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Reunião de movimentos sociais de favelas cariocas é interrompida por oficial da PM

Plenária teve como objetivo organizar mobilização contra pacote "anticrime" e reforma da Previdência no Rio de Janeiro

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Últimos casos de violência no estado do Rio acenderam alerta para necessidade de unificação das favelas sobre o momento político
Últimos casos de violência no estado do Rio acenderam alerta para necessidade de unificação das favelas sobre o momento político - Clívia Mesquita

No Rio de Janeiro, movimentos sociais de favelas convocaram uma plenária em caráter emergencial para organizar nas periferias uma reação à reforma da Previdência e ao chamado pacote "anticrime" apresentado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro. Mais de 20 lideranças de diversas periferias cariocas estiveram na sede da Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj), no centro da cidade, na última terça-feira (19), para compor a reunião.

O início do evento foi interrompido por uma visita inédita em mais de 60 anos de existência da Faferj: um oficial da Polícia Militar questionou sobre o conteúdo da reunião na secretaria da entidade. "Fiquei muito surpreendido [com a presença da PM] porque a Faferj faz várias reuniões contra ações do governo, gritando contra intervenção, contra várias matanças do Estado, e nunca teve polícia aqui. Estamos voltando atrás e vivendo o tempo do chicote no negro, no pobre, no favelado. É outro governo que não gosta de favela e nunca foi na favela", afirmou o presidente da Faferj Rossino Castro Diniz, que está na direção da federação há mais de 10 anos.

O oficial da PM foi embora após dialogar com o presidente e fotografar a fachada e grafites no interior do prédio. "Estou muito desconfiado, pedindo aos companheiros um pouco de calma porque esse governador não respira confiança", completou Diniz. 

Alerta

Durante a reunião, Alexandre Rodrigues, conhecido como Jovem Cerebral, do Movimento Popular de Favelas (MPF) e do Movimento Popular de Juventude (MPJ), destacou que os últimos casos de violência no estado do Rio acenderam o alerta para a necessidade de unificação e entendimento do momento político. Na semana passada, Jenifer Gomes, de 11 anos, foi baleada e morreu no conjunto habitacional Bairro Carioca do programa “Minha Casa, Minha Vida”, localizado em Triagem, zona Norte do Rio. Parentes e moradores afirmam que o tiro partiu da polícia.

"As políticas neoliberais e fascistas desse novo governo federal e estadual vem atingindo as favelas e periferias não só economicamente como também as nossas vidas. Esse encontro é de entendimento entre as favelas para buscar caminhos para sobreviver e nos manter vivos”, acrescenta Alexandre.

Também na última semana, na Barra da Tijuca, na zona Oeste do Rio, um agente de segurança particular do supermercado Extra matou o jovem Pedro Henrique Gonzaga, de 25 anos, com um golpe de estrangulamento. O segurança Davi Ricardo Moreira Amâncio, de 32 anos, pode responder por homicídio doloso, ou seja, quando há intenção de matar, segundo a Polícia Civil. Outro episódio de violência que marcou o mês de fevereiro foi a operação policial nos morros do Fallet-Fogueteiro, Coroa e dos Prazeres, em Santa Teresa e no Catumbi, região central do Rio. O contexto da morte de pelo menos 15 jovens está sendo alvo de três investigações. Moradores e familiares denunciam que eles foram executados e torturados dentro de um imóvel na comunidade.

Durante a reunião na Faferj, Rodrigues alertou para as medidas de Moro que podem aumentar o índice já elevado de mortes causadas por agentes de segurança do estado. “Com a legalização isso tende a crescer e perder o rumo”, destacou. Ele também lembrou que além da segurança pública, a proposta de reforma da Previdência do presidente Jair Bolsonaro (PSL) atinge diretamente a população mais pobre. “Muitas pessoas na favela recebem o benefício de prestação continuada [do INSS], idosos que não tem aposentadoria, pessoas doentes”. 

Unidade

Tayna Senna, da direção estadual do Partido dos Trabalhadores (PT), ressaltou a importância da unidade dos movimentos populares. “A gente precisar tirar daqui ações imediatas de organização da base contra a reforma da previdência e o pacote do Moro", disse. Também estavam presentes representantes de mandatos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), do Levante Popular da Juventude, da Frente Favelas pela Democracia e do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLN). 

A Faferj tem histórico de mobilização das lideranças comunitárias na luta contra ditadura militar nos anos 1960. Também apoia projetos sociais como a “Copa das Favelas”, “Capoeira Angola”, além de cursos e seminários oferecidos, sobretudo, nas periferias onde moram as populações mais pobres do Rio de Janeiro.

Edição: Mariana Pitasse