Paraná

RESISTÊNCIA

Casa Lula Livre abriga caravanas da resistência em Curitiba

Espaço serve como local de acolhimento a militantes que se juntam temporariamente à Vigília Lula Livre

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Já circularam pela Casa Lula Livre centenas de militantes de diferentes movimentos sociais e regiões do Brasil
Já circularam pela Casa Lula Livre centenas de militantes de diferentes movimentos sociais e regiões do Brasil - Ricardo Stuckert

Desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi preso na Superintendência da Polícia Federal (PF), há 235 dias, militantes de diversos movimentos sociais têm construído a resistência, em defesa da justiça, a muitas mãos. Do lado de fora da PF de Curitiba, um dos espaços de construção coletiva que garantem o trabalho na capital paranaense é a Casa Lula Livre.

O local fica a alguns metros de distância da PF e serve de ponto de acolhimento aos militantes que chegam em caravanas para se juntar temporariamente à mobilização da Vigília Lula Livre. Ali, mulheres e homens de diferentes movimentos sociais e estados brasileiros dormem, tomam banho e café da manhã, com pães preparados na cozinha da Casa.

Márcia da Rosa é militante do Movimento Nacional de Luta pela Moradia no Rio Grande do Sul e uma das coordenadoras do espaço. Para ela, a Casa Lula Livre e a resistência em prol da liberdade do ex-presidente são um contraponto a ideais individualistas. 

“As pessoas aprendem aqui, e saem daqui diferentes graças ao exemplo de solidariedade, do coletivo. Tudo aqui funciona no coletivo: a alimentação, a limpeza, o alojamento. Então aqui elas têm uma noção do que é viver em comunidade, mais perto das pessoas”, diz. 

A Casa Lula Livre conta com alojamentos com cerca de 60 camas, entre triliches e beliches, três banheiros, uma cozinha e espaço no terreno para barracas de camping. A organização do espaço é coletiva e as tarefas de limpeza da casa, produção dos pães e de alguns materiais de limpeza são divididas entre os militantes que coordenam a casa e aqueles que estão alojados temporariamente.

Foto: Lía Bianchini

Para Márcia, a casa é um local para encontrar “um Brasil diferente”. Ela diz já ter visto chegar ali pessoas vindas do norte até o sul do país, que voltam para suas terras deixando em Curitiba “saudades e também a esperança renovada para fortalecer a luta diária”. A militante acredita que a defesa da liberdade de Lula deve ser uma das prioridades da classe trabalhadora.

“Se não tirarmos o Lula da cadeia, nós vamos perder todos os direitos que conquistamos há 50, 60 anos. Vamos virar escravos de novo, sem condições de lutar, sem esperança”, afirma. 

Na visão da militante, a liberdade do ex-presidente só virá com “pressão popular” e, para isso, é preciso fortalecer a Vigília Lula Livre e os espaços que dão suporte à mobilização, como a Casa Lula Livre. Desde que se fixou no terreno próximo à PF, a Casa é mantida por doações monetárias, de alimentos, materiais de higiene, limpeza, roupas de cama, mesa e banho e roupas pessoais. Qualquer pessoa pode deixar sua doação na Vigília Lula Livre ou contribuir através do site.

A luta continua 

Em quase seis meses de existência, a Casa Lula Livre já chegou a abrigar de uma só vez mais de 100 militantes. Antes da caravana de Cascavel (PR), estavam alojados na Casa militantes vindos de Belo Horizonte (MG). Segundo Vicente Amorim, militante do Partido dos Trabalhadores (PT) e também um dos coordenadores do espaço, com o processo eleitoral o movimento da Casa diminuiu, pois muitos militantes tinham tarefas locais em suas regiões. 

A expectativa é que, com o passar das festas de fim ano, “quando as pessoas querem ficar com suas famílias”, o movimento volte a ser intenso. A coordenação da Casa Lula Livre pretende manter o espaço enquanto o ex-presidente estiver preso em Curitiba. 

Foto: Lía Bianchini

“O movimento sempre foi muito forte, nós nunca tivemos a Casa totalmente vazia. A gente acredita que o Lula é inocente e a gente quer sair daqui com o Lula na nossa frente. A intenção nossa é essa. Esse movimento é de resistência mesmo. Nós estamos aqui para resistir. Enquanto ele estiver lá, nós vamos estar nesse movimento”, diz Amorim. 

Dona Maria Maciel, presente!

A Casa Lula Livre, a Vigília Lula Livre e o Centro de Formação e Cultura Marielle Vive se tornaram pontos de encontro e de afetos ao redor da Superintendência da Polícia Federal. Desde o dia 7 de abril, quando começou a vigília em defesa da liberdade de Lula, centenas de militantes de diferentes organizações circulam pelos espaços que compõem a resistência no bairro Santa Cândida. 

Uma das militantes mais assíduas era dona Maria Maciel, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que desde o início das mobilizações ajudava na cozinha coletiva do Centro Marielle Vive. Nesta terça (27), dona Maria faleceu em decorrência de uma infecção generalizada iniciada no intestino. O clima na Casa Lula Livre e na Vigília era de tristeza pela perda de uma companheira. 

Lembrando de dona Maria, Vicente Amorim ressaltou a importância de cada militante que constrói os espaços de mobilização fixos no entorno da PF, lamentando que “alguns deles se vão”, mas afirmando “que a luta tem que continuar”.

Edição: Mauro Ramos