e no Rio de Janeiro tem que ser muito grande. E tem sido. A Marielle é um símbolo da democracia e da justiça social.

Qual o impacto desse assassinato no cenário político carioca?

Exige desprendimento e atenção dos atores da esquerda e dos movimentos populares do Rio de Janeiro. Estamos em uma encruzilhada. Precisamos evitar que não aconteça nada com os assassinos da Marielle e enfrentar o estado paralelo. Não é o moleque da Maré que anda com AR 15 que é o dono do crime, quem lucra com o crime é o fazendeiro cujo helicóptero traz a droga para o Rio, quem é sócio do crime é o cara que revende armas para os morros. Ou seja, precisamos desmontar a engrenagem que está diretamente associada à burguesia que lucra com isso. É fundamental que a reação à execução da Marielle seja coordenada.

A coluna do Paulo Capelli, do jornal O Dia, noticiou hoje que PT e PC do B abririam mão de suas candidaturas caso Marcelo Freixo (PSOL) disputasse o Palácio da Guanabara. Por que o PT está disposto a isso? Essa possibilidade se restringe apenas ao Freixo?

Não é o momento de pensar sob a bandeira partidária, do ponto de vista exclusivo. É hora de enfrentar o estado paralelo e a direita que está cada vez mais associada à intervenção militar, ameaça à democracia e ao assassinato dos representantes do povo, como é o caso da Marielle. É hora da unidade. Porque falamos do Freixo? Pois o tamanho de Tarcísio Motta (PSOL), Leonardo Giordano (PC do B) e Celso Amorim (PT) é o mesmo. Mas o Freixo é a figura de esquerda que consolidou representatividade eleitoral. Ele quase ganhou a prefeitura do Rio, só não ganhou porque no segundo turno não fez a unidade que deveria ter feito, inclusive. Ele é o nome mais consistente e que ganha o governo do estado se abrir o palanque para Lula (PT), Manuela D'Ávila (PC do B), Guilherme Boulos (PSOL) e Ciro Gomes (PSB). Se fizer uma campanha ampla e de unidade, eu não tenho dúvida alguma que o Freixo se elege governador do Rio. Talvez a gente tenha a única oportunidade de ter um cara da esquerda que tenha coragem de enfrentar o estado paralelo, a burguesia associada ao crime e passar o Rio de Janeiro a limpo.

Já houve uma conversa com o PSOL sinalizando essa unidade?

Em várias outras eleições já houve cantadas, eu mesmo já declarei em outras ocasiões o apoio ao Freixo, mas isso nunca foi levado em conta pelo PSOL. Mas vivemos uma situação excepcional: golpe de Estado, intervenção militar, tivemos uma vereadora do PSOL assassinada. Pode ser que esse estado paralelo se ache no direito de assassinar outras lideranças de esquerda, como acontece com lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Precisamos conter isso, a exigência de unidade é muito grande. Nós não procuramos formalmente, mas fizemos sinalização pública. Se o PSOL topar, nós vamos concretizar esse apoio.

Isso significa que o PT está aberto ao diálogo.

Estamos dispostos a enfrentar e a derrotar a direita, ganhar o governo do estado e a desmontar o estado paralelo. Queremos fazer uma política de segurança pública que não seja o assassinato de pobres e negros, que reforme as polícias, que pague melhores salários para os policiais e que ao mesmo tempo exija que seja uma polícia cidadã. Que desmonte os grandes donos do crime, que é a burguesia, e não a ponta, o negro e pobre da favela. Que faça política cultural, que dê renda básica para os meninos pobres terem possibilidade de não irem para o tráfico, com uma vida decente com educação e emprego. Com reforma agrária e reforma urbana, oferecendo saúde para o povo. Não tenho dúvida que o Freixo é o melhor nome para isso.

Edição: Vivian Virissimo